quinta-feira, 31 de março de 2016

Super-Heróis DC 9 - Lex Luthor: Preconceito e Orgulho

LEX LUTHOR EM DESTAQUE 
NA COLECÇÃO SUPER-HERÓIS DC

Super-Heróis DC Vol 9
Lex Luthor: Preconceito e Orgulho
Argumento – Brian Azzarello
Desenho – Lee Bermejo
Quinta, 31 de Março
Por + 9,90 €
Já dizia Alfred Hitchcock que o sucesso de um filme dependia, e muito, do carisma do vilão. E não há grandes dúvidas de que a DC tem os vilões mais carismáticos da história dos comics. É pois com naturalidade que, depois do Joker na colecção anterior, o destaque do volume que chega às bancas na próxima quinta-feira vá para o outro grande vilão do Universo DC, Lex Luthor, o Némesis do Super-Homem. Novamente, os responsáveis por esta abordagem inesperada da relação entre o Homem de Aço e o seu mais astucioso adversário, são Brian Azzarello e Lee Bermejo, os mesmos autores de Joker, que mostram mais uma vez a incrível sintonia existente entre eles, que lhes permite criar histórias inesquecíveis.
Embora tenha saído depois em Portugal, este Lex Luthor: Preconceito e Orgulho, é anterior ao livro dedicado ao Joker, tendo sido publicado originalmente nos EUA em 2005, como Lex Luthor: Men Of Steel, uma mini-série em 5 partes e foi precisamente o seu grande sucesso que possibilitou a posterior publicação da novela gráfica dedicada ao Joker.
Segunda colaboração entre o escritor Brian Azzarello e o desenhador Lee Bermejo, depois da mini-série Batman/Deathblow: After the Fire, de 2003, Lex Luthor… é uma das primeiras histórias a ter um vilão como protagonista, o que Azzarello justifica com uma maior facilidade em identificar-se com os vilões do que com os heróis, algo que a série 100 Bullets, onde não há inocentes, já deixava perceber.
Outro aspecto extremamente inovador deste livro, é a história ser contada na perspectiva do vilão, que nos apresenta a sua visão do Super-Homem, que Luthor considera, não como a encarnação do sonho americano e símbolo da verdade, da justiça e do modo de vida americano -  como o emigrante que encontrou o sucesso na terra prometida - mas sim como uma ameaça extraterrestre. Um ser quase divino, demasiado poderoso para ser controlado e que Luthor considera como uma potencial ameaça para a humanidade. É precisamente a origem alienígena do Homem de Aço, aliada à sua popularidade, que faz dele um alvo a abater por Luthor, que o teme e o inveja.
Criado por Jerry Siegel e Joe Schuster em 1940, Lex Luthor começou por ser um cientista que criava armas de guerra que lhe permitissem dominar o mundo, mas depois disso já foi homem de negócios impiedoso, milionário, génio científico e até Presidente dos Estados Unidos, mas poucos autores compreenderam melhor a complexidade da personagem do que Azzarello e Bermejo.
Texto publicado originalmente no jornal Público de 25/03/2016

sexta-feira, 25 de março de 2016

Super-Heróis DC 8 - Quarto Mundo: Génesis e Apokolips

Tive oportunidade (e o privilégio) de escrever a introdução para aquele que é o mais importante volume em termos históricos desta colecção. Razão porque vos deixo o texto do Público apenas em imagem. Ao contrário do que tem sido habitual nesta colecção, ste foi um daqueles textos em que foi necessário fazer algumas alterações pedidas pela DC, que naturalmente não afectam a versão que aqui publico, sem quaisquer cortes ou censuras.
E KIRBY CRIOU O QUARTO MUNDO

