terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Blacksad: O Inferno, O Silêncio


Uma das mais aguardadas novidades desta rentrée, o álbum "O Inferno, o Silêncio", assinala o regresso de Blacksad, o gato detective, criado por Guarnido e Díaz Canales, que a Asa tem editado em Portugal.
Policial negro na melhor tradição cinematográfica do “film noir”, com a particularidade de ser protagonizado por animais, “Blacksad” era um projecto já antigo do argumentista Diaz Canales, que ganhou outro fôlego quando este conheceu Juanjo Garnido, seu companheiro num estúdio de animação em Madrid, um excelente animador que se revelou um extraordinário desenhador de BD, cujo talento está ao serviço de uma das mais cinematográficas Bandas Desenhadas da actualidade.

Se o ponto de partida da série é bastante clássico na forma como segue os cânones do género policial “hard boiled” a principal inovação de “Blacksad” reside no uso de animais para contar uma história que podia perfeitamente ser filmada com actores reais. E um dos aspectos mais curioso da série é precisamente o rigor do casting animal, com os autores a arranjarem os animais adequados para cada personagem, jogando com o conhecimento que o leitor tem das características de cada espécie animal, para melhor caracterizar os intervenientes das histórias negras de que Blacksad é protagonista e narrador (como é natural no film noir, onde a voz off está sempre presente).
Ambientada na América dos anos 50, a série tem mostrado uma preocupação crescente em explorar os diferentes aspectos da época, algo que não estava ainda presente em “Algures Entre as Sombras”, o primeiro álbum, cuja intriga, centrada na vingança, podia perfeitamente passar-se noutra época qualquer. Neste 4º volume da série troca o cenário de Nova Iorque, onde decorreu a acção dos volumes anteriores, pela cidade de Nova Orleãs, numa história trágica de um músico que não se consegue libertar da droga, que tem o jazz como banda sonora e elemento fulcral da narrativa.

Apesar da narrativa ser mais complexa do que em volumes anteriores, o que se mantém imutável é a extraordinária eficácia (virtuosismo talvez seja um termo mais adequado a este caso…) narrativa e gráfica de Juanjo Guarnido.
Artista completo como há poucos, Guarnido é tão forte na planificação como no desenho, no tratamento dos rostos como na aplicação da cor e na definição da luz, e o resultado final é verdadeiramente espectacular, como o prova a magnífica sequência do Carnaval de rua.
Ou seja, mais uma vez, Juanjo Guarnido faz claramente a diferença. É o génio do seu traço inimitável que faz com que “Blacksad”, mais do que uma boa série, seja uma grande série.
(“Blacksad 4: O Inferno, o Silêncio”, de Díaz Canales e Guarnido, Edições Asa, 56 pags, 15,50 €)
Versão Integral do texto publicado no "Diário As Beiras" de 20/11/2010

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Dark Horse publica Dog Mendonça


Enquanto não estão ocupados a salvar o mundo, Dog Mendonça e Pizzaboy preparam-se para conquistar o mercado americano, graças à Dark Horse, a editora de Hellboy, Sin City e Star Wars, que vai abrir as páginas da 2ª série da revista “Dark Horse Presents” ao detective do oculto português.
Para celebrar o 25º aniversário da editora, será lançada uma nova antologia intitulada Dark Horse Presents. Este foi o título da série que inaugurou a Dark Horse em 1986 e foi aqui que Sin City viu a sua primeira edição. Vinte e cinco anos depois, a editora promete uma nova versão da linha, com 25 números. Entre outros autores, terá participações de Frank Miller (que aqui iniciará a prequela de 300 intitulada "Xerxes"), Mike Mignola (Hellboy) e Dave Gibbons (Watchmen).

É para esta revista que Filipe Melo e Juan Cavia contribuirão com uma história de 24 páginas dividida em três capítulos de 8 páginas, que tem como objectivo apresentar Dog Mendonça e os restantes personagens ao público americano, preparando o terreno para a posterior publicação de “As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy” nos EUA.
Uma excelente oportunidade que se deveu à intervenção decisiva de John Landis. O realizador americano, que assinou o prefácio do álbum, gostou tanto do livro que fez chegar “Dog Mendonça” às mãos do seu amigo Mike Richardson, o editor da Dark Horse, que se mostrou interessado na série e viu na revista “Dark Horse Presents” o local ideal para uma primeira divulgação de Dog Mendonça junto dos leitores americanos.
Se a isso juntarmos a publicação do (muito divertido, a avaliar pelas páginas que pude ler) 2º álbum da série, intitulado “Apocalipse”, no próximo mês de Março, 2011 vai ser um ano em grande para Dog Mendonça e para os seus criadores! Até lá, fiquem com uma imagem e com a página que mostra o nascimento de João Vicente “Dog” Mendonça, em Tondela, terra de zombies e também de lobisomens…

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Victor Mesquita e Ricardo Cabral na Livraria Dr Kartoon


Como já vem sendo hábito, no último sábado antes do Natal, a Dr. Kartoon promove mais um encontro de autores com os seus leitores. Desta vez os convidados para a sessão de autógrafos, são Victor Mesquita (Eternus 9) e Ricardo Cabral (Israel Sketchbook), que estarão na Livraria pela primeira vez.

