segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

As Melhores BDs que li em 2018 - Parte 1


Para compensar a pouca actividade deste blogue nos últimos tempos, a tradicional listagem das minhas melhores leituras de BD de 2018, desta vez sai logo no início de Janeiro. Como sempre, a lista refere-se aos livros que li pela primeira vez durante o ano que passou, independentemente da sua data de publicação original, estando ordenada por ordem alfabética. Aqui ficam os cinco primeiros, de uma lista que podia perfeitamente ser diferente, pois, felizmente, 2018 foi um ano em que li muita coisa interessante. Deixo-vos com a primeira parte da lista. A segunda parte será divulgada durante a próxima semana. 

1 - Afirma Pereira, de Pierre-Henry Gomont (a partir do romance de Antonio Tabucchi), G Floy
Um excelente exemplo do que deve ser uma adaptação à BD de uma obra literária. Uma adaptação que tem em conta as especificidades de cada linguagem, respeitando o espírito da obra de Tabucchi, sem abdicar da sua individualidade. Também visualmente, Gomont consegue transmitir o contraste entre a luz única de Lisboa e o cinzentismo de um país sufocado por uma ditadura, através de um excelente trabalho de cor, utilizando a técnica da serigrafia, que se revela bastante eficaz, tal como o seu traço dinâmico e sintético, em que um registo mais impressionista no tratamento das personagens, contrasta com o rigor com que é retratada a arquitectura de Lisboa.
2 - Angola Janga, de Marcelo D'Salete, Polvo
Obra monumental sobre o célebre Quilombo de Palmares, Angola Janga relata a história deste reino africano na América do Sul construído por escravos negros fugidos dos engenhos durante o século XVII e da luta do seu principal líder, Zumbi, contra as tropas coloniais portuguesas. Projecto ambicioso e muito bem documentado, Angola Janga é claramente o trabalho da vida de Marcelo D'Salete, cujo traço peculiar, não isento de alguma rigidez em termos de movimento, serve perfeitamente as necessidades da história. Uma história muito bem contada, graças a uma planificação eficaz e ao uso de algumas soluções narrativas bem interessantes.
3 - Dampyr 222: Il Suicidio di Aleister Crowley, de Mauro Boselli e Michele Cropera, Bonelli
Juntar numa mesma história Aleister Crowley, Fernando Pessoa, H.P Lovecraft e o terramoto de 1755 parecem demasiados ingredientes para conseguir um bom resultado, mas com todos estes ingredientes Boselli constrói uma excelente história que integra com brilhantismo elementos históricos reais, como o terramoto de 1755 e o suicídio simulado de Aleister Crowley, no universo fantástico da série Dampyr, título que parece ter uma atracção especial por Portugal.
Graficamente, Michele Cropera, cujo estilo lembra Eddie Campbell, o desenhador de From Hell, mas com um traço menos rígido e com outro domínio da anatomia, faz um excelente trabalho, revelando-se rigoroso na reconstituição da Lisboa dos anos 30 e espectacular nas cenas fantásticas. Uma bela homenagem a Pessoa e a Lovecraft, que confirma a excelente qualidade média das edições da editora Bonelli.   

4 - Dylan Dog: Il Nero della Paura 12: Il Vicino di Casa e alçtri raconti, de Ruju, Ribooldi e Romeo, Bonelli
No ano de 2018, por motivos que em breve serão tornados públicos, li mais de uma centena de histórias de Dylan Dog. Histórias de tamanhos variados, que vão desde as 235 páginas de Il Peccatori di Hellborn, um dos melhores trabalhos da dupla Faraci/Roi, até às 8 páginas de algumas histórias curtas, passando pelas 96 páginas das maiorias das histórias da revista mensal. Curiosamente, duas das histórias que mais gostei, são duas histórias curtas, uma de 16 e outra de 24 páginas, publicadas as duas no mesmo número da revista Il Nero della Paura: Il Vicino di Casa e La Vicina di Casa. Duas histórias escritas por Pasquale Ruju e ilustradas respectivamente por Enea Riboldi e por Valentina Romeo, que me recordaram algumas das melhores histórias de Will Eisner, como The Story of Gerhard Shnobble, em que o Spirit é um mero figurante, completamente alheio do que se passa em seu redor. É o que se passa com Dylan Dog nestas duas histórias que se completam, protagonizadas por dois habitantes de Craven Road, que têm o azar de ser vizinhos do investigador do pesadelo. Duas pequenas pérolas, que confirmam a profunda humanidade desta série fantástica.

5 - Emma G. Wildford, de Zidrou e Edith, Soleil 
Já vai sendo tradição a presença de Zidrou nesta lista de melhores leituras do ano, mas torna-se inevitável face à qualidade do trabalho daquele que é para mim o mais interessante argumentista de língua francesa da actualidade. Neste caso, Zidrou conta-nos a demanda de uma jovem inglesa pelo marido desaparecido numa expedição ao Árctico, muito bem ilustrada por Edith, uma desenhadora de grande elegância, já habituada a desenhar a Inglaterra vitoriana, graças à série Basil et Victoria. Um belo livro, servido por uma belíssima edição, cheia de pequenos requintes, que fazem de Emma G. Wildford um belo livro/objecto.
CONTINUA...

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