Se há obras claramente à frente do seu tempo, cujo verdadeiro impacto só é possível abarcar décadas mais tarde, o Quarto Mundo de Jack Kirby é um desses títulos. Nome maior dos comics americanos, com um trabalho de uma importância tal, que lhe valeu a alcunha de King (Rei), Kirby, que nasceu como Jacob Kurtzberg, em 1917, começou a sua carreira artística em 1936. Em 1939, depois de uma breve experiência com animação no estúdio dos irmãos Fleischer, ingressa nos estúdios Eisner/Iger - onde trabalhou também Bob Kane, o criador de Batman. Aí, sob a orientação de Will Eisner, esteve ligado ao arranque da indústria dos comics, produzindo o mais variado tipo de histórias para várias publicações. Ao longo da sua carreira de décadas, Kirby abordou os mais diversos géneros, do western, às histórias românticas, passando pelas histórias de monstros e o policial negro, mas foi como criador de super-heróis que ganha um lugar maior na história da banda desenhada.
Um percurso que começou em 1940, ao lado de Joe Simon, com quem criou o Capitão América, e teve o seu apogeu na década de 60, ao lado de Stan Lee, com a criação da maioria dos heróis da Marvel. Mas no início da década de 70, Kirby decide trocar a Marvel pela DC, regressando assim a uma casa para onde já tinha trabalhado com alguma regularidade durante as décadas de 40 e 50.
Aí, contando com total liberdade e autonomia, Jack Kirby começou a contar a história do Quarto Mundo. Uma saga épica, de uma dimensão cósmica, que levava o termo Larger than Life - Maior que a Vida - a uma escala inusitada, inteiramente editada, escrita e desenhada pelo King, transpondo para o papel um universo que, conforme refere Marv Wolfman, que na altura trabalhava na DC, já estava na sua cabeça há mais de quatro anos.
Ainda antes da saída dos três novos títulos que contam a saga dos Novos Deuses e o combate entre Nova Génesis e Apokolips, os personagens do Quarto Mundo fazem a sua aparição na revista Superman's Pal Jimmy Olsen, o primeiro título onde Kirby trabalha no seu regresso à DC, e para o qual vai recuperar personagens como o Guardião e a Legião dos Ardinas, criadas aquando da sua primeira passagem pela DC (então National Comics) e introduzir conceitos inovadores, como a clonagem e a nanotecnologia.
A presença do Super-Homem na revista - mesmo que os rostos do Homem de Aço e de Jimmy Olsen fossem redesenhados por Al Plastino, e mais tarde, por Murphy Anderson, para ficarem mais próximos da imagem oficial do Super-Homem na época, que tinha como modelo o Super-Homem desenhado por Curt Swan - permitiu apresentar as personagens do que viria a ser o Novo Mundo a um leque mais vasto de leitores. Dessa forma, abriu-se o caminho ao lançamento em Fevereiro/Março de 1971 do primeiro número da revista New Gods, a que se seguiram as revistas The Forever People, no mesmo mês, e Mister Miracle, em Abril, completando o conjunto de quatro títulos bimestrais (o que obrigava Kirby a desenhar duas revistas por mês) que contam a história do Quarto Mundo.
O tema central da saga do Quarto Mundo é a eterna luta entre o Bem e o Mal, representados por Nova Génesis e Apokolips, dois mundos opostos nascidos do conflito cósmico que levou à queda dos Antigos Deuses e ao aparecimento dos Novos Deuses. Para pôr um termo à guerra sem quartel que ameaçava destruir galáxias, Izaya, o Pai Celestial de Nova Génesis, e o impiedoso Darkseid de Apokolips, decidem trocar filhos como reféns, de modo a assegurar uma trégua. Assim, Órion, o filho de Darkseid, vai ser criado em Nova Génesis, enquanto Scott Free, o filho de Izaya, é enviado para Apokolips.
É este momento fulcral da história do Quarto Mundo que nos é contado em O Pacto, o episódio que abre este volume e que é considerado por muitos como a melhor história de sempre de Kirby. Este episódio é também importante por dar a conhecer a origem de Scott Free, cuja fuga de Apokolips para a Terra, onde se tornará o Sr. Milagre, traz a guerra entre Apokolips e Nova Génesis para o nosso mundo e dá a Darkseid o pretexto ideal para pôr fim à trégua entre os dois mundos. É dessa guerra sem quartel, que põe em risco a sobrevivência do nosso planeta, de que o leitor terá uma visão panorâmica neste volume que proporciona uma primeira aproximação, necessariamente sintética, à história do Quarto Mundo.
Se quisermos encontrar um adjectivo que melhor descreva o trabalho de Kirby em O Quarto Mundo, o único adequado é mesmo kirbyesco, mas épico também está bastante próximo. Essa dimensão épica está patente na força majestática dos desenhos, na corporalidade miguelangelesca das figuras, na pura energia que irradia das páginas cheias de acção, na maquinaria impossível, radiante de poder, que Kirby desenhava como ninguém, e também no próprio tom empolado da narrativa e dos diálogos. Aspectos que, aliados aos próprios nomes das personagens, que remetem para a Bíblia (como Izaya e Esak), para a mitologia clássica (como Órion), ou para a literatura (Desaad, o Cruel, lembra o Marquês de Sade, e Kalibak, o filho monstruoso de Darkseid, evoca Caliban, de A Tempestade, de Shakespeare) mostram a vontade de Kirby em criar uma mitologia para o século XX, pois como o próprio refere numa entrevista de 1984, republicada quase três décadas mais tarde na revista Jack Kirby Collector: "com os Novos Deuses, senti que estava a criar uma mitologia para os nossos tempos. Parecia-me que essa mitologia entretinha os leitores, como era o meu objectivo. O que eu estava a fazer era uma parábola dos nossos tempos."
Mas a verdade é que, ao contrário do que o próprio Kirby pensava, a sua criação estava muito à frente do seu tempo e os leitores não estavam ainda preparados para uma história cuja acção se espalhava por quatro títulos diferentes e que lhes pedia uma capacidade de assimilar um grande leque de personagens e de cenários, que fugiam daquilo a que eles estavam habituados. O resultado foi o cancelamento das revistas New Gods e The Forever People ao fim de apenas 11 números e de Mr. Miracle (a mais próxima do registo tradicional das histórias de super-heróis) após 18 números, numa fase em que a história idealizada por Kirby estava ainda bem longe de estar contada. Só em 1984, aproveitando a reedição da série New Gods, como uma mini-série de seis volumes, Kirby pôde continuar a contar a história do Quarto Mundo, primeiro, com Even Gods Must Die, uma nova história de 48 páginas, incluída no sexto volume dessa reedição, que abre o caminho para The Hunger Gods, uma novela gráfica original, que concluiu a série, deixando no entanto a porta aberta para a utilização das personagens criadas pelo King por outros autores.
Mesmo que Kirby não tenha conseguido contar a história que queria, da maneira como queria, o impacto do Quarto Mundo no universo DC é incontornável. Basta ver esta colecção, onde Darkseid é a ameaça principal dos volumes dedicados à Liga da Justiça e à Legião dos Super-Heróis.
Em American Gods, Neil Gaiman defende que os deuses só sobrevivem enquanto houver quem acredite neles. Por isso, enquanto houver novos leitores a descobrir a magia e a glória do Quarto Mundo de Jack Kirby, os Novos Deuses de Apokolips e Nova Génesis manter-se-ão bem vivos.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Super-heróis DC 7 - Super_Homem & Batman: Antologia

