Por regra, os meus textos destinados ao Diário As Beiras, saem primeiro no jornal, antes de serem publicados em versão alargada neste blog. Mas no caso do texto desta semana, dedicado ao Tex Gigante nº 25, que termina o seu percurso nas bancas no início da próxima semana, decidi abrir uma excepção para evitar que muitos dos meus leitores só se apercebam da saída deste belíssimo livro, quando ele já não estiver à venda.
E a verdade é que é mesmo um crime perder o melhor Tex Gigante que já li e que, por isso mesmo, já tinha feito parte da lista das minhas Melhores Leituras de 2011, apresentada neste blog em Janeiro de 2012.
Escrito por Gianfranco Manfredi, o argumentista do excelente Western “Mágico Vento”, outra bela série da Bonelli que também chegou a Portugal via edição brasileira da Mythos, o argumento de “Na Trilha do Oregon” surpreende pelo destaque pouco habitual dado às personagens femininas. Personagens essas que, por regra, brilham pela ausência no universo do ranger criado por G. L. Bonelli e Aurelio Galleppini, mas que aqui estão no centro da bem urdida intriga, centrada no percurso de uma caravana de mulheres, que se dirige para o Oregon, onde as esperam os futuros maridos e que se cruzam com Tex e Kit Carson, que seguem o mesmo caminho, em perseguição de um assassino fugitivo. E, ao contrário do que seria de esperar, estas mulheres não são meras figurantes, mas personagens bem definidas, tal como o assassino que os heróis perseguem e que se revela uma figura trágica, por quem o leitor acaba por sentir alguma piedade.
Mas, apesar do belo argumento de Manfredi, o melhor deste Texone é o desenho do argentino Carlos Gomez. Numa coleção por onde já passaram grandes nomes da BD mundial, como Magnus, Joe Kubert, Jordi Bernett, Victor De La Fuente, Manfred Sommer, Guido Buzelli, ou José Ortiz, o traço elegante e pormenorizado de Gomez destaca-se ainda assim, confirmando o extraordinário talento do desenhador argentino, praticamente desconhecido em Portugal, mas muito popular em Itália graças à série “Dago”, que desenhou entre 1997 e 2008. Série que narra as aventuras de um nobre veneziano do século XVI que se torna mercenário, “Dago” foi o maior sucesso da Eura Editoriale, a grande concorrente da Bonelli nos quiosques italianos, muito por força do desenho de Gomez.
Tendo começado a sua carreira como assistente dos desenhadores argentinos Lito Fernandez e Horacio Lalia, Gomez saltou para a ribalta em 1997, quando substituiu Alberto Salinas, o filho do mítico José Luis Salinas, o desenhador de Cisco Kid, na série “Dago”, escrita pelo prolífico argumentista Robin Wood. Habituado a desenhar cavalos na série “Dago”, Gomez revelou-se uma escolha inspirada para desenhar um Western como Tex. Mas não é só nos cavalos que o desenhador argentino brilha, pois o desenhador argentino revela-se exuberante no tratamento dos cenários, notável na expressividade dos rostos e extraordinariamente eficaz nas cenas de acção. Com um traço de raiz clássica, que alia a visceralidade e o dinamismo à elegância, Gomez revela-se à altura dos grandes desenhadores do seu país, como Solano Lopez, José Muñoz, Alberto Breccia, Enrique Breccia, Eduardo Risso ou Horacio Altuna.
Em resumo, se a coleção Tex Gigante merece sempre atenção, este “Na Trilha do Oregon” é mesmo a não perder, para quem gosta de uma história bem contada, servida por um excelente desenho realista de um artista argentino que se revelou um mestre dos fumetti, a BD italiana.
(“Tex Gigante nº 25: Na Trilha do Oregon”, de Gianfranco Manfredi e Carlos Gomez, Mythos Editora, 242 pags, 10,00 €)
Versão integral do texto a publicar no Diário As Beiras de 7 de Setembro de 2013
5 comentários:
Caro Lameiras,
Gostei muito de ler o seu artigo e estou inteiramente de acordo consigo quanto à qualidade artística e narrativa deste Álbum Gigante de Tex, colecção onde, aliás, se encontram, na minha opinião, algumas das melhores aventuras de sempre deste herói do "western".
Como possuo alguns volumes de "Dago", já me tinha apercebido da extraordinária arte de Carlos Gomez, superior até, nessa série, à de Alberto Salinas, para o fim já muito repetitiva. E é de lamentar que fora dos circuitos da BD mais comercial, o seu nome seja praticamente desconhecido. Este artigo teve o mérito, entre outros, de chamar a atenção para um trabalho que não merece passar despercebido no meio de tanto "lixo" que inunda os nossos quiosques.
Um abraço do
Jorge Magalhães
Olá Jorge. É sempre um prazer vê-lo por aqui!
Não podíamos estar mais de acordo! Não sendo fã incondicional do Tex, longe disso, não perco um Tex Gigante, por causa dos desenhadores. Neste momento, a Bonelli é o último refúgio de grandes desenhadores de aventura como José Ortiz, Alfonso Font e Esteban Maroto, cujo trabalho só ganha em ser publicado a preto e branco.
Também já conhecia o Carlos Gomez do "Dago", mas em reedições a cores e o preto e branco deste "Texone" realça mais a extraordinária qualidade do seu traço.
Não é que o Alberto Salinas seja mau desenhador, mas perde inevitavelmente na comparação com o pai, o grande José Luís Salinas, e mesmo com o Gomez.
O Carlos Gomez está neste momento a trabalhar para o mercado francês, numa série histórica publicada pela Delcourt (Lês Reines de Sang) pelo que é natural que passe a ser conhecido por um público diferente.
Grande abraço,
Sem dúvida alguma um dos melhores Texoni de sempre. Uma boa (e inusitada) história de Tex magistralmente escrita pelo Manfredi e maravilhosamente desenhada pelo Carlos Gomez e que merece ser lida pelos apreciadores de BD de qualquer género, por isso acho que o JMLameiras agiu soberbamente ao falar desta especial edição enquanto ela está ainda nos nossos quiosques.
Curiosamente neste fim de semana li o Almanaque Tex nº 45 "Bandidos e Heróis", escrito pelo Bosellie igualmente desenhado pelo Carlos Gomez nesta que foi a sua segunda (e para já, última) história de Tex. Também uma história muito boa, apesar de mais "rápida" mas com muita acção e onde fomos novamente brindados com excelentes desenhos do Gomez. Pena que o formatinho não nos permite ver a arte com a mesma qualidade deste Tex Gigante, mais um motivo para quem ainda puder, adquirir este Tex Gigante.
Caro DavidB,
Em Coimbra estava relativamente bem distribuído, mas no Porto não faço grande ideia onde se possa encontrar, embora o El Corte Inglês de Gaia costume ter uma boa selecção de revistas de BD. Outra hipótese é tentar arranjar a revista através do blog do Tex, que está nos links aqui ao lado.
Caro David B.,
Como O João Miguel já disse, o quiosque do El Corte Inglès de Gaia tinha essa edição ainda há poucos dias.
Outra hipótese, no Porto, é o quiosque na rua Morgado de Mateus, perto de do Jardim de S. Lázaro.
Os dois locais costumam receber muitas destas edições.
Boas leituras!
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