Nome maior do cinema de animação nacional, com uma carreira construída em França e nos Estados Unidos, onde trabalhou em filmes como Les Maitres du Temps, Poltergueist e Heavy Metal José Abel, falecido provavelmente em 1992, foi também autor de Banda Desenhada. Um facto ignorado pela maioria do historiadores de BD nacionais, sendo praticamente inexistentes as referências ao seu trabalho no campo da Banda Desenhada, por oposição ao seu trabalho na animação, consagrado no prémio José Abel atribuído anualmente pelo Cinanima, ao melhor filme internacional a concurso naquele Festival de cinema de animação.
O facto de José Abel ter feito toda a sua carreira longe de Portugal, desde a licenciatura em La Cambre, a célebre escola de cinema de animação em Bruxelas, e de os trabalhos de BD que Abel fez para a editora Humanoides Associés nunca terem sido reeditados, ajuda a perceber esses esquecimento, mas a qualidade do trabalho de José Abel, justifica plenamente que aqui o recorde. Um trabalho que se resume a dois álbuns e uma história curta, publicados entre 1984 e 1992, pela editora Humanoides Associés.
Os dois álbuns constituem os dois únicos volumes de uma série, Aux Mains des Soviets, escrita por Frederic Charpier e ilustrada por José Abel, que leva dois aventureiros europeus, Brian e Alves (este último presumivelmente português, a avaliar pelo apelido...) numa arriscada viagem pela Rússia dos Sovietes, em busca de uma expedição perdida.
O ambiente da série lembra um pouco o Corto Maltese na Sibéria, de Hugo Pratt (e o próprio Alves tem alguma parecenças com Corto, embora use as patilhas mais curtas) mas o tom geral é bastante mais folhetinesco e delirante do que o livro de Pratt. Há sociedades secretas, militares sanguinários, mulhers fatais, um corcunda saído não se sabe de onde e que funciona como "comic relief", muita acção, um toque de fantástico, outro de humor, mas a história acaba por não avançar muito ao longo dos dois álbuns e o pretexto inicial, a extraordinária descoberta feita pela expedição liderada por Leon Maximov, desaparecida na Ásia Central, cujo resgate funcionaria como Mcguffin da história, rapidamente é esquecida... Mas mais do que o argumento de Charpier, o que nos interessa aqui é o desenho de José Abel. Um desenho minucioso, usando uma técnica de "achures" que lembra Moebius e com uma atenção ao pormenor verdadeiramente obsessiva, não deixando um um único espaço por desenhar.
Com um traço de grande expressividade, tão à vontade no registo realista como no caricatural, Abel tem também uma óptima noção do movimento, dando um grande dinamismo a toda a acção.
Embora as cores não sejam más, especialmente no segundo álbum, La Conspiration de l'Etoile Blanche, colorido por Nadine Voillat, numa paleta que lembra o Bilal de álbuns como As Falanges da Ordem Negra, ou A Caçada, o trabalho de José Abel merecia uma edição a preto e branco em grande formato, de modo a podermos apreciar devidamente a inacreditável quantidade de detalhe que o desenhador português punha em cada prancha.
É interesante também ver a forma como Abel concilia momentos de puro delírio visual, típicos da animação, com uma cuidada pesquisa visual, de que é exemplo a reprodução rigorosa de dois cartazes da época, conforme podemos ver aqui:
ou no cabeçalho do 4º Capítulo de La Conspiration de L'Etoile Blanche, cuja estética remete para as ilustrações infantis de Ivan Bilibin, um fabuloso ilustrador russo da época.
Infelizmente, a forma como a editora tratou a série, editando o segundo volume 5 anos depois do primeiro, noutra colecção, com um design diferente, sem se dar ao trabalho de reeditar o primeiro volume, fez com que a série não passasse do segundo volume. Em Portugal, apenas o primeiro volume foi publicado, em 1985, no Jornal da BD, com uma impressão e um papel que não faziam minimamente justiça ao fabuloso trabalho de Abel.
Posteriormente, em 1992, voltamos a encontrar o desenhador José Abel no álbum colectivo Transports Fripons, ilustrando Une Nuit au Cirque uma história curta, com argumento de Seudebias, num estilo mais solto, em que o pontilhado a tinta da china dá lugar à cor directa, num registo próximo do usado no seu último trabalho de animação para o filme Opera Imaginaire. Essa história foi a sua última incursão pela BD e um dos seus últimos trabalhos pois o filme Opera Imaginaire, de 1993, é-lhe dedicado, o que significado que o realizador português faleceu ainda antes de ele estrear.
Curiosamente, a sequência realizada por Abel, a partir de um ária da ópera Tosca, de Pucini, que podem ver abaixo, tem o anjo da morte como um dos personagens, em mais um exemplo como, por vezes, a vida imita a Arte...
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Feliz Natal... com os bonecos de neve do Calvin!
Lembram-se dos fabulosos bonecos de neve que o Calvin fazia? Pois alguém se lembrou de recuperar esse aspecto em particular da genial criação de Bill Waterson e fazer este divertido vídeo, muito apropriado à época natalícia. Aqui fica ele, com os meus votos de Feliz Natalpara os visitantes deste blog!
domingo, 18 de dezembro de 2011
O regresso de The Walking Dead
Um ano depois da publicação do primeiro volume, eis que a Devir lança finalmente o 2º volume de “The Walking Dead”, a popular série de zombies de Robert Kirkman, que está conhecer na TV o mesmo sucesso que tem na BD. Não por acaso, o lançamento deste segundo volume coincidiu com a estreia da segunda temporada da série de TV, actualmente em exibição no canal Fox da TV por cabo, tentando aproveitar o impacto que a série de televisão teve no alargar do público da BD, um pouco por todo o lado onde a série passou.
O protagonista principal desta série de zombies diferente das outras é Rick Grimes, um polícia de uma cidadezinha do Kentucky que, depois de ter sido baleado, entra em coma, despertando algum tempo depois numa cama de hospital, para descobrir que foi abandonado à sua sorte, num hospital pejado de zombies famintos. O ponto de vista do leitor é o mesmo de Rick, que nunca chega a saber o que motivou o aparecimento dos zombies, ou até que ponto se trata de um problema que afecta apenas os Estados Unidos, ou se estamos perante uma pandemia a nível mundial.
A dinâmica do grupo de sobreviventes que Rick acaba por liderar, e a forma como a personalidade dos seus membros vai evoluindo face a uma realidade hostil e dramática, acaba por ser o fulcro da série, que pega num grupo de pessoas normais sujeitas a circunstâncias excepcionais e analisa as suas reacções num mundo em que confortos como a televisão, telemóveis, ou Internet são apenas recordações. Apesar da constante presença ameaçadora dos zombies, que provocam várias baixas no grupo, a que se vão juntando novas personagens que vão encontrando pelo caminho, a maior ameaça acaba sempre por vir do próprio homem, disposto a tudo para sobreviver e liberto de quaisquer restrições legais e morais.
Neste segundo volume, o grupo de sobreviventes parece encontrar um abrigo seguro na quinta de Hersel Greene, um veterinário de província, mas mais uma vez as coisas não correm como o previsto e o que parecia poder ser um porto seguro, acaba por se revelar o palco de conflitos que vão pôr em causa a estabilidade do grupo. Para quem segue a série de televisão, não deixa de ser curioso ver a forma diferente como as coisas vão evoluindo em relação à Banda Desenhada, seja pela criação de novos personagens que não estão na BD original, seja pela decisão de manter Shane (que na BD morre no fim do primeiro volume) vivo na série de televisão, com as alterações que isso provoca na dinâmica do grupo.
Neste 2º volume, o desenho da série passa de Tony Moore para as mãos igualmente competentes de Charlie Adlard, que se ocupa do desenho da série desde então. Com um traço mais realista do que o de Moore, Adlard está igualmente à vontade a desenhar zombies, mas é mais talentoso do que Moore no tratamento das feições das personagens, transmitindo melhor as emoções.
Com 14 volumes já publicados nos EUA, a série prossegue com sucesso crescente. Esperemos que o mesmo suceda em Portugal, embora se apostasse num ritmo de publicação mais sustentado, de 2 a 3 volumes por ano, a Devir teria mais facilidade em manter os leitores presos a este série “viciante”.
