Já está disponível nas bancas de todo o país, onde se manterá até ao final de Agosto, o mais recente Tex Gigante (ou Texone, como são conhecidas em Itália estas edições) que conta com desenhos do italiano Fabio Civitelli, autor bem conhecido dos fãs nacionais do ranger da casa Bonelli, até pela suas diversas vindas ao nosso país, para conviver com os fãs locais.
Quem costuma acompanhar este blog sabe bem que a minha ligação à série Tex fez-se muito mais pelos desenhadores que a ilustram do que pelo carisma da personagem, daí que siga com especial atenção os Texones, que já me fizeram descobrir desenhadores do calibre de um Pasquale Frisenda, ou de um Carlos Gomez. No caso de Civitelli, cujo trabalho conhecia das revistas mensais, devo confessar que, embora reconheça a qualidade e a extraordinária minúcia do seu traço clássico, está longe de ser dos meus desenhadores do Tex preferidos, muito por força do tratamento fisionómico muito suave e quase idealizado que dá às personagens principais, longe dos rostos marcados e “vividos”, habituais nos desenhos de José Ortiz, Guido Buzzelli, Victor De La Fuente ou Carlos Gomez, que claramente prefiro.
Desenhador regular da série, Civitelli tem aqui outras condições para fazer brilhar o seu traço, aproveitando o formato maior, próximo do A4, destes Tex Gigantes e a verdade é que as aproveita muito bem, realizando um trabalho de sombras notável nas cenas nocturnas, graças a uma apurada técnica pontilhista, na melhor tradição do Mestre Franco Caprioli. O trabalho gráfico de Civitelli resulta excelente em termos da criação de uma atmosfera fantástica e a forma como o suspense é gerido ao longo de toda a história tem momentos brilhantes, tanto nas cenas dos ataques nocturnos do Hombre Muerto, como na sequência na necrópole índia, já para não falar do clima quase daliniano do pesadelo de Eusébio, em que as sombras da noite dão lugar à luz crua do deserto.
Tendo como principal fonte de inspiração o conto clássico de Washington Irving, The Legend of Sleepy Hollow (publicada em Portugal como A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça) que já deu origem a um filme de Tim Burton e a uma série de televisão recente, que transpõe a história para a actualidade, Mauro Boselli transpõe a história de Irving para o México, associa-a a personagens com existência histórica real e partir daí constrói uma boa história de terror, com um toque fantástico, que só peca por um final apressado, sobretudo tendo em conta o tempo que a história propriamente dita demora a arrancar. Mas, para compensar, há algumas sequências brilhantes em termos de criação de ambiente, que poderiam dar um belíssimo filme. Por exemplo, as cenas em que o som da flauta precede o ataque do Hombre Muerto, fizeram-me lembrar a forma absolutamente brilhante como Sérgio Leone usava a música de Enio Morricone nas cenas fulcrais dos seus filmes.
Em suma, mais um Texone a não perder, que me fez apreciar a arte de Fabio Civitelli com outros olhos.
(Tex Gigante nº 27: A Cavalgada do Morto, de Mauro Boselli e Fabio Civitelli, Mythos Editora, 242 pags, p/b, 10 €)
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