Os autores estarão presentes no sábado, 18 de Dezembro, a partir das 16h para apresentação das novidades "Eternus 9: A Cidade dos Espelhos", que assinala o regresso do mítico "Eternus 9" 35 anos depois do primeiro álbum, e "Newborn: 10 Dias no Kosovo", o novo diário de viagem de Ricardo Cabral, depois de "Israel Sketchbook" e para uma sessão de autógrafos.
Além do convívio com os autores, poderão sair com magníficos desenhos, como este, que o Ricardo me fez no último Festival da Amadora. No caso de Victor Mesquita, além de um autógrafo, poderão também sair com uma prancha original, pois o autor trará também pranchas originais do seu último álbum para vender aos eventuais interessados.
Cá vos esperamos no sábado, 18 de Dezembro, a partir das 16h, na vossa Livraria de BD favorita!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Tintin Regressa em Formato Reduzido


Preparando a chegada do filme de Steven Spielberg e Peter Jackson inspirado nas aventuras de Tintin, de que começam surgir as primeiras (e não muito entusiasmantes) imagens, as Edições Asa têm vindo a reeditar a mítica série de Hergé, numa nova edição, com nova tradução e um novo formato, mais reduzido, próximo do formato comic book americano, embora respeitando as proporções dos álbuns franco-belgas, mais largos do que as revistas americanas, que nas palavras da responsável de BD da Asa, se pretende mais "apelativo para um público mais novo".

Um regresso que obviamente se saúda, pois não fazia sentido a série não estar disponível em Portugal, tendo em conta a ligação entre Tintin e os leitores portugueses. Uma ligação de mais de 70 anos, pois, embora só no final dos anos 80 tenha sido possível ler álbuns de Tintin escritos no português de Portugal, pois a editora brasileira Record detinha todos os direitos de publicação para a língua portuguesa, Portugal foi o primeiro país não-francófono a publicar as aventuras de Tintin. E isso aconteceu a partir de Abril de 1936 no Papagaio, revista dirigida por Adolfo Simões Muller, onde Tintin apareceu a cores, numa altura em que na própria Bélgica as suas histórias ainda eram publicadas a preto e branco, tornando-se rapidamente num dos símbolos da revista, com participações especiais em outras séries, como o fabuloso Boneco Rebelde, de Sérgio Luís. Como era hábito na época, o herói da poupa loura foi naturalizado português e assim Tintin, de jovem repórter belga do jornal Petit Vingtiéme passou a repórter português da revista Papagaio, enquanto o cachorro Milou foi rebaptizado Ron-Ron e o Capitão Hadock ganhou o nome bastante mais português de Capitão Rosa. Do mesmo modo, o álbum Tintin no Congo foi transformado em Tintin em Angola, numa deliciosa versão em que é feita a apologia da colonização portuguesa em Angola.
Além disso, a versão portuguesa da revista “Tintin” publicou as restantes aventuras do repórter criado por Hergé, incluindo a primeira de todas, o datado “Tintin no País dos Sovietes”.que ficaria incompleto com o fim da revista, em 1982.

O novo formato, feito a pensar num público mais novo, mais habituado ao formato “comic book”, nem funciona mal, sobretudo porque a “linha clara” de Hergé, aguenta perfeitamente a redução sem perder legibilidade. Pena foi, como salientaram, em sítios diferentes, João P. Boléo e Leonardo De Sá, que se tenha perdido a oportunidade de incluir nesta edição, a prancha “perdida” de “Tintin no País dos Sovietes”, que embora publicada no jornal “Le Petit Vingtième”, não foi incluída nas edições em álbum, apesar de ter sido publicada no 1º volume da série “Archives Hergé”.
Depois dos seis primeiros volumes, editados em Outubro, seguindo a ordem cronológica da série, este mês já foram editados mais seis títulos, prevendo-se que toda a colecção de 24 álbuns esteja disponível no mercado até Outubro de 2011, mês em que se espera a estreia da adaptação de Tintin ao cinema.
(“As Aventuras de Tintin” de Hergé, Edições Asa, 64 pags, 8,90 € cada volume)
Versão integral do texto publicado no "Diário As Beiras" de 13/11/2010

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O Regresso de Adèle Blanc-Sec


Depois das experiências da Bertrand, na década de 80 do século XX, e da Witloof, em 2003, já está nas livrarias a terceira tentativa de publicação em português da série "As Aventuras de Adéle Blanc-Sec", de Jacques Tardi, desta vez pela mão da Asa, que assim junta mais um clássico da BD ao seu bem recheado catálogo.
Apesar de ser a série mais popular de um dos mais prestigiados autores franceses de BD, Jacques Tardi, "Adéle Blanc-Sec" nunca conheceu em Portugal um sucesso sequer aproximado do obtido em França, o que fez com que as duas tentativas anteriores de publicar a série em Portugal, tenham fracassado comercialmente.