AINDA ANTES DO CINEMA, BATMAN E SUPER-HOMEM ENCONTRAM-SE NOS QUIOSQUES 

Super-Heróis DC Vol 6 Super-Homem & Batman: Antologia
Argumento – Vários Desenho – Vários 
Quinta, 17 de Março Por + 9,90 € 
Exactamente uma semana antes de se encontrarem pela primeira vez nos ecrãs de cinema, Batman e Super-Homem dividem o protagonismo no sétimo volume da colecção Super-Heróis DC, que chega aos quiosques na próxima quinta-feira.
Este volume antológico recolhe, por ordem cronológica, os principais encontros entre os dois mais populares heróis do Universo DC ao longo dos tempos. Criados respectivamente em 1938 e 1939, o Super-Homem e o Batman, apesar de partilharem a capa da revista World’s Finest Comics (que, como o próprio nome indica, recolhia aventuras a solo dos dois maiores heróis do Mundo), desde 1941, só se encontraram pela primeira vez numa BD em 1952, na história A Mais Poderosa Equipa do Mundo, de Ed Hamilton e Curt Swan, aventura que, não por acaso, abre o volume da próxima quinta-feira.
 Seguem-se duas histórias ilustradas pelo grande Neal Adams, nome bem conhecido dos leitores do Público, pois foi o desenhador de Batman: A Saga de Ra’s Al Ghul e Lanterna Verde e Arqueiro Verde: Inocência Perdida, dois clássicos incontornáveis, publicados na anterior colecção que o Público e a Levoir dedicaram à DC. Um dos pontos altos desta edição é a história Ontem, Hoje e Amanhã, escrita por Geoff Johns em 2006, que revisita de forma nostálgica alguns dos momentos mais importantes da história dos dois heróis, interpretados no estilo original de cada um desses momentos por um naipe impressionante de artistas (que inclui nomes como Dick Giordano, George Pérez, Ethan Van Sciver, Adam Kubert, Ed Benes ou Dan Jurgens) que ao longo das décadas deixaram a sua marca nas aventuras dos dois heróis.
Depois de uma aventura escrita por Jeff Lemire, em que o Super-Homem e o Batman combatem ao lado de outro Super-Herói DC, o Átomo, chega outro momento imperdível deste volume: Se Calhar já Ouviram Esta…, uma tão divertida como delirante história, em que Joe Kelly e um punhado de artistas, actualizam e reinventam o primeiro encontro entre Batman e Super-Homem, tal como foi descrito em A Mais Poderosa Equipa do Mundo. A terminar, temos um breve momento de pura poesia de Jeph Loeb e Tim Sale, que imaginam o primeiro encontro entre Clark Kent e Bruce Wayne… que não chegou a ser, terminando em beleza este livro. Um volume antológico, recheado de grandes histórias, que permitirá aos leitores conhecer melhor o Homem de Aço e o Cavaleiro das Trevas, antes do seu tão aguardado confronto nas salas de cinema.
Texto originalmente publicado no jornal Público de 11/03/2016