(“The Walking Dead Volume 2: Um Longo Caminho”, de Robert Kirkman e Charlie Adlard, Devir, 136 pags, 14,99 €)
Versão integral do texto publicado no "Diário As Beiras" de 17/12/2011
O protagonista principal desta série de zombies diferente das outras é Rick Grimes, um polícia de uma cidadezinha do Kentucky que, depois de ter sido baleado, entra em coma, despertando algum tempo depois numa cama de hospital, para descobrir que foi abandonado à sua sorte, num hospital pejado de zombies famintos. O ponto de vista do leitor é o mesmo de Rick, que nunca chega a saber o que motivou o aparecimento dos zombies, ou até que ponto se trata de um problema que afecta apenas os Estados Unidos, ou se estamos perante uma pandemia a nível mundial.
A dinâmica do grupo de sobreviventes que Rick acaba por liderar, e a forma como a personalidade dos seus membros vai evoluindo face a uma realidade hostil e dramática, acaba por ser o fulcro da série, que pega num grupo de pessoas normais sujeitas a circunstâncias excepcionais e analisa as suas reacções num mundo em que confortos como a televisão, telemóveis, ou Internet são apenas recordações. Apesar da constante presença ameaçadora dos zombies, que provocam várias baixas no grupo, a que se vão juntando novas personagens que vão encontrando pelo caminho, a maior ameaça acaba sempre por vir do próprio homem, disposto a tudo para sobreviver e liberto de quaisquer restrições legais e morais.
Neste segundo volume, o grupo de sobreviventes parece encontrar um abrigo seguro na quinta de Hersel Greene, um veterinário de província, mas mais uma vez as coisas não correm como o previsto e o que parecia poder ser um porto seguro, acaba por se revelar o palco de conflitos que vão pôr em causa a estabilidade do grupo. Para quem segue a série de televisão, não deixa de ser curioso ver a forma diferente como as coisas vão evoluindo em relação à Banda Desenhada, seja pela criação de novos personagens que não estão na BD original, seja pela decisão de manter Shane (que na BD morre no fim do primeiro volume) vivo na série de televisão, com as alterações que isso provoca na dinâmica do grupo.
Neste 2º volume, o desenho da série passa de Tony Moore para as mãos igualmente competentes de Charlie Adlard, que se ocupa do desenho da série desde então. Com um traço mais realista do que o de Moore, Adlard está igualmente à vontade a desenhar zombies, mas é mais talentoso do que Moore no tratamento das feições das personagens, transmitindo melhor as emoções.
Com 14 volumes já publicados nos EUA, a série prossegue com sucesso crescente. Esperemos que o mesmo suceda em Portugal, embora se apostasse num ritmo de publicação mais sustentado, de 2 a 3 volumes por ano, a Devir teria mais facilidade em manter os leitores presos a este série “viciante”.
(“The Walking Dead Volume 2: Um Longo Caminho”, de Robert Kirkman e Charlie Adlard, Devir, 136 pags, 14,99 €)
Versão integral do texto publicado no "Diário As Beiras" de 17/12/2011
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domingo, 11 de dezembro de 2011
G Floy: uma editora dinamarquesa em Portugal
Para além de prosseguir com a edição nacional do Hellboy, de Mike Mignola, iniciada pela Devir, a editora dinamarquesa G Floy acaba de lançar nas livrarias portuguesas outra novidade assinada por nomes de prestigio dos comics americanos: a novela gráfica "Fel: Cidade Selvagem", que reúne o argumentista Warren Ellis com o desenhador Ben Templesmith, que os leitores portugueses conhecem da série "30 Dias de Noite".
Duas interessantes novidades que este espaço não podia deixar de assinalar, começando por "Fell", regresso do argumentista britânico ao drama com um toque de fantástico e de horror, depois da sua passagem pela série “Hellblazer”, da Vertigo. E se o detective Richard Fell tem alguns parecenças (até físicas) com John Constantine, o protagonista de “Hellblazer”, o horror nesta série nasce mais da exploração do lado sombrio da alma humana, numa cidade em total desagregação, do que dos elementos sobrenaturais. Quanto à arte do australiano Ben Templesmith, continua extremamente eficaz, graças a um trabalho de cor bastante conseguido, que disfarça bem as debilidades do seu desenho que, longe de ser o de um virtuoso, se adequa perfeitamente às necessidades de uma história cruel e sombria.
A edição da G Floy recolhe os 8 primeiros números da série “Fell”, publicados de forma algo irregular pela Image, entre 2005 e 2007, no que foi uma tentativa de produzir uma revista mais barata, por ter menos páginas de história do que o habitual (16 em vez das tradicionais 22), mas a agenda muito ocupada de Ellis e Templesmith fez com que a série entrasse num hiato, depois da publicação do nº 9, em 2008, embora Ellis tenha anunciado no seu blog, em Janeiro de 2011, que o nº 10 já estava escrito e entregue a Bem Templesmith. Esperemos que o regresso de “Fell” se concretize, pois esta é uma série muito bem feita, que vale a pena seguir.
O mesmo se pode dizer da série “Hellboy”, de que este “A Bruxa Troll…” é o sétimo volume editado em Portugal.
Recolhendo uma série de histórias curtas do demónio criado por Mike Mignola, este volume tem a particularidade de contar com Richard Corben e P. Craig Russel como desenhadores convidados. Se o traço estilizado de Mignola, com o seu peculiar uso das sombras como uma forma de criar ambiente, continua inimitável, os ilustradores convidados não se saem nada mal ao criarem a sua versão de Hellboy. Entre a corporalidade do Hellboy de Corben, numa história passada em África, à elegância do traço delicado de P. Craig Russel, num conto inédito que revisita as lendas de Praga, cabe ao leitor escolher a sua versão favorita.
O que é sempre de realçar é a presença de três desenhadores deste calibre no mesmo livro, algo que só a popularidade e carisma da personagem criada por Mignola, possibilitou.
(“Fell: Cidade Selvagem”, de Warren Ellis e Bentemplesmith, G Floy Studio, 150 pags, 15,99 €
"Hellboy: A Bruxa Troll e outros contos", de Mignola, Corben e Russel. G Floy Studio, 136 pags, 15,99 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 10/12/2011
Duas interessantes novidades que este espaço não podia deixar de assinalar, começando por "Fell", regresso do argumentista britânico ao drama com um toque de fantástico e de horror, depois da sua passagem pela série “Hellblazer”, da Vertigo. E se o detective Richard Fell tem alguns parecenças (até físicas) com John Constantine, o protagonista de “Hellblazer”, o horror nesta série nasce mais da exploração do lado sombrio da alma humana, numa cidade em total desagregação, do que dos elementos sobrenaturais. Quanto à arte do australiano Ben Templesmith, continua extremamente eficaz, graças a um trabalho de cor bastante conseguido, que disfarça bem as debilidades do seu desenho que, longe de ser o de um virtuoso, se adequa perfeitamente às necessidades de uma história cruel e sombria.
A edição da G Floy recolhe os 8 primeiros números da série “Fell”, publicados de forma algo irregular pela Image, entre 2005 e 2007, no que foi uma tentativa de produzir uma revista mais barata, por ter menos páginas de história do que o habitual (16 em vez das tradicionais 22), mas a agenda muito ocupada de Ellis e Templesmith fez com que a série entrasse num hiato, depois da publicação do nº 9, em 2008, embora Ellis tenha anunciado no seu blog, em Janeiro de 2011, que o nº 10 já estava escrito e entregue a Bem Templesmith. Esperemos que o regresso de “Fell” se concretize, pois esta é uma série muito bem feita, que vale a pena seguir.
O mesmo se pode dizer da série “Hellboy”, de que este “A Bruxa Troll…” é o sétimo volume editado em Portugal.
Recolhendo uma série de histórias curtas do demónio criado por Mike Mignola, este volume tem a particularidade de contar com Richard Corben e P. Craig Russel como desenhadores convidados. Se o traço estilizado de Mignola, com o seu peculiar uso das sombras como uma forma de criar ambiente, continua inimitável, os ilustradores convidados não se saem nada mal ao criarem a sua versão de Hellboy. Entre a corporalidade do Hellboy de Corben, numa história passada em África, à elegância do traço delicado de P. Craig Russel, num conto inédito que revisita as lendas de Praga, cabe ao leitor escolher a sua versão favorita.
O que é sempre de realçar é a presença de três desenhadores deste calibre no mesmo livro, algo que só a popularidade e carisma da personagem criada por Mignola, possibilitou.