Daí a estranheza nesta aposta arriscada da Asa, ainda mais quando os volumes editados pela Witloof ainda se encontram nas livrarias a preço de saldo, mas que terá como possível explicação a tentativa de "apanhar boleia" da adaptação ao cinema feita por Luc Besson, que conheceu grande sucesso em França e que já está comprada para exibição em Portugal, mesmo que ainda não se saiba quando chegará às salas de cinema portuguesas...
Mas, considerações comerciais à parte, é de aplaudir a aposta da Asa numa excelente série, que recupera para a BD o mistério e o suspense dos folhetins do século XIX, com uma heroína, Adéle, com um comportamento muito à frente do seu tempo, que bebe, fuma e dispara com um homem.
O primeiro volume editado pela Asa, é um volume duplo que recolhe os dois primeiros álbuns da série, "Adèle e o Monstro" e " O Demónio da Torre Eiffel", em que Adèle enfrenta respectivamente, um pterodáctilo e uma seita de adoradores do demónio, que se escondia nas catacumbas de Paris. Para além da acção, do humor, e das peripécias rocambolescas, o trabalho de Tardi destaca-se pelo rigor da reconstrução histórica da Paris dos anos 10 do século XX, em que decorre a acção.

Agora, resta esperar que se cumpra o ditado, que diz que à terceira é de vez e que a edição da Asa consiga ter o sucesso que faltou às tentativas anteriores, de modo a podermos finalmente ler em português a totalidade das aventuras de Adéle, que em França conta já com nove álbuns publicados e um décimo (o volume final da série) a caminho.
(“Adele Blanc-Sec” Volume 1, de Jacques Tardi, Edições Asa, 98 pags, 21,70 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 6/11/2010

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

The Walking Dead


Apesar da febre dos vampiros provocada pela série Twilight e que até chegou às televisões nacionais, dando origem a telenovelas juvenis com vampiros (!?) os zombies são outra criatura fantástica que também tem conhecido um certo ressurgimento público recente, visível em filmes como "Zombieland" e em livros como "Pride and Predjudice and Zombies", em que Seth Grahame-Smith pega no texto clássico de Jane Austen e acrescenta-lhe zombies e cenas gore. Mas é na Banda Desenhada (BD) que o regresso dos zombies se mais tem feito notar, através de séries como "Marvel Zombies", "Victorian Undead" (em que Sherlock Holmes enfrenta zombies na Londres vitoriana), "Z.M.D., Zombies of Mass Destruction" e a mais recente "I, Zombie", da Vertigo, o ramo adulto da DC Comics, que albergou títulos como o Sandman, de Neil Gaiman.

Mas a mais interessante série de zombies em BD e a que maior sucesso tem conhecido ao longo dos últimos anos é, sem dúvida "The Walking Dead", de Robert Kirkman, Tonny Moore e Charles Adlard. Publicada mensalmente pela editora Image desde 2003, Walking Dead tem quase 80 números publicados, a maioria já reunidos nos 12 trade paperbacks (volumes encadernados que recolhem 6 números cada) actualmente disponíveis. Escrita por Robert Kirkman, argumentista responsável por séries como "The Battle Pope", "Invincible" e "Astounding Wolf-Man", "The Walking Dead" é uma série a preto e branco, com desenhos de Tonny Moore nos 6 primeiros números e a partir do nº 7, do inglês Charlie Adlard, com Clif Rathburn a assegurar as tramas e os cinzentos, para além das cores das capas.
O protagonista da série é Rick Grimes, um polícia de uma cidadezinha do Kentucky que, depois de ter sido baleado, entra em coma, despertando algum tempo depois numa cama de hospital, para descobrir que foi abandonado à sua sorte, num hospital pejado de zombies famintos. O ponto de vista do leitor é o mesmo de Rick, que nunca chega a saber o que motivou o aparecimento dos zombies, ou até que ponto se trata de um problema que afecta apenas os Estados Unidos, ou se se trata de uma pandemia a nível mundial.

Depois de vaguear pela cidade infestada de zombies, Rick encontra Glenn, um jovem batedor ao serviço de um grupo de sobreviventes, onde estão a mulher e o filho de Rick, que tinham abandonado a cidade para irem para Atlanta, local recomendado como seguro pelas autoridades, numa fase inicial da epidemia, em que se pensava que a mesma podia ser contida.
A dinâmica desse grupo de sobreviventes, e a forma como a personalidade dos seus membros vai evoluindo face a uma realidade hostil e dramática, acaba por ser o fulcro da série, que pega num grupo de pessoas normais sujeitas a circunstâncias excepcionais e analisa as suas reacções num mundo em que confortos como a televisão, telemóveis, ou Internet são apenas recordações. Ou seja, na prática, The Walking Dead (TWD) começa no momento em que os filmes de zombies costumam terminar, mas é esse mesmo o objectivo de Kirkman, que declarou numa entrevista: “Para mim, a pior parte dos filmes de zombies é o fim. Sempre quis saber o que acontece a seguir. Mesmo quando todas as personagens morrem no fim… gostava que o filme continuasse. (…) A ideia em Walking Dead é continuar a acompanhar as personagens, neste caso, Rick Grimes, enquanto for humanamente possível. Quero que The Walking Dead seja a crónica de vários anos da vida de Rick. NUNCA nos questionaremos sobre o aconteceu a Rick a seguir, pois vamos assistir a esses acontecimentos. The Walking Dead vai ser o filme de zombies que não tem fim. Bem… pelo menos, não nos tempos mais próximos.”

