80 Anos de Batman Vol 4
Batman:Gothtopia
Argumento – John Layman
Desenhos – Jason Fabok e Aaron Lopresti
Quinta, 14 de Março
Por + 11,90 €
Depois de nos três primeiros números ter explorado a etapa final de Scott Snyder e Greg Capullo na revista principal do Batman, a colecção 80 Anos Batman prossegue com a apresentação de outro marco da era Novos 52: a etapa de John Layman na revista Detective Comics, que concluiu precisamente com este Gothtopia.
História em três partes, iniciada em finais de 2013 no mítico nº 27 da revista Detective Comics (recordemos que foi no nº 27 da primeira série desta revista que deu o nome à editora DC, que o Batman surgiu pela primeira vez, em 1939), um número especial de 96 páginas que contou com a presença de autores como Scott Snyder, Sean Murphy, Paul Dini, Neal Adams e Frank Miller, que ilustrou uma das capas alternativas, para além, claro, do argumentista John Layman e o artista Jason Fabok que assinaram o primeiro capítulo da estranha e inquietante história do Batman que dá nome ao volume. Nessa história, Gotham é uma utopia, livre de crime, e em que os heróis são celebrados por toda a população. O Batman é um vigilante universalmente adorado, vestido com o seu brilhante fato de Cavaleiro da Luz, e a sua companheira – e amante – não é outra senão Selina Kyle, a Catwoman, que aqui veste um uniforme novo, que é um compromisso entre o traje do Robin e o da própria Catwoman, e dá pelo nome de Asa Felina.
Uma premissa habitual na linha Elseworlds, que explora histórias alternativas do Batman e dos outros heróis do universo DC, mas que, neste caso, está perfeitamente integrada na continuidade da série.
Layman, que os leitores portugueses bem conhecem da série Tony Chu, explora, invertendo-a, a dualidade luz/trevas que marca o universo DC, bem patente na oposição entre as cidades de Superman e do Batman: a luminosa Metropolis e a sombria Gotham. Como o próprio refere numa entrevista: “Os vilões do Batman são sempre um estudo da dualidade, reflexos distorcidos do próprio Batman. E se fizéssemos o mesmo com a cidade de Gotham City? Gotham é tradicionalmente sombria e assolada pelo crime. Como seria o universo do Batman se assim não fosse, e como é que o Batman iria funcionar numa cidade como essa, onde ele está tão obviamente fora de seu elemento?
A cidade de Gotham é um personagem vivo. E como qualquer personagem, precisa ser explorado, ajustado e atormentado. Gotham é definitivamente uma entidade dentro de Batman, tão digna de atenção quanto o resto do elenco de apoio.”
Nesta Gotham luminosa e utópica, os heróis e os vilões que conhecemos surgem em versões ligeiramente diferentes, o que possibilitou ao desenhador Jason Fabok exercitar a sua criatividade, na criação da versão luminosa da bat-família e da sua galeria de vilões, com destaque para a Hera Venenosa e o Espantalho, que estão no centro da histórias e cuja densidade psicológica é bem explorado pelo escritor.
Mais uma vez, demos a palavra a Layman: “Eu acho que todas as histórias do Batman são psicológicas, até certo ponto, porque os vilões do Batman são tão psicologicamente complexos... assim como o próprio Batman. É claro que se pode dizer que o Espantalho é um dos mais psicologicamente complexos, num elenco já muito diverso e perturbado de vilões do Batman.”!
Caberá ao leitor decidir se prefere o Cavaleiro da Luz desta Gotham utópica, ou o velho Cavaleiro das Trevas da velha cidade sombria. Mas levar o leitor a questionar-se é um dos objectivos de John Layman, como o próprio refere: “fundamentalmente, esta história é uma exploração do que faz o Batman funcionar e o que faz dele o Batman. Nesse caso, ele recebe algo que raramente tem, um grau de felicidade e um mundo que não é sombrio e feio, nem está conspurcado pela corrupção. Como ele reage? Batman funciona melhor nas sombras e na escuridão de Gotham. Como ele é sem as sombras e a escuridão?”
Mas embora seja o fulcro deste volume, Gothtopia não é a única história que o preenche. Há ainda espaço para três outras histórias, Memórias de um Delator, centrada no Comissário Gordon, Águas Agitadas em que Jason Fabok cede o lugar a Jorge Lucas como desenhador principal e Coroa do Medo, em que Kirk Langstrom, o cientista que criou a fórmula que lhe permite transformar-se no Morcego Humano se alia ao Batman para combater a ameaça da sua mulher, também ela vítima da fórmula criada por Langstron. Uma história em que Jason Fabok é substituído por Aaron Lopestri no desenho a lápis e por Art Thibert na passagem a tinta.
Publicado originalmente no jornal Público de 09/03/2019
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