(“Fell: Cidade Selvagem”, de Warren Ellis e Bentemplesmith, G Floy Studio, 150 pags, 15,99 €
"Hellboy: A Bruxa Troll e outros contos", de Mignola, Corben e Russel. G Floy Studio, 136 pags, 15,99 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 10/12/2011
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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Jerry Robinson - 1922 - 2011
Jerry Robinson, o criador do Joker, o mais carismáticos dos inimigos de Batman, faleceu na passada quarta-feira, 6 de Dezembro, aos 89 anos de idade. Para além de, desaparecidos Jack Kirby, Bob Kane e Will Eisner, ser um dos últimos representantes ainda vivos da época de ouro dos comics americanos, Robinson foi um estudioso da Banda Desenhada, tendo publicado em 1971 o livro Comics, uma excelente história da Banda Desenhada americana, reeditada este ano pela Dark Horse, numa edição revista e actualizada, e organizado inúmeras exposições de, e sobre, Banda Desenhada, nos EUA e no resto do mundo, incluíndo em Portugal, onde foi, com João P. Boléo, comissário da Exposição dedicada aos Super-Heróis, patente na edição do Festival da Amadora de 2000.
Mas já antes disso, em 1996 e também em 1992, Robinson tinha passado pelo Festival da Amadora, com uma exposição individual sobre o seu trabalho na série "Batman". Foi nessa primeira ocasião que o entrevistei, com o João Ramalho Santos, para o programa Balada do Mar Salgado, da Rádio Universidade de Coimbra e recordo um indivíduo de grande simpatia e inteligência e excelente conversador.
Robinson, que foi também professor na School of Visual Arts, de Nova Iorque, tal como Will Eisner, foi dos primeiros criadores a ter noção da importância dos originais de Banda Desenhada, como documento histórico e objecto artístico, o que lhe permitiu salvar a maioria das pranchas e capas que desenhou, numa altura em que as gráficas destruiam os originais depois de imprimirem os livros, entre as quais a famosa a primeira capa da revista Detective Comics com a primeira aparição do Joker, leiloada o ano passado.
Presidente do sindicato dos cartoonistas americanos durante algum tempo, Robinson bateu-se sempre pelos direitos dos criadores, tendo sido um dos responsáveis pela pensão que a DC Comics atribuiu a Jerry Siegel e Joe Shuster, aquando da estreia do primeiro filme de Superman.
* Agradecimentos ao Pedro Mota, pelas correcções
Mas já antes disso, em 1996 e também em 1992, Robinson tinha passado pelo Festival da Amadora, com uma exposição individual sobre o seu trabalho na série "Batman". Foi nessa primeira ocasião que o entrevistei, com o João Ramalho Santos, para o programa Balada do Mar Salgado, da Rádio Universidade de Coimbra e recordo um indivíduo de grande simpatia e inteligência e excelente conversador.
Robinson, que foi também professor na School of Visual Arts, de Nova Iorque, tal como Will Eisner, foi dos primeiros criadores a ter noção da importância dos originais de Banda Desenhada, como documento histórico e objecto artístico, o que lhe permitiu salvar a maioria das pranchas e capas que desenhou, numa altura em que as gráficas destruiam os originais depois de imprimirem os livros, entre as quais a famosa a primeira capa da revista Detective Comics com a primeira aparição do Joker, leiloada o ano passado.
Presidente do sindicato dos cartoonistas americanos durante algum tempo, Robinson bateu-se sempre pelos direitos dos criadores, tendo sido um dos responsáveis pela pensão que a DC Comics atribuiu a Jerry Siegel e Joe Shuster, aquando da estreia do primeiro filme de Superman.
* Agradecimentos ao Pedro Mota, pelas correcções
domingo, 4 de dezembro de 2011
Os ratos Guerreiros: de Mouse Guard a Mice Templar
Dos patos da Disney às Tartarugas Ninja de Eastman e Laird, passando por um clássico como La Bête est Morte, de Calvo, que quase 50 anos antes do Maus, de Art Spiegelman, descreve os acontecimentos da II Guerra Mundial, usando animais antropomorfizados em vez de humanos, até Usagi Yojimbo, o coelho samurai de Stan Sakai e os romances e as BDs protagonizadas por Gerónimo Stilton, não faltam exemplos de histórias de Banda Desenhada protagonizadas por animais antropomorfizados, que em alguns casos, podiam sem grandes alterações ter personagens humanas como heróis. É o caso de The Mice Templar, de Bryan J. L. Glass e Michael Avon Oeming e de Mouse Guard, de David Petersen, duas séries recentes de fantasia medieval, que têm a particularidade de serem protagonizadas por pequenos ratos hábeis com a espada.
Apesar de as duas séries terem chegado às livrarias americanas quase ao mesmo tempo (Mouse Guard em 2006 e The Mice Templar em 2007), isso não passou de uma coincidência, pois Michael Avon Oeming publicou a primeira história dos ratos templários no seu blog em 1997, para só voltar ao projecto em 2003, já com Glass como co-argumentista, enquanto que Petersen começou a trabalhar a ideia durante o liceu, influenciado pelo filme Robin Hood da Disney e pelo universo do jogo Dungeons and Dragons, para voltar a pegar nela já nos seus tempos na universidade, desta vez numa perspectiva "mais próxima das fábulas de Esopo, em que os animais são mesmo animais”.
De qualquer modo nenhum dos autores acusa o outro de lhe ter roubado a ideia. Ideia essa que, como vimos, não é propriamente original e que Bill Willingham (o criador da série Fables, onde, curiosamente, há uma Mouse Police...) no prefácio ao 1º volume de The Mice Templar, remonta a Reepicheep, o ratinho espadachim das Crónicas de Nárnia, de C. S. Lewis. E a comprovar a boa relação de Oeming e Glass, com Petersen, está o projecto de uma cross-over entre Mouse Guard e The Mice Templar, em que participaria também a Mouse Police, de Willingham, numa história curta destinada a ser publicada em alguma iniciativa de apoio à indústria dos comics e aos direitos dos seus criadores.
Mas vejamos um pouco melhor estas duas histórias, tão semelhantes na sua premissa inicial, mas bem diferentes na forma como a desenvolvem, começando pela Mouse Guard, de David Petersen.
Projecto independente, escrito, desenhado e editado pelo próprio David Petersen e distribuído pela Editora Archaia, The Mouse Guard foi inicialmente publicado no formato de mini-séries, antes de cada história ser recolhida em livro. Optando por um pouco convencional formato quadrado, a série não teve dificuldade em sobressair no meio das centenas de comics publicados mensalmente, pois o seu formato diferente trouxe-lhe uma maior visibilidade. Como explica Petersen: “como a maioria das lojas especializadas têm prateleiras e divisórias com formatos fixos, onde a minha revista não cabia, acabaram por a colocar no balcão, ao lado da caixa registadora, ou em mostruários, e isso funcionou muito bem em termos comerciais.(…) “O primeiro número foi lançado a uma quarta-feira, dois dias antes da 1ª New York Comic Con (um dos maiores Festivais de BD americanos, a par com San Diego) e tive vários lojistas que foram ter comigo ao meu stand durante a convenção, para buscar mais comics, pois em dois dias tinham esgotado duzentos e cinquenta exemplares da minha revista. Foi aí que percebi que The Mouse Guard ia ser um sucesso!”
A série relata as aventuras da Mouse Guard, uma ordem militar criada para proteger os ratos durante as viagens entre as diversas cidades escondidas, quando têm que atravessar zonas onde ficam muito mais expostos ao predadores naturais, como corujas, cobras, ou doninhas.
Ou seja, apesar do contexto de fantasia medieval, com ratos guerreiros, cidades escondidas e templos subterrâneos, há uma grande preocupação naturalista na forma como os ratos e os seus inimigos são representados e se movimentam, com Petersen a desenhar a partir de fotografias de animais, ou utilizando animais mortos como referência, como na cena do primeiro livro em que os ratos são atacados por caranguejos à beira-mar, desenhada a partir dos caranguejos que Petersen comprou no mercado.Depois das duas primeiras mini-séries, Fall 1152 e Winter 1152, a terceira série, The Black Axe, actualmente em publicação, é uma prequela que conta a história de Celanawe e de como ele descobriu o machado negro, uma arma mítica cujo poder os leitores descobriram na segunda série. Pelo meio, ainda houve espaço para Legends of the Guard, uma antologia em que diversos autores, entre os quais o português João Lemos (como já vimos na última Bang!) prestam a sua homenagem aos ratos de Petersen, escrevendo e desenhando uma história passada naquele universo. O ponto de partida de Legends of the Guard, é o mesmo dos Canterbury Tales, ou de World’s End, um arco de histórias do Sandman de Neil Gaiman, com uma série de personagens reunidas numa estalagem, que contam histórias para passar o tempo, encarregando-se Petersen das páginas de ligação entre as várias histórias desta antologia, premiada na última San Diego Comic Convention, com o Eisner (o mais prestigiado prémio da indústria dos comics, uma espécie de Óscar da BD) para a melhor antologia, elevando para três o número de Eisners ganhos pela série.Mas o sucesso da Mouse Guard não se ficou só pela Banda Desenhada, pois a série deu origem a um premiado jogo de Role Play, criado por Petersen e pelo designer de jogos Luke Crane, que desenvolve o universo da série. Série essa que poderá chegar também ao cinema, pois não faltam estúdios e realizadores interessados nisso.