Apesar da constante presença ameaçadora dos zombies (que nunca são tratados por esse nome ao longo da série), que provocam várias baixas no grupo, a que se vão juntando novas personagens que vão encontrando pelo caminho, a maior ameaça acaba sempre por vir do próprio homem, disposto a tudo para sobreviver e liberto de quaisquer restrições legais e morais. O próprio Rick que, como polícia, é alguém habituado a respeitar e a fazer cumprir a lei, acaba por fazer coisas que vão contra tudo o que acreditava, quando está em causa a sobrevivência dos que lhe são próximos.
Série de grande violência, que nunca é gratuita, mesmo que por vezes ultrapasse quase os limites do suportável, TWD alterna as cenas de acção, com os momentos mais introspectivos, alternâncias de ritmo estudadas por Kirkman de forma a aumentar o impacto das sequências de maior dramatismo. O leitor de TWD já sabe que a calma precede sempre a tempestade e que, com a excepção de Rick, qualquer um dos outros personagens pode morrer na página seguinte.

Ao longo dos sete anos que a série já leva de publicação, o grupo de sobreviventes viu morrer muitos dos seus membros e ganhou outros, como Michone, uma negra que maneja uma espada samurai com perícia mortal e que rapidamente se tornou das mais carismáticas personagens da série. Além disso, no seu deambular pelas estradas da América, em busca de um lugar seguro onde viver em paz, sucedem-se os encontros com outros sobreviventes, que por vezes se revelam um perigo bem maior do que os próprios zombies. Sem nunca conseguir encontrar uma “terra prometida” onde possa viver em paz, o grupo de sobreviventes parece condenado a errar eternamente numa América devastada, o que deixa a dúvida se o título da série, “The Walking Dead”, se refere aos zombies, ou ao grupo de sobreviventes liderados por Rick Grimes.

O sucesso crescente da série que, ano após ano, continua a ganhar novos leitores e a esgotar sucessivas reedições, despertou o interesse de Hollywood e TWD tornou-se também uma série de televisão, produzida pela AMC, canal responsável pela premiada série Mad Men. Depois de ter anunciado a produção de um episódio piloto, escrito e dirigido pelo realizador Frank Darabont, responsável por filmes como The Shawshank Redemption, ou The Green Mile, o Estúdio decidiu avançar para uma primeira série de seis episódios, que tem tido excelentes audiências, confirmando as grandes expectativas que a AMC tem para a série. Expectativas partilhadas pela Fox, que adquiriu os direitos de distribuição fora dos EUA e que começou a exibir a série a nível mundial, dois dias apenas após a estreia nos EUA, estando a passar também no cabo em Portugal, no canal principal da Fox.
Kirkman, que é produtor executivo da série da AMC, prometeu uma série televisiva “110% fiel à BD em termos de espírito e ambiente”, mas que nunca será uma transposição, quadrado a quadrado da Banda Desenhada. E os episódios já exibidos até agora (o 4º episódio, escrito por Kirkman, passou ontem nos EUA e vai ser emitido pela Fox em Portugal na terça-feira, 23 de Novembro) mostram que Kirkman tem razão. Para além de algumas alterações menores em termos da sequência dos acontecimentos, surgem personagens novas, como Merle (que aparece na última imagem deste post) e Daryl, os dois irmãos “redneck”, que estão assumir grande destaque. Alternando uma boa caracterização psicológica das personagens, servidas por bons actores (o inglês Andrew Lincoln, que faz de Rick Grimes, é excelente), com muita acção e excelentes efeitos especiais a cargo de Greg Nicotero, a série está a ser um grande sucesso tanto de crítica, como de audiências, estando já assegurada uma segunda temporada, desta vez, de 13 episódios.

Quanto a Robert Kirkman, apesar do seu grande envolvimento na série, como produtor executivo e argumentista, soube resistir ao “canto de sereia” de Hollywood, continuando a ter na Banda Desenhada a sua grande prioridade, para felicidade dos milhões de leitores em todo o mundo, incluindo Portugal, onde a Devir acabou de lançar o primeiro volume, que seguem religiosamente The Walking Dead, tanto na BD, como agora, na TV.
Este texto tem por base os artigos publicados no nº 8 da revista "Bang" e no "Diário As Beiras" de 30/10/2010, com uma actualização a propósito da série de televisão.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Lucky Luke contra Pinkerton


Prosseguindo a colaboração com o jornal “Público”, a Asa distribuiu no passado dia 18 de Outubro com o jornal, o álbum “Lucky Luke contra Pinkerton”, a mais recente aventura do cowboy que dispara mais rápido do que a própria sombra, lançada em França três dias antes, numa edição que conta com uma capa exclusiva desenhada por Achdé, de propósito para o mercado português. Uma estratégia comercial que a Asa tem seguido também com outras séries e que no caso deste último Lucky Luke vai mais longe do habitual, com três capas diferentes, duas delas exclusivas para Portugal, acompanhando as edições do Público e da FNAC, ficando a capa da edição francesa, que encima este post, reservada para a edição destinada ao mercado tradicional de livrarias.