sexta-feira, 11 de março de 2016

Super-Heróis DC 6 - Aquaman: o Abismo


AQUAMAN EM ESTREIA NA COLECÇÃO SUPER-HERÓIS DC


Super-Heróis DC Vol 6 - Aquaman: O Abismo
Argumento –  Geoff Johns
Desenho – Ivan Reis e Joe Prado
Quinta, 04 de Março
Por + 9,90 €

É já na próxima quinta-feira que os leitores vão poder descobrir aquela que é a primeira história de Aquaman publicada em Portugal. Um dos mais importantes super-heróis do panteão da DC que chega pela mão de Geoff Johns e de Ivan Reis, dois criadores já conhecidos dos leitores do Público, na história que ajudou a afirmar o Senhor dos Sete Mares no firmamento do Universo DC Novos 52.
Criado por Mort Weisinger e Paul Norris em 1941, no nº 73 da revista More Fun Comics, Aquaman é o resultado de uma ligação entre um humano e uma princesa atlante. Um ser capaz de viver tanto à superfície como debaixo de água e com capacidade de comunicar com todas as criaturas aquáticas, dividido pela sua dupla natureza de humano e atlante. Apesar de estrear na década de 40, só bem mais tarde, na década de 60, durante o período conhecido pela Silver Age, é que o Senhor dos Sete Mares ganha direito a uma revista própria e se torna membro fundador da Liga da Justiça. A sua popularidade aumenta ainda mais durante essa década graças à sua participação nas séries de animação The Superman/Aquaman Hour of Adventure e Super Friends, mas a versão mais infantilizada que essas séries, destinadas maioritariamente a um público infantil, apresentavam do herói, aliada ao berrante uniforme verde e laranja que envergava, levaram com que o Aquaman nunca fosse levado muito a sério pelos fãs da DC.  
Para fugir a essa imagem, diversos criadores, como Neal Pozner, que lhe mudou o uniforme, ou Peter David, que lhe substituiu uma mão decepada por um arpão, transformaram o Aquaman num herói bem mais sombrio e torturado. Finalmente, Geoff Johns, como poderemos ver, conciliou a origem e a imagem tradicional do herói, com uma abordagem mais dinâmica, realista e espectacular, aproveitando ainda para ironizar com a visão que o grande público, que o desdenha e o vê como uma piada, tem do Aquaman.
Na sua estreia numa colecção de super-heróis do Público, Aquaman é confrontado com uma estranha e terrível ameaça que surge das profundezas oceânicas e ameaça destruir todo o Planeta. Uma ameaça que se revela a oportunidade perfeita para o Rei dos Sete Mares provar que é um dos grandes super-heróis do Universo DC. Para traduzir essa dimensão mais épica do herói, Johns conta com um aliado de peso no brasileiro Ivan Reis, cujo traço realista e extremamente detalhado e o dinamismo que empresta às cenas de acção, contribuem para o tom épico desta espectacular aventura.
Texto publicado originalmente no jornal Público de 04/03/2016

quarta-feira, 9 de março de 2016

Super-Heróis DC 5 - Arqueiro Verde: Ano Um


Como o texto editorial deste volume é da minha autoria, aqui vos deixo com ele. limitando-se a presença do texto do Público à imagem abaixo.