Se Mouse Guard deu a conhecer David Petersen aos leitores, já Michael Avon Oeming não precisou da série The Mice Templar para isso. Desenhador da popular série Powers, escrita por Brian Michael Bendis, Oeming não é estranho ao género da fantasia, pois foi o argumentista dos primeiros números da nova versão de Red Sonja, a guerreira criada por Robert E. Howard na série Conan. E o mundo em que se movem os ratos templários de Oeming está bem mais próximo do universo de Howard, ou de Tolkien, do que do de Petersen.
Se Mouse Guard é uma obra coral, com o protagonismo a ser dividido por meia dúzia de ratos guerreiros, The Mice Templar tem um herói bem definido, o jovem Karic, cujo percurso iniciático acompanhamos ao longo da série, desde que um exército de ratazanas ataca a sua aldeia, matando ou fazendo prisioneiros os seus familiares. O título do primeiro volume, The Prophecy deixa logo perceber que Karic, apesar da sua aparente fraqueza, é o escolhido pelo Deus Wotan para restaurar a antiga glória da Ordem dos Ratos Templários, que dissenções internas tinham levado à decadência.
Prevista para quatro volumes, a série viu no segundo volume Michael Avon Oeming ceder o lugar ao espanhol Victor Santos como desenhador principal, de modo a conseguir manter um ritmo de publicação regular, algo que não tinha sido conseguido na primeira série, devido aos muitos afazeres de Oeming. Conhecido nos EUA graças à sua colaboração com Brian Azzarello (100 Bullets) em Filthy Rich, uma novela gráfica que inaugurou a colecção Vertigo Crime, Santos não é estranho ao universo da fantasia, tendo criado uma série muito popular em Espanha, Los Reyes Elfos (cujo primeiro volume foi publicado em Portugal pela Polvo) que se move nas mesmas águas. Curiosamente, por estar ocupado a desenhar The Mice Templar, Santos viu-se obrigado a convidar outros desenhadores espanhóis, como Vicente Cinfuentes, para desenhar Los Reyes Elfos…
Passada num universo de fantasia, onde há deuses, demónios e até um gato zombie, The Mice Templar tem uma carga de fantástico que não existe em The Mouse Guard, do mesmo modo que os diálogos e a narração têm um peso muito maior na série de Oeming e Glass do que na de Petersen, em que os diálogos são bastante mais sucintos e não existe um narrador. Do mesmo modo, enquanto a condição de ratos é inerente ao comportamento das personagens da Mouse Guard, já a história de The Mice Templar podia perfeitamente ser contada com recurso a humanos, ou a outros animais, em vez dos ratos estilizados de grandes orelhas, criados por Oeming.
Entre a sangrenta fantasia clássica protagonizada por ratos, de Oeming, Glass e Santos, ou a fábula para todas as idades criada por Petersen, cabe ao leitor escolher qual a que prefere, sabendo que em ambas vai encontrar ratos guerreiros e uma leitura agradável.
Texto originalmente publicado no nº 11 da revista Bang!, de Outubro de 2011
Apesar de as duas séries terem chegado às livrarias americanas quase ao mesmo tempo (Mouse Guard em 2006 e The Mice Templar em 2007), isso não passou de uma coincidência, pois Michael Avon Oeming publicou a primeira história dos ratos templários no seu blog em 1997, para só voltar ao projecto em 2003, já com Glass como co-argumentista, enquanto que Petersen começou a trabalhar a ideia durante o liceu, influenciado pelo filme Robin Hood da Disney e pelo universo do jogo Dungeons and Dragons, para voltar a pegar nela já nos seus tempos na universidade, desta vez numa perspectiva "mais próxima das fábulas de Esopo, em que os animais são mesmo animais”.
De qualquer modo nenhum dos autores acusa o outro de lhe ter roubado a ideia. Ideia essa que, como vimos, não é propriamente original e que Bill Willingham (o criador da série Fables, onde, curiosamente, há uma Mouse Police...) no prefácio ao 1º volume de The Mice Templar, remonta a Reepicheep, o ratinho espadachim das Crónicas de Nárnia, de C. S. Lewis. E a comprovar a boa relação de Oeming e Glass, com Petersen, está o projecto de uma cross-over entre Mouse Guard e The Mice Templar, em que participaria também a Mouse Police, de Willingham, numa história curta destinada a ser publicada em alguma iniciativa de apoio à indústria dos comics e aos direitos dos seus criadores.
Mas vejamos um pouco melhor estas duas histórias, tão semelhantes na sua premissa inicial, mas bem diferentes na forma como a desenvolvem, começando pela Mouse Guard, de David Petersen.
Projecto independente, escrito, desenhado e editado pelo próprio David Petersen e distribuído pela Editora Archaia, The Mouse Guard foi inicialmente publicado no formato de mini-séries, antes de cada história ser recolhida em livro. Optando por um pouco convencional formato quadrado, a série não teve dificuldade em sobressair no meio das centenas de comics publicados mensalmente, pois o seu formato diferente trouxe-lhe uma maior visibilidade. Como explica Petersen: “como a maioria das lojas especializadas têm prateleiras e divisórias com formatos fixos, onde a minha revista não cabia, acabaram por a colocar no balcão, ao lado da caixa registadora, ou em mostruários, e isso funcionou muito bem em termos comerciais.(…) “O primeiro número foi lançado a uma quarta-feira, dois dias antes da 1ª New York Comic Con (um dos maiores Festivais de BD americanos, a par com San Diego) e tive vários lojistas que foram ter comigo ao meu stand durante a convenção, para buscar mais comics, pois em dois dias tinham esgotado duzentos e cinquenta exemplares da minha revista. Foi aí que percebi que The Mouse Guard ia ser um sucesso!”
A série relata as aventuras da Mouse Guard, uma ordem militar criada para proteger os ratos durante as viagens entre as diversas cidades escondidas, quando têm que atravessar zonas onde ficam muito mais expostos ao predadores naturais, como corujas, cobras, ou doninhas.
Ou seja, apesar do contexto de fantasia medieval, com ratos guerreiros, cidades escondidas e templos subterrâneos, há uma grande preocupação naturalista na forma como os ratos e os seus inimigos são representados e se movimentam, com Petersen a desenhar a partir de fotografias de animais, ou utilizando animais mortos como referência, como na cena do primeiro livro em que os ratos são atacados por caranguejos à beira-mar, desenhada a partir dos caranguejos que Petersen comprou no mercado.Depois das duas primeiras mini-séries, Fall 1152 e Winter 1152, a terceira série, The Black Axe, actualmente em publicação, é uma prequela que conta a história de Celanawe e de como ele descobriu o machado negro, uma arma mítica cujo poder os leitores descobriram na segunda série. Pelo meio, ainda houve espaço para Legends of the Guard, uma antologia em que diversos autores, entre os quais o português João Lemos (como já vimos na última Bang!) prestam a sua homenagem aos ratos de Petersen, escrevendo e desenhando uma história passada naquele universo. O ponto de partida de Legends of the Guard, é o mesmo dos Canterbury Tales, ou de World’s End, um arco de histórias do Sandman de Neil Gaiman, com uma série de personagens reunidas numa estalagem, que contam histórias para passar o tempo, encarregando-se Petersen das páginas de ligação entre as várias histórias desta antologia, premiada na última San Diego Comic Convention, com o Eisner (o mais prestigiado prémio da indústria dos comics, uma espécie de Óscar da BD) para a melhor antologia, elevando para três o número de Eisners ganhos pela série.Mas o sucesso da Mouse Guard não se ficou só pela Banda Desenhada, pois a série deu origem a um premiado jogo de Role Play, criado por Petersen e pelo designer de jogos Luke Crane, que desenvolve o universo da série. Série essa que poderá chegar também ao cinema, pois não faltam estúdios e realizadores interessados nisso.
Se Mouse Guard deu a conhecer David Petersen aos leitores, já Michael Avon Oeming não precisou da série The Mice Templar para isso. Desenhador da popular série Powers, escrita por Brian Michael Bendis, Oeming não é estranho ao género da fantasia, pois foi o argumentista dos primeiros números da nova versão de Red Sonja, a guerreira criada por Robert E. Howard na série Conan. E o mundo em que se movem os ratos templários de Oeming está bem mais próximo do universo de Howard, ou de Tolkien, do que do de Petersen.