Falecido em 2001, Morris, tal como Jacobs e ao contrário de Hergé, não deixou instruções expressas para que o seu herói morresse com ele, pelo que foi com naturalidade que a série continuou sem o seu criador original. A dupla escolhida pela editora Dargaud para prosseguir a série foi Laurent Gerra no texto e Achdé no desenho, autores que em 2004 se estrearam com “Lucky Luke no Quebeque”, álbum que veio trazer um novo fôlego a uma série bem necessitada dele, com resultados bastante superiores aos de Morris na fase final.
Neste quarto álbum post-Morris, o humorista Laurent Gerra cede o lugar a dois escritores franceses de sucesso, Daniel Pennac e Tonino Benacquista. Embora tenham construído uma sólida carreira no campo da literatura, os dois escritores e amigos de longa data, não são propriamente neófitos no campo da Banda Desenhada. Pennac assinou com Tardi o álbum “La Debauche”, que foi editado em 2000 em Portugal pela Terramar, com o título “A Sacanice”, enquanto Benacquista colaborou com Ferrandez, Barral e Berlion, na adaptação à BD de romances seus e em histórias originais. Mas a verdade é que, apesar da experiência, Pennac e Benacquista saem-se pior do que o novato Gerra nos três álbuns que assinou.
A história que coloca o velho cowboy solitário Lucky Luke contra a modernidade representada por Pinkerton e pela sua agência de detectives, cumpre o habitual “cadernos de encargos” da série. Temos uma personagem histórica, a presença dos Dalton e de Rantanplam, as tiradas de Jolly Jumper e as cenas de tiroteio habituais e alguns momentos de (relativo) humor, mas tudo soa demasiado requentado e a quilómetros da época de ouro em que Goscinny assinava os argumentos das aventuras do cowboy que dispara mais rápido do que a própria sombra. Achdé manifesta o seu profissionalismo habitual, enchendo as páginas de pormenores deliciosos, mas a história que ilustra está longe de deslumbrar. Esperemos que a próxima incursão de Pennac e Benacquista pela BD corra melhor…
(“Lucky Luke contra Pinkerton”, de Achdé, Pennac e Benacquista, Edições Asa, 48 pags, 9,99 €)
Versão integral do texto publicado no "Diário As Beiras" de 23/10/2010

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Dragon Ball Regressa a Portugal


Depois do “Astroboy”, de Tezuka, a Asa volta a apostar num clássico do mangá com a edição da série “Dragon Ball”, de Akira Toriyama. Já editada anteriormente em Portugal pela Planeta Agostini, em 2000 e 2001, numa edição para os quiosques, a série regressa agora numa mais cuidada edição para as livrarias.
Dragon Ball, antes de ser uma série de animação que teve um sucesso estrondoso em Portugal, começou por ser um mangá (nome dado à BD no Japão) de sucesso que permitiu ao seu jovem autor, Akira Toryama firmar a sua posição no competitivo mercado japonês. Na origem de “Dragon Ball”, série cuja pré-publicação se iniciou em Novembro de 1984 nas páginas da revista “Shonen Weekly Jump”, estão “Dragon Boy”, um projecto anterior de Toryama que narra as andanças de um jovem guerreiro que conta com a ajuda de um pequeno dragão saído de uma bola de cristal, e a lenda chinesa de Sun Wu Kong, “O Rei Macaco”, que já foi alvo de outras adaptações à BD, entre outros, por Milo Manara.
Son Goku, o jovem guerreiro ingénuo de cauda de macaco e coração puro é pois o protagonista de uma saga épica, cheia de personagens carismáticos e que, à boa maneira japonesa, se prolonga por 42 volumes de quase 200 páginas cada, em que o ponto de partida inicial, a busca das sete bolas de cristal cuja junção permite evocar o espírito de um poderoso dragão, cedo dá lugar a uma série de combates ritualizados, integrados num percurso iniciático que permitirá aos personagens sujeitos a treinos violentíssimos, ascender aos estatuto de super-guerreiros. Mas, complementando a acção, para além do humor, existem toda uma série de relações sentimentais e familiares, que se vão desenvolvendo ao longo da série e que não tem grande paralelo nos congéneres ocidentais, onde estes elementos mais “telenovelescos” geralmente estão ausentes.
Tal como já acontecia com a anterior edição da Planeta Agostini, a edição da Asa também respeita o original japonês, até na forma como está impressa, inversa aos padrões ocidentais, com a história a ler-se de trás para a frente e, dentro de cada página, da direita para a esquerda. Algo que vai exigir algum esforço de adaptação da parte dos leitores, mas que não deve ser impedimento para descobrir esta divertida série e verificar até que ponto a série televisiva é, ou não, fiel ao mangá que lhe deu origem. Agora convém ver se a Asa consegue manter um ritmo de publicação regular, indispensável para poder manter os leitores presos a uma série de grande fôlego, que se prolonga por 42 números.
(“Dragon Ball” de Akira Toryama, Edições Asa, 190 pags, 9,50 € cada volume)
Versão integral do texto publicado no "Diário As Beiras" de 16/10/2010

