sexta-feira, 1 de julho de 2016

Novela Gráfica II 3 - Presas Fáceis

AS VÍTIMAS DO SISTEMA BANCÁRIO SÃO PRESAS FÁCEIS 
NO NOVO LIVRO DE MIGUELANXO PRADO

Novela Gráfica II - Vol 3
Presas Fáceis
Argumento e Desenhos – Miguelanxo Prado
Quinta, 30 de Junho
Por + 9,90 €
Na próxima quinta-feira, chega a vez desta série II da colecção Novela Gráfica abrir as suas portas a um nome bem conhecido dos leitores portugueses, Miguelanxo Prado. Nascido em 1958, na Galiza, Miguelanxo Prado, foi estudante de arquitectura, pintor de formação, e tornou-se autor de BD por vocação e convicção. A sua estreia na arte sequencial deu-se em 1979, no fanzine galego Xofre e, a partir daí seguiu-se um percurso de sucesso, tanto na BD como na animação, marcado por prémios como o de Melhor Livro no Festival de Angoulême, para Traço de Giz, ou o Prémio Nacional del Comic atribuído em Espanha à sua anterior novela gráfica, Ardalén, para além de colaborações com os escritores Laura Esquivel e Neil Gaiman e o cineasta Steven Spielberg.
Em Portugal, onde é presença frequente nos Festivais de BD, a sua obra tem sido editada de forma consistente, primeiro pela Meribérica/Liber e depois pelas Edições Asa, calhando agora à Levoir e ao Público o privilégio de dar a estampa Presas Fáceis, o seu mais recente livro, acabado de publicar em Espanha no passado mês de Maio.
Neste Presas Fáceis, o autor galego regressa ao registo policial, género de que é leitor fiel e que já tinha abordado, de forma paródica em O Manancial da Noite, livro escrito por Fernando Luna e protagonizado por Manuel Montano, um detective privado formado pela escola de detectives de Lisboa, a que Prado deu as feições de Bogart.
Mas desta vez o humor está (quase) ausente e, se quisermos estabelecer um paralelo entre este livro e anteriores trabalhos de Prado - até pela ausência da cor, de que Miguelanxo Prado é um mestre incontestado - o melhor talvez seja recuarmos a Stratos, um dos seus primeiros trabalhos de fôlego, publicado originalmente em meados da década de 80, onde a ficção científica é utilizada como um pretexto para analisar os defeitos das sociedades actuais, em que aspectos como o crescente endividamento dos cidadãos junto dos bancos e o espectro do desemprego crescente são abordados da forma crua. Um álbum que, com todo o seu humor (muito) negro, é uma critica feroz, mas que não perdeu a menor actualidade, à desumanização das sociedades industrializadas, em que os princípios são esquecidos pela miragem do lucro fácil e os arrivistas detêm o poder.
Como o próprio Prado revelou numa entrevista, na origem de Presas Fáceis, está uma notícia ouvida na rádio: “Tinham descoberto os corpos de um casal de idosos em sua casa. Tinham-se suicidado devido ao desespero de terem perdido todas as suas poupanças, depois de alguém no banco as ter convertido, de forma fraudulenta, em acções preferenciais e porque enfrentavam uma acção de despejo, depois de terem avalisado com a sua casa a hipoteca de um dos seus filhos, que deixou de a poder pagar quando ficou desempregado.
Todos os elementos desta história são tristemente familiares. Toda a gente conhece, quase de certeza, casos semelhantes, ainda que contornos menos trágicos. A realidade não permite uma leitura optimista. (…) Basta fazer contas para ver que, com a indemnização de 18 milhões, que recebeu um ex-presidente de um Banco depois de o levar à falência, dava para pagar as pensões durante o resto da sua vida a 100 reformados médios. É indefensável e inadmissível que esta gente continue a usufruir desses valores milionários, enquanto o Banco de Espanha e a Comissão Nacional do Mercado de Valores que deviam assegurar que isso não acontecesse, desviam o olhar e façam de conta que não se passa nada.”
É essa realidade facilmente transposta para o nosso país (basta pensar nos casos BPN e BES…), que serve de pano de fundo ao notável último livro de Prado, que chega às bancas na próxima quinta-feira, numa edição enriquecida por um excelente prefácio do historiador e ex-eurodeputado Rui Tavares. 
Texto publicado originalmente no jornal Público de 24/06/2016

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