Se Mouse Guard é uma obra coral, com o protagonismo a ser dividido por meia dúzia de ratos guerreiros, The Mice Templar tem um herói bem definido, o jovem Karic, cujo percurso iniciático acompanhamos ao longo da série, desde que um exército de ratazanas ataca a sua aldeia, matando ou fazendo prisioneiros os seus familiares. O título do primeiro volume, The Prophecy deixa logo perceber que Karic, apesar da sua aparente fraqueza, é o escolhido pelo Deus Wotan para restaurar a antiga glória da Ordem dos Ratos Templários, que dissenções internas tinham levado à decadência.
Prevista para quatro volumes, a série viu no segundo volume Michael Avon Oeming ceder o lugar ao espanhol Victor Santos como desenhador principal, de modo a conseguir manter um ritmo de publicação regular, algo que não tinha sido conseguido na primeira série, devido aos muitos afazeres de Oeming. Conhecido nos EUA graças à sua colaboração com Brian Azzarello (100 Bullets) em Filthy Rich, uma novela gráfica que inaugurou a colecção Vertigo Crime, Santos não é estranho ao universo da fantasia, tendo criado uma série muito popular em Espanha, Los Reyes Elfos (cujo primeiro volume foi publicado em Portugal pela Polvo) que se move nas mesmas águas. Curiosamente, por estar ocupado a desenhar The Mice Templar, Santos viu-se obrigado a convidar outros desenhadores espanhóis, como Vicente Cinfuentes, para desenhar Los Reyes Elfos…
Passada num universo de fantasia, onde há deuses, demónios e até um gato zombie, The Mice Templar tem uma carga de fantástico que não existe em The Mouse Guard, do mesmo modo que os diálogos e a narração têm um peso muito maior na série de Oeming e Glass do que na de Petersen, em que os diálogos são bastante mais sucintos e não existe um narrador. Do mesmo modo, enquanto a condição de ratos é inerente ao comportamento das personagens da Mouse Guard, já a história de The Mice Templar podia perfeitamente ser contada com recurso a humanos, ou a outros animais, em vez dos ratos estilizados de grandes orelhas, criados por Oeming.
Entre a sangrenta fantasia clássica protagonizada por ratos, de Oeming, Glass e Santos, ou a fábula para todas as idades criada por Petersen, cabe ao leitor escolher qual a que prefere, sabendo que em ambas vai encontrar ratos guerreiros e uma leitura agradável.
Texto originalmente publicado no nº 11 da revista Bang!, de Outubro de 2011
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terça-feira, 29 de novembro de 2011
Dog Mendonça: capa da edição americana e novo trailler - ACTUALIZADO
Julgo que não será grande novidade que o 1º volume das aventuras de Dog Mendonça, de Filipe Melo e Juan Cavia vai ser editado nos EUA pela Dark horse em 2012. O que é novidade é a capa da edição americana, que vai ser lançada em 23 de Maio de 2012. A capa, que vai ser usada também na edição brasileira da Devir, a editar em Setembro de 2012, começou a ser pensada em minha casa, depois das sessões de autógrafos que Filipe Melo, Juan Cavia e Santiago Villa deram em Coimbra no dia 9 de Novembro, pelo que é com especial prazer que aqui divulgo a versão final.
Também já está on-line o trailler que João Alves, o premiado realizador de Bats on the Bellfry, criou para o 2º volume da série e que conta com Nicolau Breyner (que esteve para fazer de Dog Mendonça quando Filipe Melo ainda pensava contar a história em filme) a dar finalmente a voz a Dog Mendonça, num divertido vídeo, que deve ser visto até ao fim (a não ser que se goste de tunas..)
Também já está on-line o trailler que João Alves, o premiado realizador de Bats on the Bellfry, criou para o 2º volume da série e que conta com Nicolau Breyner (que esteve para fazer de Dog Mendonça quando Filipe Melo ainda pensava contar a história em filme) a dar finalmente a voz a Dog Mendonça, num divertido vídeo, que deve ser visto até ao fim (a não ser que se goste de tunas..)
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domingo, 27 de novembro de 2011
As Cidades de Ricardo Cabral
Depois de “Israel Sketchbook” e “Newborn: Dez Dias no Kosovo” o desenhador viajante Ricardo Cabral regressa às suas histórias de viagens, desta vez com uma recolha de cinco histórias curtas, desenhadas entre Janeiro de 2009 e Janeiro de 2011, tendo diversas cidades como cenário e protagonistas.
São cinco histórias soltas, duas inéditas e três outras feitas originalmente para diferentes locais, mas que resultam num todo orgânico e coerente, que funciona como uma evolução natural dos anteriores livros de viagens de Ricardo Cabral. Ou seja, o método de recolha de imagens e de trabalho é o mesmo, com o autor a fazer o desenho inicial no local, complementado com fotografia, que permite captar pormenores, como as cores, que o esboço inicial não regista e que servem de base ao posterior trabalho de cor digital.
Nesse aspecto, histórias como “5 Jours” e “Barcelona, Kosovo, Barcelona” funcionam como um pouco como making off dos anteriores livros de Ricardo Cabral, que tal como já tinha feito em “Newborn” decompõe as várias fases do seu método de trabalho, com imagens em que o desenho se mistura ostensivamente com a fotografia, ou outras em que apenas as personagens têm cor, deixando os cenários tal com os esboçou na altura no seu caderno Moleskin. Um caderno muito provavelmente semelhante aos acabados de lançar com um desenho seu do Porto de Barcelona, cuja imagem aparece reproduzida na página 74 do livro, e aqui reproduzo, numa óbvia auto-citação.
Num livro essencialmente realista, com uma forte carga autobiográfica, todo ele construído num registo de câmara subjectiva (o rosto do autor nunca aparece nos desenhos e o leitor vê apenas aquilo que o desenhador está ver e a desenhar), não deixa de ser curioso o toque fantástico dado pelas criaturas coloridas que parecem saídas de um filme de Miyazaki, como o elefante côr de rosa de Lodz, ou os deliciosos monstrinhos que invadem o Lisbon Studio durante a noite.
Para além de um livro muito bonito, que tem o mérito de reunir no mesmo sítio a produção dispersa de Ricardo Cabral, "Pontas Soltas – Cidades” é mais um importante passo no trajecto de um autor que, entre a Banda Desenhada e os cadernos de viagens, tem sabido construir uma obra singular e de grande qualidade.
(“Pontas Soltas – Cidades”, de Ricardo Cabral, Edições Asa, 92 pags, 17,95 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 26/11/2011
São cinco histórias soltas, duas inéditas e três outras feitas originalmente para diferentes locais, mas que resultam num todo orgânico e coerente, que funciona como uma evolução natural dos anteriores livros de viagens de Ricardo Cabral. Ou seja, o método de recolha de imagens e de trabalho é o mesmo, com o autor a fazer o desenho inicial no local, complementado com fotografia, que permite captar pormenores, como as cores, que o esboço inicial não regista e que servem de base ao posterior trabalho de cor digital.
Nesse aspecto, histórias como “5 Jours” e “Barcelona, Kosovo, Barcelona” funcionam como um pouco como making off dos anteriores livros de Ricardo Cabral, que tal como já tinha feito em “Newborn” decompõe as várias fases do seu método de trabalho, com imagens em que o desenho se mistura ostensivamente com a fotografia, ou outras em que apenas as personagens têm cor, deixando os cenários tal com os esboçou na altura no seu caderno Moleskin. Um caderno muito provavelmente semelhante aos acabados de lançar com um desenho seu do Porto de Barcelona, cuja imagem aparece reproduzida na página 74 do livro, e aqui reproduzo, numa óbvia auto-citação.
Num livro essencialmente realista, com uma forte carga autobiográfica, todo ele construído num registo de câmara subjectiva (o rosto do autor nunca aparece nos desenhos e o leitor vê apenas aquilo que o desenhador está ver e a desenhar), não deixa de ser curioso o toque fantástico dado pelas criaturas coloridas que parecem saídas de um filme de Miyazaki, como o elefante côr de rosa de Lodz, ou os deliciosos monstrinhos que invadem o Lisbon Studio durante a noite.
Para além de um livro muito bonito, que tem o mérito de reunir no mesmo sítio a produção dispersa de Ricardo Cabral, "Pontas Soltas – Cidades” é mais um importante passo no trajecto de um autor que, entre a Banda Desenhada e os cadernos de viagens, tem sabido construir uma obra singular e de grande qualidade.