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Gerónimo Stilton chega à BD


Provavelmente, o nome “Geronimo Stilton” pouco dirá à maioria dos leitores desta secção, mas se esses leitores tiverem filhos entre os 8 e os 12 anos, a situação será certamente diferente! É que o rato Gerónimo Stilton, além de jornalista e director do jornal “O Eco dos Roedores” é actualmente uma das mais populares personagens da literatura infantil.
Criada em 2000 por Elisabetta Dami, uma escritora italiana de livros infantis, que assina os seus livros como se fosse o próprio Stilton a escrevê-los, a série “Gerónimo Stilton” conheceu um sucesso estrondoso, com mais de 40 títulos publicados em 35 linguas, incluindo o português, com a Editorial Presença a publicar a série a um bom ritmo.
Mas além dos romances, as aventuras de Geronimo Stilton chegaram a outros suportes, como a televisão, com uma série de animação de 26 episódios que estreou em Itália em 2009 e também passou em Portugal, na RTP 2 e no Canal Panda, e a Banda Desenhada, com uma série de álbuns de formato europeu (capa dura e 48 páginas a cores), que são precisamente o que motiva este texto.
Com efeito, desde Outubro do ano passado que a Editora Planeta tem publicado as aventuras em BD de Gerónimo Stilton, tendo já lançado três volumes, com um quarto anunciado para o próximo mês de Novembro.

De “À Descoberta da América”, o primeiro álbum, até “Trafulhices no Coliseu”, passando pelo “Segredo da Esfinge”, o esquema é sempre o mesmo, Gerónimo e os seus amigos (incluindo a sua irmã, Tea, que também tem direito à sua própria série de BD), são obrigados a viajar no tempo para impedirem os Gatos Piratas de alterar o curso da História, o que os leva a embarcar com Cristovão Colombo rumo ao Novo Mundo, acompanhar a construção da Esfinge de Gizé no Egipto e desmontar uma conspiração que pretendia derrubar o Imperador Tito, na Roma Antiga. Ou seja, uma forma agradável de ensinar História aos leitores mais novos, concretizada com profissionalismo e eficácia.
(“Gerónimo Stilton 1: à Descoberta da América”, de Elisabetta Dami e Lorenzo de Pretto, Planeta Júnior, 48 pags, 12,80 €
“Geronimo Stilton 2: O Segredo da Esfinge”, de Elisabetta Dami e Gianluigi Fungo, Planeta Júnior, 48 pags, 12,80 €
“Geronimo Stilton 3: Trafulhices no Coliseu”, de Elisabetta Dami e Studio Wasabi, Planeta Júnior, 48 pags, 12,95 €)
Texto originalmente publicado no "Diário As Beiras" de 9/10/2010

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sin City: Valores Familiares


Cinco anos depois de, aproveitando a estreia do filme de Robert Rodriguez e Frank Miller, ter editado "A Grande Matança" e "Aquele Sacana Amarelo", a Devir volta a lançar em português mais um volume da série "Sin City", prosseguindo com a divulgação em Portugal da seminal criação de Frank Miller.
Série revolucionária, pela forma como recupera um género considerado acabado (o policial negro) e o reinventa em violentas histórias de crime e castigo, desenhadas num espectacular preto e branco, altamente contrastado, Sin City tem conciliado o estatuto de obra de culto com um grande sucesso comercial, como de resto aconteceu em Portugal.
Estreada no nº 51 da revista Dark Horse Presents, a série Sin City assinalava um estrondoso e inesperado regresso de Frank Miller à prancheta de desenhador, que pôs fim a um hiato de dois anos (desde Elektra Lives Again), em que o criador de Elektra se dedicou a uma decepcionante experiência em Hollywood, onde colaborou nos argumentos dos filmes Robocop II e III. Assegurando todo o processo criativo, desde o argumento e desenhos até à legendagem (ao contrário do que acontecia em Hollywood, onde era apenas mais uma peça da engrenagem), Miller criou com Sin City uma série policial extremamente violenta e inovadora no uso contrastante do preto e branco e na diluição do conceito de herói tradicional, que aqui cede o protagonismo à própria cidade, contribuindo para um novo fôlego dos comics policiais, há muito esquecidos num mercado atulhado de super-heróis.
Estilização talvez seja o adjectivo que melhor defina o seu trabalho em Sin City, pois, sem nunca pretender fazer uma história realista, Miller procurou através de uma enorme economia de meios que tudo parecesse o mais atraente possível. Nas suas palavras: “queria que os carros fossem vintage, as mulheres fossem belas e as gabardines compridas. Se olharmos para um comic desenhado por Johnny Craig ou Wallace Wood [dois desenhadores da E. C. Comics] vemos que eles conseguiam dar "glamour" a todo e qualquer assunto. Eu quero que Sin City seja agradável de desenhar e consequentemente, agradável de ver, até porque eu sabia que estava a lidar com um material extremamente duro”.
Valores Familiares”, o novo volume, que a Devir agora é edita, é o quinto da série “e tem a particularidade de ser um longo “one shot” de 126 páginas que se lêem de um só fôlego, e mostram um Miller ao seu melhor nível. Uma história de vingança planejada (e contada) com a precisão de um mecanismo de relojoaria, que lida com o conceito de família de uma forma pouco tradicional. Neste caso, as famílias que dão nome a esta história de valores familiares, em que um velho mafioso não hesita em entrar em guerra com o Boss Wallenquist (personagem que domina o submundo de Sin City,) para vingar a filha morta, são a Máfia e um casal de prostitutas lésbicas. E para além de uma história muitíssimo bem contada, com um judicioso recurso a flash-backs, e planificada de forma quase perfeita, há ainda o puro prazer de ver Miho - uma japonesa que Miller classifica como «o sonho de qualquer artista, pois é extremamente divertida de desenhar e enche as páginas de energia» - em acção e apreciar o belo cadillac cor de cereja que Dwight ganhará como recompensa do seu trabalho.
Graficamente, aqueles que pensavam que já nada havia para inventar em Sin City vão ficar surpreendidos com os efeitos da neve das páginas 37 a 41, ou com a imagem expresssionista das páginas 123 e 124, em que Dwight descreve a vingança das prostitutas apelando à imaginação do leitor e conseguindo, assim, um efeito de horror muito mais eficaz do que através de uma mera representação gráfica.
Um regresso que se saúda, numa boa edição, bem traduzida, mas que podia ter sido melhor revista. Que venham rapidamente os volumes que faltam!
(“Sin City: Valores Familiares”, de Frank Miller, Devir, 128 pags, 11,99 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 2/10/2010

