sábado, 15 de agosto de 2015

Poderosos Heróis Marvel 4 - Viúva Negra: O Manto da Viúva


Como geralmente acontece quando o editorial do volume é da minha autoria, o que nesta colecção acontece com um terço dos quinze volumes, opto por publicar aqui o editorial, em vez do texto do Público que anuncia o volume. Quem o quiser ler, basta carregar na imagem já aqui em baixo, para o ampliar. Boas leituras!


A ESPIA QUE VEIO DO FRIO

Espia soviética, refugiada no Ocidente, assassina profissional, agente da S.H.I.E.L.D. e Vingadora, a Viúva Negra é tudo isso e muito mais, mas para quem a descobriu através dos filmes da Marvel, onde é encarnada pela actriz Scarlett Johansson, Natasha Romanoff é apenas uma agente da S.H.I.E.L.D. que, apesar da ausência de superpoderes, ganhou por direito próprio um lugar de destaque nos Vingadores, o grupo que reúne os mais poderosos heróis da Marvel.
Criada originalmente por Stan Lee, Don Rico e Don Heck em 1964, em plena Guerra Fria, nas páginas da revista Tales of Suspense #52, onde enfrenta o Homem de Ferro, a Viúva Negra é Natasha Romanova - ou Romanoff, a grafia do nome vai variando, sem deixar nunca de evocar um eventual parentesco com os Romanov, a família real russa, encabeçada pelo Czar Nicolau II, executada em 1918, na sequência da Revolução de Outubro, que levou os bolcheviques ao poder - uma espia soviética, que tinha a capacidade de sedução como arma principal para conseguir os seus objectivos. Objectivos que, neste caso, passavam por roubar os segredos industriais de Tony Stark.
Vestida “à civil”, com um vestido colante, saltos altos e uma estola de pele, Natasha (o apelido não é relevado nessa primeira história, em que é tratada apenas por Madame Natasha) está bem mais próxima de outras mulheres fatais da BD, como a Dragon Lady da série Terry e os Piratas, de Milton Caniff, ou a Sand Saref, do Spirit, de Will Eisner, do que dos vilões tradicionais da Marvel. Estes confiam mais no armamento sofisticado, ou em estranhos poderes, para conseguirem o seu objectivo, nas Natasha não precisa de nenhum outro poder, para além do seu poder de atracção, e é precisamente a sua capacidade de sedução que lhe permite, cinco números depois, recrutar temporariamente para a causa de Moscovo o Gavião Arqueiro, outra personagem que começou como um vilão para se tornar um herói.
Mas não seria preciso esperar mais de dois anos para que Natasha abandonasse os seus antigos patrões e pedisse asilo no Ocidente e se juntasse, tal como o entretanto regenerado Gavião Arqueiro, aos Vingadores, de que é um membro regular, tanto na BD como no cinema. E é precisamente a sua presença ao lado dos heróis, seja pela sua filiação nos Vingadores, seja pelas relações amorosas que estabelece com alguns heróis como o Gavião Arqueiro, o Demolidor, ou até mesmo Hércules, que faz com que o leitor se esqueça que a Viúva Negra é, antes de tudo, uma espia.
Como geralmente acontece no mundo da contra-espionagem, nada do que parece, é. Por isso, a origem da Viúva tem sido reescrita ao longo do tempo, para acentuar o peso da sua presença no universo Marvel. Assim, a versão inicial que mostrava a Viúva Negra como uma bailarina do Bolshoi, que decide trocar os palcos iluminados pelo mundo sombrio da espionagem depois da morte do marido, Alexei Shostakov, um piloto de testes, que era na realidade o herói soviético Guardião Vermelho, revela-se falsa, sendo o resultado de memórias implantadas pelos serviços secretos soviéticos.
A verdadeira origem da Viúva Negra só será contada anos mais tarde, na série Wolverine: Origins, onde o argumentista Daniel Way desenvolve o passado desconhecido do mais famoso mutante da Marvel. Aí, descobrimos que Natasha foi retirada ainda bebé de um edifício destruído de Estalinegrado, em 1928, por Ivan Petrovich, que a criou durante 10 anos, até ser obrigado pelo próprio Estaline a entregar a criança nas mãos de Taras Romanoff, um importante espião russo, que a criou como se fosse sua filha, dando-lhe o nome de Natalia (Natasha é um diminutivo de Natalia) Romanova, e a iniciou nas artes da espionagem. É nessa altura que ela conhece Wolverine, então a treinar na escola de espiões de Taras Romanoff, e que se vai ocupar de Natasha, ensinando-a a combater e a seguir pistas. Embora tenha criado uma boa relação com Wolverine, a quem tratava carinhosamente por “Tio Logan”, essa relação vai-se quebrar quando Logan é forçado a matar Taras Romanoff, o homem que Natasha considerava como o seu pai.