(“Pontas Soltas – Cidades”, de Ricardo Cabral, Edições Asa, 92 pags, 17,95 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 26/11/2011
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domingo, 13 de novembro de 2011
O Pequeno Deus Cego
Embora nos últimos anos se tenha dedicado mais à literatura do que à Banda Desenhada, David Soares viu ainda assim serem lançados no último Festival da Amadora, dois novos livros de BD escritos por si: “É de Noite que Faço as Perguntas” e o “Pequeno Deus Cego”. Se o primeiro já foi objecto de análise neste espaço, é chegada a altura de falar de “O pequeno Deus Cego”, mais um pequeno conto de terror de Soares, que a Kingpin edita, tal como fez com “Mucha”.
A ilustrar esta fábula de terror oriental, escrita por David Soares, está Pedro Serpa, um jovem desenhador que depois de uma participação no álbum colectivo “Sete Histórias em Busca de uma Alternativa”, assina aqui o seu primeiro trabalho de grande fôlego, ilustrando e colorindo uma história de 44 páginas, ambientada numa China mais mítica do que real. E, tal como tinha feito com Daniel Silvestre Silva em “É de Noite…” mais uma vez Soares dá a descobrir um novo desenhador cheio de potencial.
O traço “linha clara” e as cores planas de Serpa, adequam-se estranhamente a esta história cruel, mas o mais interessante é a forma como a história está planificada, com a divisão habitual da página em nove vinhetas, tão cara a David Soares, a dar por vezes lugar a vinhetas panorâmicas, que permitem um outro destaque ao traço de Serpa e a imagens de página inteira e até dupla página, que pontuam momentos importantes da acção, como a primeira vez que vemos o rosto da pequena Sem-Olhos, ou a espectacular imagem de Wang, o Castrador na sua caverna.
Embora o panda, a imagem do dragão e as mutilações dos pés, remetam para a cultura chinesa, o clima desta história cheia de elementos fantásticos, mas onde a verdadeira incarnação do mal é a mãe do protagonista, recorda mais o terror japonês, tanto da BD de Junji Ito, como do cinema de Takashi Miike.
Não sendo do melhor que David Soares já fez em BD, “O Pequeno Deus Cego” é um muito bem conseguido exercício de estilo, que revela em Pedro Serpa um novo desenhador a seguir com atenção.
(“O Pequeno Deus Cego”, de David Soares e Pedro Serpa, Kingpin Books, 84 pags, 10,95€ )
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 12/11/2011
A ilustrar esta fábula de terror oriental, escrita por David Soares, está Pedro Serpa, um jovem desenhador que depois de uma participação no álbum colectivo “Sete Histórias em Busca de uma Alternativa”, assina aqui o seu primeiro trabalho de grande fôlego, ilustrando e colorindo uma história de 44 páginas, ambientada numa China mais mítica do que real. E, tal como tinha feito com Daniel Silvestre Silva em “É de Noite…” mais uma vez Soares dá a descobrir um novo desenhador cheio de potencial.
O traço “linha clara” e as cores planas de Serpa, adequam-se estranhamente a esta história cruel, mas o mais interessante é a forma como a história está planificada, com a divisão habitual da página em nove vinhetas, tão cara a David Soares, a dar por vezes lugar a vinhetas panorâmicas, que permitem um outro destaque ao traço de Serpa e a imagens de página inteira e até dupla página, que pontuam momentos importantes da acção, como a primeira vez que vemos o rosto da pequena Sem-Olhos, ou a espectacular imagem de Wang, o Castrador na sua caverna.
Embora o panda, a imagem do dragão e as mutilações dos pés, remetam para a cultura chinesa, o clima desta história cheia de elementos fantásticos, mas onde a verdadeira incarnação do mal é a mãe do protagonista, recorda mais o terror japonês, tanto da BD de Junji Ito, como do cinema de Takashi Miike.
Não sendo do melhor que David Soares já fez em BD, “O Pequeno Deus Cego” é um muito bem conseguido exercício de estilo, que revela em Pedro Serpa um novo desenhador a seguir com atenção.
(“O Pequeno Deus Cego”, de David Soares e Pedro Serpa, Kingpin Books, 84 pags, 10,95€ )
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 12/11/2011
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terça-feira, 8 de novembro de 2011
Dia 9, pelas 18h30m, eles vão estar na Dr Kartoon
Tal como aconteceu com o lançamento do 1º volume, Filipe Melo, Juan Cavia e Santiago Villa regressam à Livraria Dr Kartoon para uma sessão de autógrafos e lançamento do 2º volume das Aventuras de dog Mendonça e Pizzaboy. Se estiverem por Coimbra, apareçam! Vai ser uma tarde bem passada.
No dia seguinte, às 11h da manhã, os autores de Dog Mendonça vão estar em Guimarães, na ESAP, para uma aula/conferência dirigida aos alunos da Licenciatura de Banda Desenhada e Ilustração, mas aberta ao público em geral, interessado em perceber como se faz BD.
No dia seguinte, às 11h da manhã, os autores de Dog Mendonça vão estar em Guimarães, na ESAP, para uma aula/conferência dirigida aos alunos da Licenciatura de Banda Desenhada e Ilustração, mas aberta ao público em geral, interessado em perceber como se faz BD.
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domingo, 6 de novembro de 2011
O regresso de Dog Mendonça
Lançado com estrondoso sucesso durante o Festival da Amadora, o 2º volume das aventuras de Dog Mendonça, prepara-se para conhecer o mesmo sucesso nas livrarias de todo o país. Orgulhoso representante de uma espécie rara na BD portuguesa, a dos heróis, o carismático detective/lobisomem criado por Filipe Melo, tem desta vez como missão evitar o fim do mundo, num percurso que o leva (e aos seus companheiros habituais) de Lisboa a Fátima, onde tem que enfrentar o anti-Cristo, com a ajuda de uma Bíblia infantil e de um demónio de seis mil anos, que finalmente mostra a sua verdadeira face.
Se a escala é muito mais épica do que no livro anterior, com pragas bíblicas, um monstro de sete cabeças na Rotunda do Marquês de Pombal, zombies e os quatro cavaleiros do apocalipse, a deixarem Portugal (ainda mais) de pantanas, o humor mantém-se em alta, ao serviço de uma história divertidíssima e que se lê de um fôlego. Se na primeira aventura, o destaque maior entre os secundários, ia para a gárgula (cujo verdadeiro nome é finalmente revelado) desta vez é Pazuzul a roubar o protagonismo, mesmo que ainda fique muito por contar sobre este demónio que se esconde no corpo de uma menina. Numa série que joga abertamente com o conhecimento do leitor da cultura pop, desta vez as referências ao cinema já não são tão dominantes, abrindo também espaço a homenagens ao mangá (o anti-Cristo e a sequência final em Fátima evocam o “Akira” de Katshuiro Otomo) e a piscadelas de olho a outros trabalhos de Filipe Melo, de I’ll See You in My Dreams” a “Um Mundo Catita”.
Em termos gráficos, são evidentes os progressos, tanto no traço de Juan Cavia, como nas cores de Santiago Villa, que assinam algumas páginas verdadeiramente espectacularese, a que a impressão do livro nem sempre faz justiça, com algumas páginas demasiado escuras e até, aparentemente desfocadas, o que é uma pena num trabalho com uma qualidade de produção altíssima.
Desde o Jim Del Mónaco de Louro e Simões, nos anos 80, que a BD portuguesa se tem caracterizado por ser uma BD de autor, o que tem dado origem a alguns trabalhos de grande qualidade, mas de impacto comercial bastante limitado. Por isso, são trabalhos como a muito bem conseguida homenagem de Filipe Melo e “sus muchachos” (os argentinos Juan Cavia e Santiago Villa) à BD e ao cinema de terror, que poderão levar o grande público a (re)descobrir a BD nacional. E este sucesso comercial evidente (o primeiro volume já esgotou 3 edições) não parece que vá ficar limitado a Portugal. Além de uma série de 4 histórias inéditas, que desvendam a origem de Dog Mendonça, feitas para a revista americana “Dark Horse Presents”, onde o trabalho de Filipe Melo e Juan Cavia surge ao lado de autores como Mike Mignola, Richard Corben, Neal Adams, ou Dave Gibbons, a preparar o caminho para a edição dos álbuns nos EUA, a Devir já adquiriu os direitos do 1º álbum para o mercado brasileiro.
Este sucesso comercial só é possível porque as pessoas sabem que a série existe, o que nem sempre acontece com muitas outras BDs de igual, ou até superior qualidade, mas que passam despercebidas nas livrarias. E isso deve-se a uma bem orquestrada campanha de divulgação, que engloba uma tournée pelo pais, que passa pela Livraria Dr Kartoon, no dia 9 de Novembro pelas 18h30m, mupis, um novo site e um trailler da BD em que Nicolau Breyner dá a voz a Dog Mendonça, tudo isto suportado pelo próprio Filipe Melo que, como a editora não tinha orçamento para este tipo de divulgação, em vez de se lamentar, decidiu ele próprio deitar mãos à obra, com o mesmo dinamismo e simpatia com que conseguiu convencer George Romero a assinar o prefácio do 2º volume.
