quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Poderosos Heróis Marvel 6 - Justiceiro: A Ressurreição de Ma Gnucci


Mais uma vez, o texto editorial que abre este volume, é da minha autoria. Razão porque o aqui publico, em vez do texto do Público, que pode facilmente ser lido, bastando carregar na respectiva imagem.


O FIM DA VIAGEM

O protagonista deste volume da colecção Poderosos Heróis Marvel dificilmente se encaixa no título desta colecção, pois Frank Castle, o Justiceiro não tem qualquer poder e está claramente naquela fronteira difusa que separa os heróis dos vilões. Mas, apenas com a sua vontade indómita, um treino militar apurado e um impressionante arsenal bélico, o Justiceiro tornou-se rapidamente num dos mais carismáticos personagens da Marvel.
A primeira aparição do Justiceiro, teve lugar em 1974, na revista do Homem-Aranha, numa história escrita por Gerry Conway e desenhada por Ross Andru, que se inspirou em Clint Eastwood para criar a imagem do vigilante. Uma referência visual lógica, pois o Justiceiro, enquanto caçador impiedoso de criminosos, deve muito ao Dirty Harry, de Clint Eastwood e ao executor interpretado por Charles Bronson nos filmes da série Death Wish, que passaram em Portugal como o Justiceiro Implacável.
Depois de diversas aparições em histórias do Homem-Aranha e do Demolidor (onde chegou a ser desenhado por Frank Miller, que lhe deu grande destaque) o arranque a solo do Justiceiro dá-se em 1986, numa mini-série escrita por Steven Grant e desenhada por Mike Zeck, cujo sucesso levou à criação de uma revista mensal. Personagem perfeitamente enquadrada no espírito belicista da época (estávamos em plena administração Reagan e o Rambo, interpretado por Silvester Stallone era um dos símbolos da América) o Justiceiro viu a sua presença desdobrar-se por uma série de novos títulos, como Punisher War Journal, escrito por Carl Potts e desenhado por um jovem Jim Lee, cujo primeiro arco de histórias pudemos acompanhar a primeira colecção que a Levoir e o Público dedicaram à Marvel, e Punisher War Zone (com desenhos de John Romita Jr.). Já para não falar de versões do Justiceiro como anjo, ou como criatura de Frankenstein, nem das inúmeras mini-séries em que o Justiceiro enfrenta os mais variados heróis, desde Batman, Wolverine e até ao adolescente Archie, na mais inesperada das cross-overs...
Logicamente, esta superexposição levou a que o público se desinteressasse da personagem, que efectuou uma travessia do deserto até ser ressuscitado por Garth Ennis na linha Marvel Knights, no ano 2000. Uma escolha que não foi inocente, pois Ennis tinha assinado em 1995 a mais estranha e uma das mais populares das aventuras do Justiceiro, Punisher Kills the Marvel Universe, uma história cujo título fala por si…
O regresso de Ennis às histórias do Justiceiro faz-se com Welcome Back, Frank, uma série de doze números, ilustrada por Steve Dillon, que a Devir publicou em Portugal em 2004, numa edição em dois volumes, com o título O Regresso do Justiceiro, aproveitando o impacto mediático do filme de Jonathan Einsleigh, com Thomas Jane no papel de Frank Castle (o Justiceiro), que chegou às salas de cinema nesse ano. A BD de Garth Ennis e Steve Dillon acabou por ser justamente uma das principais fontes de inspiração do filme da Marvel, mas neste caso, o filme não soube estar à altura da BD original, numa adaptação falhada que nem o esforço de Thomas Jane, nem John Travolta (deliciosamente cabotino no papel de mau da fita) conseguem salvar...
Entre outros méritos, O Regresso do Justiceiro permitiu voltar a juntar Garth Ennis e Steve Dillon, a dupla responsável pela série de culto Preacher, numa história que alia o humor politicamente incorrecto a que Ennis habituou os seus leitores em Preacher, na sua passagem na série Hellblazer, ou em obras como a Pro, a uma intriga repleta de acção, em que os mortos em combate se contam às centenas.