O NASCIMENTO DE UM HERÓI

Todos os super-heróis têm uma génese, um momento definidor que os leva a abandonar uma vida normal e dedicar a sua existência a ajudar os outros e a combater o crime. Os leitores sabem bem que Bruce Wayne se tornou o Batman para impedir que mais inocentes morressem à mão dos criminosos, como aconteceu com os seus pais, tal como sabem que o jovem kryptoniano Kal El decidiu vestir o fato do Super-Homem, para ajudar o planeta que o acolheu e onde se fez homem. Embora contada de diferentes maneiras ao longo dos tempos, essa origem, na sua base, é geralmente imutável, mesmo que permita algumas interessantes variações. Basta pensar na última história de Batman Noir, de Brian Azzarello e Eduardo Risso, em que é Bruce Wayne quem morre e o seu pai quem se transforma no Batman, ou em Super-Homem: Herança Vermelha, de Mark Millar e Dave Johnson em que a nave que transporta Kal El aterra na Sibéria em vez de no Kansas, alterando profundamente o equilíbrio mundial.
No caso do herói que protagoniza este volume, o Arqueiro Verde, essa origem apresentou diferenças significativas ao longo dos tempos, até ser codificada de forma brilhante por Andy Diggle e Jock em Arqueiro Verde: Ano Um, a história que podem ler a seguir, publicada originalmente em seis edições quinzenais, entre Setembro e Novembro de 2007.
Aquando da sua primeira aparição em Novembro de 1941, nas páginas da revista More Fun Comics # 73, numa história escrita por Mort Weisinger e ilustrada por George Papp, o Arqueiro Verde surge já em acção ao lado do seu jovem ajudante Speedy, dotado de um arsenal de flechas especiais e de veículos como o Carro-Flecha, ou o Avião-Flecha, armazenados na Caverna-Flecha, o que, para além das óbvias semelhanças com o Batman, deixa perceber que a actividade secreta do milionário Oliver Queen e do seu pupilo Roy Harper, como combatentes do crime, não tinha começado naquele momento. Mas os leitores teriam de esperar quase dois anos, até à publicação da história The Birth of the Battling Bowmen, na revista More Fun Comics # 89, em 1943, para finalmente descobrirem a origem do Arqueiro Verde.
Nesta primeira versão, Oliver Queen é um arqueólogo, especializado na culturas primitivas americanas que, depois do Museu de que era Curador ser incendiado por criminosos, parte para uma expedição à Mesa Perdida, um planalto no meio do deserto onde encontra o jovem Roy Harper e o seu criado Quaog, únicos sobreviventes do desastre de avião que vitimou os pais de Roy, De origem índia, Quaog vai ensinar Roy a usar o arco e as flechas, o que lhes permite sobreviver naquele local inóspito, caçando pequenos animais e aves, mas os seus talentos como arqueiro não o impedirão de ser morto por um bando de criminosos que tinham seguido Oliver para roubar os tesouros indígenas escondidos na Mesa Perdida. Para além de derrotarem os bandidos, apenas com recurso a arcos e flechas, Oliver e Roy vão também encontrar um tesouro que os vai tornar ricos a ponto de se poderem dedicar a tempo inteiro ao combate do crime, sem quaisquer preocupações materiais.  
Em meados da década de 50, muitos das heróis da DC, cuja publicação tinha sido interrompida, regressam em novas versões, com novas identidades e novas origens, como acontece com o Flash, Átomo, ou o Lanterna Verde, dando assim início à Silver Age. O Arqueiro Verde é precisamente um dos heróis que regressa nessa altura, mantendo a sua identidade original, mas ganhando uma nova origem, pelas mãos do grande Jack Kirby. Assim, na história The Green Arrow First Case, publicada em 1958, na Adventure Comics # 250, Oliver Queen conta a Roy Harper como, depois de cair acidentalmente do seu iate em alto-mar, vai parar a uma ilha deserta no meio do Pacífico, tendo de fazer um arco improvisado, de modo a poder caçar e assim sobreviver. Os largos meses passados na ilha permitem-lhe tornar-se num arqueiro infalível e num caçador implacável. Capacidades que, uma vez regressado à civilização e à sua Star City natal, vai aplicar ao combate do crime.  