Pelo entusiasmo contagiante que trouxe a este projecto de Banda Desenhada, para o qual conseguiu arrastar pessoas de diversas áreas e por ter provado que é possível fazer BD comercial de qualidade no nosso país, com sucesso, Filipe Melo foi, muito provavelmente, das melhores coisas que aconteceram à BD portuguesa nos últimos anos!
(“As extraordinárias Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy II: Apocalipse”, de Filipe Melo e Juan Cavia, Tinta da China, 112 pags, 16,90 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 5/11/2011
Se a escala é muito mais épica do que no livro anterior, com pragas bíblicas, um monstro de sete cabeças na Rotunda do Marquês de Pombal, zombies e os quatro cavaleiros do apocalipse, a deixarem Portugal (ainda mais) de pantanas, o humor mantém-se em alta, ao serviço de uma história divertidíssima e que se lê de um fôlego. Se na primeira aventura, o destaque maior entre os secundários, ia para a gárgula (cujo verdadeiro nome é finalmente revelado) desta vez é Pazuzul a roubar o protagonismo, mesmo que ainda fique muito por contar sobre este demónio que se esconde no corpo de uma menina. Numa série que joga abertamente com o conhecimento do leitor da cultura pop, desta vez as referências ao cinema já não são tão dominantes, abrindo também espaço a homenagens ao mangá (o anti-Cristo e a sequência final em Fátima evocam o “Akira” de Katshuiro Otomo) e a piscadelas de olho a outros trabalhos de Filipe Melo, de I’ll See You in My Dreams” a “Um Mundo Catita”.
Em termos gráficos, são evidentes os progressos, tanto no traço de Juan Cavia, como nas cores de Santiago Villa, que assinam algumas páginas verdadeiramente espectacularese, a que a impressão do livro nem sempre faz justiça, com algumas páginas demasiado escuras e até, aparentemente desfocadas, o que é uma pena num trabalho com uma qualidade de produção altíssima.
Desde o Jim Del Mónaco de Louro e Simões, nos anos 80, que a BD portuguesa se tem caracterizado por ser uma BD de autor, o que tem dado origem a alguns trabalhos de grande qualidade, mas de impacto comercial bastante limitado. Por isso, são trabalhos como a muito bem conseguida homenagem de Filipe Melo e “sus muchachos” (os argentinos Juan Cavia e Santiago Villa) à BD e ao cinema de terror, que poderão levar o grande público a (re)descobrir a BD nacional. E este sucesso comercial evidente (o primeiro volume já esgotou 3 edições) não parece que vá ficar limitado a Portugal. Além de uma série de 4 histórias inéditas, que desvendam a origem de Dog Mendonça, feitas para a revista americana “Dark Horse Presents”, onde o trabalho de Filipe Melo e Juan Cavia surge ao lado de autores como Mike Mignola, Richard Corben, Neal Adams, ou Dave Gibbons, a preparar o caminho para a edição dos álbuns nos EUA, a Devir já adquiriu os direitos do 1º álbum para o mercado brasileiro.
Este sucesso comercial só é possível porque as pessoas sabem que a série existe, o que nem sempre acontece com muitas outras BDs de igual, ou até superior qualidade, mas que passam despercebidas nas livrarias. E isso deve-se a uma bem orquestrada campanha de divulgação, que engloba uma tournée pelo pais, que passa pela Livraria Dr Kartoon, no dia 9 de Novembro pelas 18h30m, mupis, um novo site e um trailler da BD em que Nicolau Breyner dá a voz a Dog Mendonça, tudo isto suportado pelo próprio Filipe Melo que, como a editora não tinha orçamento para este tipo de divulgação, em vez de se lamentar, decidiu ele próprio deitar mãos à obra, com o mesmo dinamismo e simpatia com que conseguiu convencer George Romero a assinar o prefácio do 2º volume.
Pelo entusiasmo contagiante que trouxe a este projecto de Banda Desenhada, para o qual conseguiu arrastar pessoas de diversas áreas e por ter provado que é possível fazer BD comercial de qualidade no nosso país, com sucesso, Filipe Melo foi, muito provavelmente, das melhores coisas que aconteceram à BD portuguesa nos últimos anos!
(“As extraordinárias Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy II: Apocalipse”, de Filipe Melo e Juan Cavia, Tinta da China, 112 pags, 16,90 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 5/11/2011
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domingo, 30 de outubro de 2011
Spielberg leva Tintin ao cinema
Pouco menos de trinta anos após os primeiros contactos, eis que se concretiza o sonho de Hergé de ver o seu Tintin adaptado ao cinema por Steven Spielberg. Tudo começou em 1981, quando Spielberg intrigado com as referências a Tintin nas críticas francesas ao primeiro filme da série “Indiana Jones”, decidiu ler os álbuns de Hergé, nascendo logo aí a vontede de levar Tintin ao cinema. Os primeiros contactos entre Hergé e Spielberg remontam a finais de 1982, mas os dois criadores nunca se chegaram a encontrar pessoalmente, pois Hergé morreu em Março de 1983. Mesmo assim, Spielberg adquire os direitos de Tintin em 1984, para acabar por deixar cair o projecto, que só será retomado décadas depois, quando a evolução da tecnologia o permite.
Descartada a opção do filme com imagens reais, a opção recai na animação em stop motion, técnica usada por Robert Zemeckis, um dos colaboradores habituais de Spielberg, com resultados discutíveis, mas que graças ao filme “Avatar”, de James Cameron, evoluiu muitíssimo nos últimos anos. E, apesar da estranheza inicial de ver um tratamento hiperealista a figuras caricaturais e estilizadas (a aparente simplicidade da “linha clara” de Hergé) o resultado final é muito eficaz e convincente. Parafraseando o célebre slogan publicitário de Fernando Pessoa para a Coca Cola, “primeiro estranha-se, mas depois entranha-se”.
Para isso também contribuem as soluções encontradas para fazer a transição entre os dois registos gráficos, começando pelo excelente genérico do filme, que evoca todas as aventuras de Tintin, até à sequência inicial em que vemos Hergé a desenhar Tintin no seu estilo habitual.
Em termos de história, o filme segue o díptico “O segredo do Licorne”/”O Tesouro de Rackham, o Terrível”, juntando-lhe elementos de “O Caranguejo das Tenazes de Ouro”, para introduzir a personagem do Capitão Hadock, Claro que há algumas simplificações da história original, como a supressão do Professor Tournesol, que não aparece de todo no filme, para darem espaço a algumas cenas de acção originais, que oscilam entre o magnífico (toda a cena de perseguição de moto ao falcão, em Marrocos, digna dos melhores momentos de Indiana Jones) e algo ridículo (a luta de guindastes). Mas o combate entre o Cavaleiro de Hadoque e Rackham, o Terrível está absolutamente espectacular, como espectaculares estão as cenas no deserto.
Mesmo que por vezes, esteja mais próximo de “Indiana Jones” do que dos livros de Hergé, este filme é um exemplo perfeito da aventura em estado puro, com tudo para agradar tanto aos fãs de Spielberg como aos leitores de “Tintin”. Que venha depressa o segundo filme, dirigido por Peter Jackson, a partir de “As Sete Bolas de Cristal e “O Templo do Sol”!
Provando a forte aposta em Portugal, país onde a popularidade de Tintin é forte, o filme, para além das versões Digital e 3D, estreou em três dobragens diferentes: a versão original inglesa, uma dobragem em português e, para aqueles que, como eu, consideram que o Tintin deve falar em francês, como na BD original, uma versão dobrada em francês.
(“As Aventuras de Tintin: O secredo do Licorne”, de Steven Spielberg, com Jamie Bell e Daniel Craig, Universal, Columbia Pictures, 2011. Em exibição em Coimbra nos cinemas Zon /Lusomundo Dolce Vita e Fórum Coimbra)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 29/10/2011
Descartada a opção do filme com imagens reais, a opção recai na animação em stop motion, técnica usada por Robert Zemeckis, um dos colaboradores habituais de Spielberg, com resultados discutíveis, mas que graças ao filme “Avatar”, de James Cameron, evoluiu muitíssimo nos últimos anos. E, apesar da estranheza inicial de ver um tratamento hiperealista a figuras caricaturais e estilizadas (a aparente simplicidade da “linha clara” de Hergé) o resultado final é muito eficaz e convincente. Parafraseando o célebre slogan publicitário de Fernando Pessoa para a Coca Cola, “primeiro estranha-se, mas depois entranha-se”.
