segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A Teoria do Grão de Areia, Vol 2


Já está nas livrarias a segunda, e última parte de “A Teoria do Grão de Areia”, o mais recente título da série “As Cidades Obscuras” de Schuiten e Peeters. Série maior da BD franco-belga, que cedo ultrapassou os limites da própria Banda Desenhada, para dar origem a livros ilustrados, documentários, exposições, intervenções cenográficos e até um congresso em Coimbra (cujas actas deram origem ao livro “As Cidades Visíveis”), “As Cidades Obscuras” é um desses, infelizmente raros, exemplos de que na BD também é possível criar universos complexos e coerentes.
Nascida em 1983, nas páginas da revista (A Suivre) com “Les Murailles de Samaris” e o que era para ser uma história independente, de homenagem à Arte Nova e à arquitectura em “trompe l’oeil”, acabou por dar origem a uma série de histórias autónomas, passadas num universo que os próprios autores definem como sendo um reflexo deslocado da Terra. Um universo constituído por uma série de cidades fantásticas, como Urbicande, Samaris, Brussels, Xystos, ou Phary, verdadeiros protagonistas de histórias fascinantes, que têm como pano de fundo as relações entre a arquitectura e o poder.
Depois de o primeiro volume de “A Teoria do Grão de Areia”, lançado com o jornal “Público” ter tido vendas decepcionantes nos quiosques, cheguei a temer que, tal como aconteceu com “A Fronteira Invisível”, o título anterior da série, também a segunda parte de “A Teoria do Grão de Areia” ficasse inédita em português, mas a verdade é que, um ano depois do 1º volume chegar às livrarias, aqui está a conclusão da história, cujo 1º volume valeu à dupla o Prémio para a Melhor BD Estrangeira no último Festival da Amadora.
Neste 2º volume, graças aos esforços de Mary Von Rathen, a protagonista do álbum “A Menina Inclinada” que agora aparece como uma investigadora de fenómenos paranormais, e de Constant Abeels, que conhecemos do álbum “Brusel”, vamos descobrir a origem dos estranhos fenómenos que afectaram a cidade de Brusel e descobrir zonas ainda desconhecidas do continente Obscuro, como os países Bugti e Moktar.
Embora este álbum possa perfeitamente ser lido por quem não conheça a série, há uma série de personagens e referências que serão mais facilmente compreendidas por quem conhecer bem a obra de Schuiteen e Peeters e o universo das Cidades Obscuras, como é o caso do edifício, desenhado por Victor Horta onde vive a Senhora Autrique, que existe realmente em Bruxelas e que foi recentemente restaurado e dinamizado, muito por via do esforço de Schuiten e Peeters e que neste 2º volume, passa do “universo obscuro” para o nosso mundo.
Marcado por uma forte carga ecológica, esta história que mostra como a acção do homem pode ter consequências devastadoras para o seu habitat, não sendo dos pontos mais altos da série, conta com um Schuiten ao seu melhor nível, a explorar como ninguém a técnica do preto e branco a pincel, na linha dos grandes mestres da BD nos jornais, como Milton Caniff, ou Alex Raymond, com excelentes resultados, em que a opção por um papel em tons de cinzento realça ainda mais o branco das pedras e da areia que invadem as casas de Constant Abeels e da Senhora Antipova.
(“A Teoria do Grão de Areia” vol 2, de Schuiten e Peeters, Edições Asa, 120 pags, 17,50 €)
Versão integral do texto publicado no "Diário As Beiras" de 28/08/2010

1 comentário:

Optimus Primal disse...

"Depois de o primeiro volume de “A Teoria do Grão de Areia”, lançado com o jornal “Público” ter tido vendas decepcionantes nos quiosques,"

Essa logica sem logica de enviar ediçoes de luxo (de varias editoras)para as bancas eu não percebo,porque depois não vendem ou vendem pouquissimo.....