É essa nova origem, estabelecida por Jack Kirby, que vai servir de base a este Arqueiro Verde: Ano Um. Mas, como refere o próprio Andy Diggle: “As origens dos heróis não deviam permanecer imutáveis ao longo das décadas. Foram escritas para as crianças da década de trinta ou quarenta do século XX, não para adultos do século XXI. Se não reformulássemos e adaptássemos essas origens, o Batman ainda usaria uma arma e o Super-Homem não conseguiria voar! (…) a razão porque eu gosto dessas histórias de origens é porque te permitem mostrar a transformação das personagens e essa mudança é que as torna interessantes. O leitor vê Oliver Queen passar de um idiota bêbado para um herói capaz de se sacrificar pelos outros. Esta história é sobre a evolução da personagem, a sua transformação.”
Por isso, Diggle usa elementos da história de Kirby e de revisitações posteriores da origem da personagem, como a de Mike Grell, em Green Arrow: The Wonder Years, onde a referência ao lendário arqueiro Howard Hill, que trabalhou com Errol Flynn, surge pela primeira vez, para criar uma história original e marcante. Para esta história, Diggle vai recorrer ao seu velho amigo Jock, com quem já tinha colaborado em Lenny Zero - uma série derivada do Juiz Dredd, no início da sua carreira, quando os dois trabalhavam para a revista britânica 2000 AD, de que Diggle foi editor e argumentista - e na série Losers, da Vertigo, adaptada posteriormente ao cinema, num filme de grande orçamento, com um elenco de luxo, que incluia Chris Evans, Idris Elba e Zoe Saldaña.
Nascido em 1972 na Escócia, com o nome Mark Simpson, Jock é um artista versátil e talentoso, com uma carreira dividida entre a Banda Desenhada e a ilustração, seja desenhando histórias ou ilustrando capas para a DC e para outras editoras, seja trabalhando na concepção visual de filmes como Dredd ou Ex Machina. Com um estilo extremamente gráfico, em que o desenho manual se articula harmoniosamente com a cor digital, Jock possui um notável sentido de composição, que lhe permite criar páginas icónicas, capazes de funcionar isoladamente, como se de posters se tratassem, mas que em nada atrapalham o fluir da narrativa.
O seminal Batman: Ano Um, de Frank Miller e David Mazzuchelli (já publicado numa colecção da Levoir) colocou a fasquia muito alta no que se refere às histórias de origem dos super-heróis, mas este livro mostra estar à altura de tão pesada herança. Em Arqueiro Verde: Ano Um, Jock e Diggle criam uma história icónica e muitíssimo bem contada, cuja influência é visível, por exemplo, na série televisiva Arrow, que vai aproveitar a personagem de China White, introduzida por Diggle e Jock no universo DC. Uma influência que os escritores da série são os primeiros a reconhecer, ao darem a John Diggle, um dos parceiros de Oliver Queen na luta contra o crime, o mesmo apelido do escritor deste Arqueiro Verde: Ano Um.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Um Punhado de Imagens do Coimbra BD


Começou hoje o 1º Coimbra BD, uma mostra de Banda Desenhada que, se correr bem, poderá um dia dar origem a um Festival de Banda Desenhada com outra ambição. Para já, a adesão do público foi bastante interessante para uma tarde de semana e as coisas prometem animar ainda mais durante o fim-de-semana.
Eu estarei por lá até domingo, nas mesas da Dr. Kartoon e, durante o fim-de-semana terei a companhia de autores como o André Caetano,  João Mascarenhas, Pedro Morais, Marco Mendes, Osvaldo Medina, Ricardo Venâncio, Diogo Carvalho, Paulo Monteiro e o brasileiro André Diniz, que dará um toque internacional a uma iniciativa centrada nos autores portugueses.
No final, aqui farei o balanço da iniciativa, mas para já, deixo-vos com um punhado de imagens do primeiro dia do Coimbra BD, começando pela área comercial e continuando pelas exposições.