Para isso também contribuem as soluções encontradas para fazer a transição entre os dois registos gráficos, começando pelo excelente genérico do filme, que evoca todas as aventuras de Tintin, até à sequência inicial em que vemos Hergé a desenhar Tintin no seu estilo habitual.
Em termos de história, o filme segue o díptico “O segredo do Licorne”/”O Tesouro de Rackham, o Terrível”, juntando-lhe elementos de “O Caranguejo das Tenazes de Ouro”, para introduzir a personagem do Capitão Hadock, Claro que há algumas simplificações da história original, como a supressão do Professor Tournesol, que não aparece de todo no filme, para darem espaço a algumas cenas de acção originais, que oscilam entre o magnífico (toda a cena de perseguição de moto ao falcão, em Marrocos, digna dos melhores momentos de Indiana Jones) e algo ridículo (a luta de guindastes). Mas o combate entre o Cavaleiro de Hadoque e Rackham, o Terrível está absolutamente espectacular, como espectaculares estão as cenas no deserto.
Mesmo que por vezes, esteja mais próximo de “Indiana Jones” do que dos livros de Hergé, este filme é um exemplo perfeito da aventura em estado puro, com tudo para agradar tanto aos fãs de Spielberg como aos leitores de “Tintin”. Que venha depressa o segundo filme, dirigido por Peter Jackson, a partir de “As Sete Bolas de Cristal e “O Templo do Sol”!
Provando a forte aposta em Portugal, país onde a popularidade de Tintin é forte, o filme, para além das versões Digital e 3D, estreou em três dobragens diferentes: a versão original inglesa, uma dobragem em português e, para aqueles que, como eu, consideram que o Tintin deve falar em francês, como na BD original, uma versão dobrada em francês.
(“As Aventuras de Tintin: O secredo do Licorne”, de Steven Spielberg, com Jamie Bell e Daniel Craig, Universal, Columbia Pictures, 2011. Em exibição em Coimbra nos cinemas Zon /Lusomundo Dolce Vita e Fórum Coimbra)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 29/10/2011
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quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Frank Miller regressa com Holly Terror
Precisamente dez anos depois dos atentados ao World Trade Center de 11 de Setembro de 2001, chegou às livrarias americanas, "Holy Terror", uma novela gráfica de Frank Miller, em que o criador de "Sin City" aborda a problemática do terrorismo islâmico. Reacção visceral de um novaiorquino aos atentados que mutilaram a sua cidade, Holy Terror foi inicialmente pensada como uma história de Batman, mas que surge agora protagonizado por "The Fixer", um novo herói mascarado, cujas semelhanças com o Batman são mais do que mera coincidência...
Segundo declarou em várias entrevistas, Miller decidiu retirar Batman da história, pois a evolução da personagem levou-a a um tipo de comportamento de tal modo violento, que era difícil de encaixar na imagem de Batman, mas quanto a mim, a saída de Bob Schreck da DC Comics, também teve um papel importante e talvez até decisivo. Schreck, que foi editor de Frank Miller na Dark Horse, é um dos seus melhores amigos e foi ele, enquanto editor das revistas do Batman, o responsável pelo regresso de Miller às histórias de Batman, com os polémicos "Dark Knight Strikes Again" e "All Star Batman & Robin". O anúncio de que Holy Terror já não seria uma história de Batman, surgiu quando Bob Schreck já não estava na DC e, não por acaso, a história acaba por ser publicada, não pela Dark horse, editora habitual dos projectos mais autorais de Miller, mas sim pela Legendary Comics, que tem como editor-chefe, adivinharam, Bob Schreck. E "Holy Terror" é o título de estreia de uma nova editora, criada pela produtora cinematográfica que esteve ligada a vários filmes inspirados em BDs, como o "300" de Zack Snyder, a a partir da BD de Frank Miller, ou os Batmans de Cristopher Nolan.
Falando do livro, propriamente dito, Miller continua igual a si próprio e trata a questão do terrorismo islâmico com a subtileza de um elefante numa loja de porcelanas e aqueles que acharam que o Batman de "The Dark Knight Returns" era fascista, vão espumar com este "Holy Terror".
Graficamente, "Holy Terror" é um Batman em Sin City, publicado no mesmo formato italiano (na horizontal) de "300". Usando um preto e branco contrastado, com pequenos apontamentos de cor (as sapatilhas e os olhos de Cat Burgler, por exemplo) Miller alterna as páginas memoráveis, com outras mais "a despachar", mas não faltam imagens espectaculares e sequências muito bem conseguidas, como as cenas no meio da tempestade, ou as caras das vítimas dos atentados que vão gradualmente desaparecendo até dar lugar a páginas cheias de pequenos quadrados brancos.
Pensada como uma história de Batman (Cat Bulgral era obviamente a Catwoman, Dan Donegal era o Comissário Gordon, com cabelo preto e o Robinson Park faz parte da toponimia de Gotham City, aqui transformada em Empire City), parece-me que "Holy Terror" funcionaria melhor como uma história de Batman, do que como uma aventura deste novo herói que Miller nem se deu ao trabalho de desenvolver minmamente.
Embora "Holy Terror", com todos os seus defeitos, virtudes e desiquilibrios, não seja o regresso de Frank Miller aos seus tempos de glória, ainda assim não deixa de ser um prazer ver Miller fazer aquilo que faz melhor, escrever e desenhar Banda Desenhada. Sobretudo depois do verdadeiro desastre que foi a sua estreia a solo no cinema, como realizador de "The Spirit"...
Frank Miller's Holy Terror, Legendary Comics, 120 páginas a 2 cores, 29,95 €
Segundo declarou em várias entrevistas, Miller decidiu retirar Batman da história, pois a evolução da personagem levou-a a um tipo de comportamento de tal modo violento, que era difícil de encaixar na imagem de Batman, mas quanto a mim, a saída de Bob Schreck da DC Comics, também teve um papel importante e talvez até decisivo. Schreck, que foi editor de Frank Miller na Dark Horse, é um dos seus melhores amigos e foi ele, enquanto editor das revistas do Batman, o responsável pelo regresso de Miller às histórias de Batman, com os polémicos "Dark Knight Strikes Again" e "All Star Batman & Robin". O anúncio de que Holy Terror já não seria uma história de Batman, surgiu quando Bob Schreck já não estava na DC e, não por acaso, a história acaba por ser publicada, não pela Dark horse, editora habitual dos projectos mais autorais de Miller, mas sim pela Legendary Comics, que tem como editor-chefe, adivinharam, Bob Schreck. E "Holy Terror" é o título de estreia de uma nova editora, criada pela produtora cinematográfica que esteve ligada a vários filmes inspirados em BDs, como o "300" de Zack Snyder, a a partir da BD de Frank Miller, ou os Batmans de Cristopher Nolan.
Falando do livro, propriamente dito, Miller continua igual a si próprio e trata a questão do terrorismo islâmico com a subtileza de um elefante numa loja de porcelanas e aqueles que acharam que o Batman de "The Dark Knight Returns" era fascista, vão espumar com este "Holy Terror".
Graficamente, "Holy Terror" é um Batman em Sin City, publicado no mesmo formato italiano (na horizontal) de "300". Usando um preto e branco contrastado, com pequenos apontamentos de cor (as sapatilhas e os olhos de Cat Burgler, por exemplo) Miller alterna as páginas memoráveis, com outras mais "a despachar", mas não faltam imagens espectaculares e sequências muito bem conseguidas, como as cenas no meio da tempestade, ou as caras das vítimas dos atentados que vão gradualmente desaparecendo até dar lugar a páginas cheias de pequenos quadrados brancos.
Pensada como uma história de Batman (Cat Bulgral era obviamente a Catwoman, Dan Donegal era o Comissário Gordon, com cabelo preto e o Robinson Park faz parte da toponimia de Gotham City, aqui transformada em Empire City), parece-me que "Holy Terror" funcionaria melhor como uma história de Batman, do que como uma aventura deste novo herói que Miller nem se deu ao trabalho de desenvolver minmamente.
Embora "Holy Terror", com todos os seus defeitos, virtudes e desiquilibrios, não seja o regresso de Frank Miller aos seus tempos de glória, ainda assim não deixa de ser um prazer ver Miller fazer aquilo que faz melhor, escrever e desenhar Banda Desenhada. Sobretudo depois do verdadeiro desastre que foi a sua estreia a solo no cinema, como realizador de "The Spirit"...
Frank Miller's Holy Terror, Legendary Comics, 120 páginas a 2 cores, 29,95 €
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