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Spirou: A Invasão dos Zorcons


Editado em Portugal no mesmo dia em que saiu em França (pelo menos nas lojas FNAC, pois ao resto do mercado livreiro só vai chegar em inícios de Outubro…), “A Invasão dos Zorkons” traz de volta Spirou e Fantasio, numa história assinada pela dupla Yoann e Vehlman que, depois de “Os Gigantes Petrificados”, o primeiro álbum da série especial (que em Portugal foi publicado em 2007, numa colecção distribuída com o jornal “Público”) voltam a trabalhar com a icónica personagem criada por Rob-Vel para a editora Dupuis.

Escolhidos para suceder à dupla Morvan e Munuera, que tentou uma (mal sucedida, pelo menos comercialmente) aproximação à Banda Desenhada japonesa, o argumentista Fabien Vehlmann e o desenhador Yoann optaram por uma abordagem mais clássica do que a usada em “Os Gigantes Petrificados”, que usa a fase (incontornável) de Franquin como ponto de partida, em especial os álbuns “Z de Zorglub”, “O Ninho de Marsupilamis” e “O Dinossauro Congelado”. Assim, nesta história que se passa na região de Champignac, em quarentena, temos a participação das principais personagens criadas por Franquin (com excepção de Gaston e do Marsupilami), como Zorglub, o Conde de Champignac e as figuras típicas da terra, do bêbado ao palavroso Presidente da Câmara. O resultado final, não sendo deslumbrante, é de uma grande eficácia, tanto narrativa como gráfica. Vehlman constrói uma história movimentada que se lê com prazer, enquanto que Yoann imagina o que seria o Spirou de Franquin na época da série “Ideias Negras” e cria o seu novo estilo a partir de aí.

A série paralela mostrou, através de álbuns como o notável “Le Journal d’un Ingenú”, de Emile Bravo, que a personagem “Spirou”, desde que bem explorada, ainda tem muito para dar, pelo que seria interessante ver, em paralelo com a série clássica, um álbum de Spirou desenhado por Yoann em cores directas. As magníficas ilustrações com o Spirou, como a que aqui reproduzo, que estão no site do autor não deixam quaisquer dúvidas a esse respeito!
(“Spirou” 51. A Invasão dos Zorkons”, de Yoann e Vehlmann, Edições Asa, 48 pags, 12,90 €)
Texto originalmente publicado no "Diário As Beiras" de 25/09/2010

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Schuiten e Peeters -Outubro em Portugal



Este mês de Outubro, Schuiten e Peeters, a dupla por detrás da série "As Cidades Obscuras" vai estar presente em força no nosso país. Depois de na última quarta-feira, 13 de Outubro, terem apresentado uma conferência na Central Tejo, no magnífico espaço do Museu da Electricidade (cuja arquitectura não destoaria da Cidade Obscura de Mylos) no âmbito do Congresso de arquitectura "Once Upon a Place: Haunted Houses and imaginary Cities", a dupla regressa a Portugal no fim de semana de 23 e 24 de Outubro, para o Festival de Amadora, onde estará patente uma exposição dedicada ao álbum "A teoria do Grão de Areia", concebida pelos próprios e com cenografia e execução de Yves Marechal e Dominique Briand, da firma Bleu Lumière.
Da exposição, falarei quando a vir, mas a muito concorrida conferência, foi um êxito junto de um público constituído essencialmente por arquitectos (do meio da BD, apenas por lá vi João P. Boléo, Nelson Dona - que colaborou na organização da conferência - Maria José Pereira - a editora de Schuiten em Portugal - e Rui Zink.
Convém ainda referir que esta foi a terceira vez que Schuiten e Peeters apresentam uma das suas conferências-espectáculo no nosso país. A primeira,teve lugar em Outubro de 1997 no Mercado Ferreira Borges, no âmbito do 9º Salão Internacional de BD do Porto, dedicada à vida e obra inventor e cientista Axel Wappendorf. A seguinte e a mais atribulada, teve lugar em Coimbra, um mês depois, no Auditório do Museu da Física da Universidade de Coimbra, no âmbito de um simpósio internacional sobre a série "As Cidades Obscuras" e os estranhos acontecimentos que a perturbaram, já foram suficientemente dissecados no livro "As Cidades Visíveis".

