quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Rip Kirby em português

Depois do “Principe Valente”, de Hal Foster e do “Tarzan” de Russ Manning, a editora Bonecos Rebeldes recupera mais um clássico da Banda Desenhada norte-americana publicada nos jornais: a série “Rip Kirby”, de Alex Raymond. Último trabalho de Raymond, falecido em 1956, num acidente de viação, “Rip Kirby” é a segunda incursão do criador de "Flash Gordon" e de “Jungle Jim”, pelo registo policial, depois de no início de carreira ter desenhado a série “Secret Agent X-9”, a partir de um argumento do escritor Dashiel Hammet.
"Rip Kirby" assinala o regresso de Raymond à Banda Desenhada depois de um período de 22 meses em que esteve alistado no exército americano. Terminada a II Guerra Mundial, Raymond regressou disposto a retomar a série "Flash Gordon", que tinha ficado a cargo do seu assistente Austin Briggs, mas como a King Features entretanto tinha assinado um contrato com Briggs para desenhar a série até 1948, Raymond viu-se obrigado a criar um novo personagem, um detective cheio de glamour chamado Rip Kirby, que traduzia uma abordagem mais madura às histórias policiais.
Ao contrário de "Flash Gordon" e Jungle Jim", que saiam a cores nas páginas dominicais dos jornais, "Rip Kirby" foi pensado desde o início para ser publicado a preto e branco, como tira diária, o que permitiu a Raymond trabalhar o seu estilo de um modo diferente. Sem o espaço para as composições barrocas da fase final de Flash Gordon, optou por jogar com as sombras, como ainda não tinha feito em trabalhos anteriores. Mas o que marca mais este trabalho é a elegância do traço de Raymond e a extraordinária sensualidade e glamour das mulheres que desenha, desde Honey Dorian, a eterna namorada de Kirby, até Pagan Lee, a sedutora e mortífera "má da fita", cujo visual serviu de inspiração para Bettie Page, que vai ser uma presença recorrente ao longo da série.
Este primeiro volume, de uma edição prevista para 13 volumes, recolhe em 56 páginas que recolhem em média 4 tiras por página, as três primeiras aventuras de Rip Kirby, publicadas entre Março e Novembro de 1946, precisamente no mesmo formato em que a editora está a editar o "Príncipe Valente".
E, embora o trabalho de Catherine Labey, que faz a tradução e execução gráfica, não atinja a perfeição a que Manuel Caldas nos foi habituando noutras reedições de clássicos, e a legendagem e o colorido em photoshop da capa não serem nada famosos, esta edição da Bonecos Rebeldes tem os seus méritos, não sendo tão má como alguns têm escrito, mesmo que o preço de 25 € por um livro de 56 páginas custe a dar, sobretudo tendo em conta que a edição do “Príncipe Valente da mesma editora, tem quase o dobro das páginas por volume e custa apenas mais 2,5 €… É que é muito importante não esquecer que a edição da Bonecos Rebeldes é, de todas as disponíveis no mercado, a única que reproduz na sua totalidade as tiras de Raymond.
Para poder jogar com as questões de espaço nos diferentes jornais que publicavam a série, a King Features disponibilizava duas versões diferentes de cada tira, uma integral e outra ligeiramente mais curta, com o desenho amputado em alguns milímetros. É essa versão cortada que foi usada para a maioria das edições, incluindo a luxuosa edição em 4 volumes que a IDW está a publicar nos EUA, (de onde tirei a maioria das ilustrações para este artigo) que também não reproduz as tiras desenhadas por Raymond na totalidade, cortando a parte de baixo de cada imagem. Imagens que a edição da Bonecos Rebeldes reproduz na íntegra, como facilmente podem ver pelos exemplos que a seguir mostro.
Imagem cortada em baixo, tal como vem reproduzida na edição da IDW
A mesma imagem, completa na edição da Bonecos Rebeldes, Repare-se no copo.
Mais um exemplo da edição da IDW
E a mesma imagem integral. Veja-se a mão do desenhador, que quase não aparece na edição da IDW






(“Rip Kirby”, Vol. 1, de Alex Raymond, Bonecos Rebeldes, 56 pags, 25,00 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 31/12/2010

1 comentário:

letré disse...

Boa iniciativa, com valor acrescentado. Espero é que não seja outro Tarzan de Russ Manning que saiu o volume 2 e........nada. Não gosto ser demasiado crítico porque não estou dentro da dimensão comercial da "coisa", mas não sei se é a melhor ideia, apostar na diversidade, em vez de concluir as colecções. Para as pessoas que pretendem adquirir, a primeira interrogação que colocarão será, isto vai continuar?, ou vai acontecer o mesmo que aconteceu com o Tarzan!?. De qualquer forma, estando muito longe da qualidade dos livros do Príncipe Valente, quando eram da responsabilidade do Manuel Caldas, parece-me uma iniciativa muito interessante, somente com um senão, o preço, que me parece (não querendo estar a meter foice em seara alheia) demasiado caro. E só esse aspecto poderá ser um factor que levará a mais um projecto que não verá a luz ao fim do túnel.
Por isso resta-me desejar que o editor tenha isso em conta e que seja capaz, se o mercado permitir, levar a iniciativa a bom termo.

Eduardo Letrée