No entanto, Natasha e Wolverine vão lutar juntos ao lado do Capitão América, na ilha de Madripoor, em 1941, para eliminar Jonin, o líder do clã ninja do Tentáculo. Um acontecimento relatado inicialmente em 1990, na revista X-Men, por Chris Claremont e Jim Lee, e que Daniel Way e Steve Dillon mostram noutra perspectiva.
Terminada a Segunda Guerra Mundial, Natasha vai ser integrada na Sala Vermelha, um programa secreto do KGB que pretendia transformar jovens órfãs em agentes de elite, as Viúvas Negras. A grande longevidade de Natasha é explicada pelo uso de um equivalente russo da fórmula do super-soldado, a fórmula que esteve na origem da transformação de Steve Rogers no Capitão América e que lhe teria sido injectada durante a sua passagem pela Sala Vermelha.
É precisamente a Sala Vermelha e o Programa Viúva Negra, que se mantém activos, apesar da queda do Império soviético e o fim da Cortina de Ferro, que estão em destaque nas duas histórias que compõem este volume, em que Natasha Romanoff cede o protagonismo à jovem Yelena Belova, a sua sucessora no programa Viúva Negra.
A primeira dessas histórias é uma mini-série publicada originalmente em 2002, centrada no passado de Yelena Belova, e que mostra a forma como ela foi manipulada pelos serviços secretos russos ao longo do seu treino na Sala Vermelha. A escrever esta história está Greg Rucka, argumentista e escritor americano, cuja capacidade de escrever personagens femininas fortes já é bem conhecida dos leitores, graças à sua colaboração com J. H. Williams III no volume dedicado à Batwoman numa anterior colecção, e que aqui conta com a arte do ilustrador croata Igor Kordey, cujo estilo sombrio se revela perfeito para uma história passada no submundo de Moscovo, com uma carga erótica pouco habitual no Universo Marvel.
A completar este volume, outra mini-série, publicada originalmente em 1999, assinada por Devin Grayson, uma escritora americana conhecida pelo seu trabalho para a DC, nas revistas do Batman, que se estreou na Marvel precisamente com esta aventura da Viúva Negra. Nesta movimentada história de espionagem, cuja acção decorre entre Moscovo, Nova Iorque e um país fictício do Médio Oriente, a presença do Universo Marvel está limitada a uma breve participação de Matt Murdock, que apenas surge como Demolidor numa página ou duas, não tendo qualquer interferência na acção, e a uma ainda mais breve presença da S.H.I.E.L.D. que, essa sim, se revela decisiva para o desenrolar da história que se centra no confronto entre as duas Viúvas.
A dar vida ao texto de Grayson está o traço elegante, rigoroso e sensual de J. G. Jones. Também para o desenhador americano, conhecido sobretudo pelo seu trabalho como ilustrador de capas e desenhador da mini-série Wanted, de Mark Millar, que deu origem ao filme do mesmo nome com Angelina Jolie, este foi o primeiro trabalho para a Marvel, pois antes disso tinha apenas colaborado na série Shi, de Bill Tucci, sendo provável que a forma simultaneamente realista e espectacular como Jones desenhou a sensual protagonista tenha levado Joe Quesada e Jimmy Palmiotti, os editores da linha Marvel Knights, a verem nele o desenhador ideal para este confronto de Viúvas.
Natasha Romanova e Yelena Belova, a nova e velha Viúva Negra, voltariam a defrontar-se noutra mini-série, escrita a meias por Grayson e Rucka, em que a forma como as duas Viúvas funcionam como reflexos distorcidos uma da outra é desenvolvida. Mas, como se costuma dizer, isso já é outra história.

1 comentário:

Optimus Primal disse...

Bom Texto,Espero que seja melhor que os 3 1s da Serie,porque na banca que vou a pilhas deles.