Já está nas bancas portuguesas “As Hienas de Lamont”, o Tex Gigante nº 26, ilustrado pelo argentino Ernesto Garcia Seijas. Depois de Carlos Goméz, no (magnífico) volume anterior, este é o 2º Tex Gigante (ou Texone, como lhe chamam os italianos) seguido, a contar com ilustrações de um mestre argentino que os leitores italianos conhecem das revistas da Eura Editoriale, a grande rival da Bonelli nos quiosques de Itália.
Mas isso é apenas uma mera coincidência, pois este livro, em que o desenhador começou a trabalhar em 2000, estava na gaveta do editor há quase uma década, havendo até quem duvidasse que alguma vez viesse a sair… Ao que parece, o motivo seria a quantidade (e a sensualidade) das mulheres que Seijas desenhou nesta aventura de Tex. A prova-lo está o facto de Garcia Seijas ter tido que redesenhar 11 páginas, mas mesmo com estas alterações, o livro, que chegou a estar anunciado para 2003, ficou guardado numa gaveta desde 2005 e só acabaria por ver a luz do dia em Novembro de 2011, já após a morte de Bonelli, falecido em Setembro desse ano.
Agora que o livro está ai, fica a dúvida quando à decisão de Bonelli. Sendo claramente uma história atípica em relação ao habitual na série, seja pelo facto de não acontecer grande coisa ao longo das quase duzentas páginas, seja pela sensualidade das figuras femininas de Seijas, seja ainda pelo facto de a maioria da história se passar num ambiente urbano, não me parece que “As Hienas de Lamont” seja um mau livro do Tex. É apenas um livro do Tex diferente, o que poderá ser encarado como negativo pelos fãs mais puristas, mas que, para mim, que continuo a seguir a série pela qualidade dos desenhadores, este “Texone” não desilude.
O mérito é todo de Seijas, um veterano da BD argentina, que já trabalhou com os maiores argumentistas do seu país, de Oesterheld a Trillo, passando por Robin Wood, e que aqui demonstra toda a elegância e sensualidade do seu traço, marcado pela clareza e legibilidade, na linha de outros mestres argentinos, como Horacio Altuna.
Se o argumento de Nizzi, um dos últimos que assinou para a editora Bonelli, mostra um escritor longe do seu melhor nível, numa história em que a presença dos companheiros de Tex não é devidamente aproveitada, a história tem o mérito de fazer brilhar os pontos fortes da arte de Seijas, um desenhador de grande elegância e com grande capacidade no tratamento fisionómico das personagens, evidente tanto nas personagens secundárias, como nas duas belas protagonistas femininas.
Embora longe do nível do volume anterior, este “Texone” é ainda assim bastante recomendável, sobretudo para quem quiser descobrir a belíssima arte de Ernesto Garcia Seijas, mais um mestre argentino que chega a Portugal graças à série Tex Gigante.
(“Tex Gigante nº 26: As Hienas de Lamont”, de Cláudio Nizzi e Ernesto Garcia Seijas, Mythos Editora, 242 pags, 10,00 €)
Versão integral do texto que devia ter sido publicado no Diário As Beiras de 30/10/2013
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