Um dos mais famosos argumentistas de origem britânica a trabalhar nos EUA, o irlandês Garth Ennis iniciou a sua carreira em Inglaterra na revista 2000 AD, mas seria na Vertigo que o mundo descobriria o seu talento narrativo, em séries como Hellblazer, Preacher, ou Hit Man. O Justiceiro foi o seu primeiro trabalho para a Marvel, editora para onde também escreveu duas séries protagonizada por Nick Fury, duas mini-séries do Motoqueiro Fantasma e uma mini-série do Poderoso Thor, ilustrada por Glen Fabry, o autor das ilustrações de capa de Preacher.
Nascido em Londres em 1962, Steve Dillon estreou-se nos comics americanos como ilustrador da série Hellblazer, escrita por Garth Ennis, com quem voltou a colaborar na série de culto Preacher. Conhecido sobretudo pela eficácia com que os rostos que desenha conseguem transmitir todo o tipo de emoções, Dillon revelou-se igualmente à vontade nas violentas cenas de acção que enchem as histórias do Justiceiro.
Depois desta primeira história, Garth Ennis continuou a escrever as aventuras do Justiceiro durante mais oito anos, mas desta vez sem Steve Dillon do seu lado, sendo especialmente memoráveis os 60 números da série Max que escreveu para desenhadores como Leandro Fernandez e Goran Parlov, entre outros.
A história que vão ler a seguir, significa o adeus definitivo de Garth Ennis ao Justiceiro, reunindo para o efeito toda a equipa de Preacher, incluindo o colorista Matt Hollingsworth. Lançada em 2008, como uma mini-série em 6 números com o título Punisher War Zone, que remete para o filme de Lexi Alexander com o mesmo nome, que nesse ano trouxe o Justiceiro de regresso ao grande ecrã, esta era uma história que já estava escrita há mais de 3 anos, mas a que o lançamento do filme deu o empurrão decisivo para sair da gaveta.
Como referiu o próprio Ennis na altura do lançamento: “Joe Quesada tinha-me pedido para escrever esta história há cerca de três anos e meio. Ele achava que as pessoas queriam ver a Ma Gnucci e todas aquelas coisas delirantes outra vez. Eu estava algo relutante e não me interessava muito voltar a pegar naquelas personagens, mas o meu cérebro tem o hábito de me servir histórias mesmo sem eu querer.” Outra das dificuldades de Ennis era como fazer regressar Ma Gnucci, a mafiosa protagonista de O Regresso do Justiceiro, de que esta história é uma continuação directa? Ma Gnucci tinha sido lançada para a jaula de um urso polar, perdeu os braços e as pernas e o seu corpo foi atirado para uma casa a arder, estando indiscutivelmente morta. Mas, como poderão ver nas páginas seguintes, Ennis arranjou uma maneira engenhosa de a fazer regressar, bem como à detective Molly Von Richtofen, da Polícia de Nova Iorque.
Este regresso de Ennis e Dillon às histórias do Justiceiro resulta num cocktail único e inebriante de humor negro e hiperviolência, onde o politicamente correcto não tem lugar e, tratando-se de Ennis, não faltam também as referências cinematográficas, seja a O Bom, o Mau e o Vilão, de Sergio Leone, seja ao Segredo de Brokeback Mountain de Ang Lee, cujos diálogos mais emblemáticos, um mafioso simpático, que tem uma relação muito especial com uma abóbora, cita com frequência.
Steve Dillon, que Garth Ennis considera como “simplesmente o melhor narrador a trabalhar no mundo dos comics”, voltaria a desenhar o Justiceiro anos mais tarde, desta vez ao lado do argumentista Jason Aaron. Mas para o escritor irlandês, a Ressureição de Ma Gnucci significou o canto do cisne de um percurso incontornável de oito anos, trilhado em conjunto por Garth Ennis e Frank Castle.

2 comentários:

Onomatopeia disse...

Viva João

Aqui no meu blog tenho falado um bocadinho dos livros editados pela Levoir, e por vezes tenho usado as imagens que encontro na net das capas da Levoir, as quais tenho usado sem autorização. Existe algum problema? Não tenho feito por mal, mas não tenho ficado descansado, devido a questões de direitos autorais e assim... Não me consegue esclarecer neste ponto? Desde já, o meu obrigado.

JML disse...

Olá,
A utilização das imagens com intuitos de divulgação não infringe os direitos de autor, mas que quiser ficar mais descansado, pode contactar directamente a Levoir, para eles lhe passarem a enviar directamente a informação e as imagens de divulgação dos livros.
Abraço.