GRANT MORRISON REINVENTA A ORIGEM DA HEROÍNA
NO ARRANQUE DA COLECÇÃO MULHER-MARAVILHA
Mulher-Maravilha: Terra Um
Argumento – Grant Morrison
Desenhos – Yannick Paquette
Quinta, 25 de Maio, Por + 11,90 €
Uma semana antes de chegar às salas de cinema num filme protagonizado por Gal Gadot, a primeira e a mais popular das super-heroínas, a Mulher-Maravilha é a protagonista de uma colecção de cinco volumes inéditos em capa dura que, depois da colecção No Coração das Trevas DC e tendo em conta as surpresas que este ano ainda nos reserva, confirma 2017 como o ano da editora DC em Portugal, tanto nos quiosques e livrarias, como nas salas de cinema, onde, depois da Mulher-Maravilha em Junho, chegará o tão aguardado filme da Liga da Justiça em Novembro.
Assim, nas próximas cinco semanas, os leitores vão poder descobrir os contributos de criadores como Greg Rucka, George Pérez e Phil Jimenez para a evolução da personagem, ver a Mulher-Maravilha a enfrentar um dragão numa história maravilhosamente ilustrada por Christopher Moeller e, a abrir a colecção, ver como Grant Morrison soube adaptar a origem da Princesa Amazona para o século XXI, mantendo-se fiel ao espírito do seu criador original, em Terra Um, o volume que chega aos quiosques de todo o país na próxima quinta-feira.
Integrada numa nova linha da editora DC, que dá a oportunidade a autores de renome de criarem a sua versão dos mais famosos personagens da DC, como o Batman, ou o Super-Homem, a série Terra Um, de que esta novela gráfica de Morrison e Paquette faz parte, pretende apresentar uma visão diferente dos grandes heróis da DC, em histórias autónomas, libertas dos constrangimentos editoriais das revistas mensais, dando para isso total liberdade aos criadores.
E, o mínimo que se pode dizer, é que Morrison, que investigou a fundo a obra de Marston e a história das teorias feministas, sem abdicar de algumas actualizações, como a cor da pele de Steve Trevor, que passa a ser afro-americano, consegue regressar, com Terra Um, às raízes da Mulher-Maravilha, criadas por Marston. O que não é fácil pois, tal como escreveu Kris Kristofferson a propósito de Johnny Cash na canção The Pilgrim, a Mulher-Maravilha é, como o seu próprio criador, uma “walkin’ contradiction” (uma contradição ambulante): uma guerreira pacifista, com a divina incumbência de trazer paz ao mundo dos homens, uma mulher forte e poderosa, que quer triunfar não através da força, mas da “amorosa submissão”.
Outro aspecto “delicado” a que Morrison não foge é a questão da sexualidade de Diana e das amazonas, que reflecte as próprias concepções de Marston, um psiquiatra, adepto do bondage e da submissão, que vivia numa relação poliamorosa com duas mulheres, que lhe serviram de inspiração para a criação da Mulher-Maravilha.
Mas, além da inteligência do argumento de Grant Morrison, o outro grande trunfo deste livro é o maravilhoso trabalho gráfico de Yanick Paquette, um artista que iniciou a sua carreira a desenhar histórias eróticas, o que é bem visível na sensualidade que empresta a Diana e às outras Amazonas.
O desenhador canadiano, que já tinha ilustrado nove números da revista mensal da Mulher-Maravilha, entre 1998 e 1999, volta aqui a colaborar com Morrison, com quem já tinha trabalhado em Batman Incorporated, mas desta vez sem estar sujeito ao ritmo infernal das revistas mensais, o que lhe permite experimentar em termos de composição da página, com resultados espectaculares. Veja-se a cena inicial do confronto entre Hércules e a Rainha das Amazonas, em que os motivos decorativos gregos e os frisos de cerâmica pintada dialogam com a acção a que assistimos; as fantásticas duplas páginas que mostram o esplendor da ilha das Amazonas (que aqui não se chama Temiscira, mas Amazónia); o design inovador do avião invisível (que ganha uma forma claramente vaginal…), ou o formato sempre diferente e elegantemente adequado a cada cena, que dá às vinhetas.
Publicado originalmente no jornal Público de 19/05/2017
quinta-feira, 25 de maio de 2017
Mulher-Maravilha 1 - Terra Um
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