Quase 13 anos depois, seguiu-se, finalmente, a conferência do passado dia 13, intitulada "L'Aventure des Images". A conferência, que fez um percurso da dupla, desde a BD, às exposições e projectos multimédia, passando pela recuperação e dinamização da Maison Autrique, teve a particularidade de apresentar Schuiten a desenhar ao vivo, enquanto falava, num interessante diálogo com os seus trabalhos impressos, projectados noutro ecrã.
Aqui ficam as imagens possíveis (foram tiradas com um telemóvel) do concorrido evento, que terminou com os arquitectos a portarem-se exactamente como os fãs da BD, não deixando sair Schuiten e Peeters sem darem uma sessão de autógrafos...













sábado, 9 de outubro de 2010

Quartier Lointain, de Taniguchi, chega ao cinema


O mais europeu dos autores de mangá japoneses, Jiro Taniguchi tem praticamente a totalidade da sua obra editada em França e já trabalhou com Moebius e Morvan. Daí que não seja de estranhar que a primeira adaptação de uma obra sua ao cinema aconteça na Europa e não no Japão. O realizador belga Sam Garbarski adaptou o magnífico "Quartier Lontain" ao cinema, numa co-produção franco-belga-alemã que estreou este ano em Cannes e chega às salas de cinema francesas a 24 de Novembro. Embora transponha a acção do livro do Japão para a Europa, diz quem já viu que o filme é bastante fiel ao espírito da obra de Taniguchi, que tem uma pequena participação, tal como Frank Pé, o desenhador de "Brousaille" e "Zoo", que é o autor dos desenhos que aparecem ao longo do filme.
Conhecendo a pouca atenção dada pela distribuição nacional ao cinema europeu, é provável que este filme só chegue a Portugal através da Festa do Cinema Francês, que este ano, no que à BD diz respeito, vai contar com "Gainsbourg, Vie Heroique" de Joann Sfar e com a adaptação cinematográfica do "Petit Nicolas", de Goscinny e Sempé. Até lá, aqui fica o trailer:

Quartier lointain - Bande annonce FR

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Corto Maltese: Mu, A Cidade Perdida


Actual detentora dos direitos de publicação da série “Corto Maltese” para Portugal, a Asa iniciou a publicação da série com aquela que é a última aventura do marinheiro criado por Hugo Pratt, o álbum “MU”, que depois de uma edição em capa dura exclusiva da FNAC, chega ao restante mercado livreiro na edição em capa mole.
Publicada originalmente em Portugal, em 2004, numa edição a preto e branco em três volumes, distribuída com o jornal “Público”, “Mu” traz Corto de regresso ao Oceano Pacífico de cujas águas surgiu pela primeira vez em “A Balada do Mar Salgado”, numa aventura em que regressam vários personagens emblemáticos da série, como Boca Dourada, Tristan Bantan, o professor Steiner, Levi Colombia, Soledad Lokaarth e o índio Jesus-Maria, para além do inevitável Rasputine.
Se o cenário e as personagens nos remetem para os primeiros álbuns da série, de “A Balada do Mar Salgado” a “Sob o Signo do Capricórnio”, é nítida uma evolução no comportamento de Corto e no traço de Pratt, longe do virtuosismo de outros tempos e com uma rigidez que a cor lá vai de algum modo disfarçando. Depois de na aventura anterior, “As Helvéticas”, Corto ter passado a história toda a dormir num quarto na Suiça, onde já tinha estado Herman Hesse, não passando a aventura de um sonho, em “Mu”, Pratt regressa à aventura em locais exóticos, mas a fronteira entre o sonho e a realidade continua difusa e tanto Corto como Rasputine passam grande parte da história a dormir e/ou a sonhar…
Os grandes temas da obra de Pratt estão cá todos, mas a acção já não flui da mesma maneira, tal como os diálogos, não obstante uma excelente sequência inicial . Ou seja, Pratt tenta voltar ao passado, mas apesar das piscadelas de olho à sua própria obra, desde o encontro com o Monge, que não é o da “Balada do Mar Salgado”, às borboletas que Corto segue, que podiam ser as de “A Macumba do Gringo”, ou de “Corto Maltese na Sibéria”, este Corto Maltese já não tem, quanto a mim, o charme dos velhos tempos, parecendo mais uma obra de um imitador esforçado, do que do próprio Pratt.
Mas, mesmo não sendo “vintage” Pratt, muito longe disso, este não deixa de ser um trabalho importante na obra do mestre veneziano, que convoca a maioria das personagens da série para esta última aventura de Corto Maltese, bem servido por uma excelente edição, que tem, como (grande) senão, o preço escandalosamente alto para a realidade portuguesa.
(“Corto Maltese: MU, a Cidade Perdida”, de Hugo Pratt, Edições Asa, 200 pags, 30,79 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 16/09/2010