quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Novela Gráfica II 8 - Fax de Sarajevo


CERCADO EM SARAJEVO

Novela Gráfica II – Vol. 8
Fax de Sarajevo
Argumento e Desenho – Joe Kubert
Quinta, 04 de Agosto
Por + 9,90€
Depois da Guerra do Líbano, em A Dança das Andorinhas, de Zeina Abirached, a segunda série da colecção Novela Gráfica volta dar destaque à guerra vista na perspectiva de quem a sofreu na pele, neste caso com Fax de Sarajevo, a adaptação à BD feita por Joe Kubert da experiência real de Ervin Rustemagic, durante o cerco de Sarajevo, no início da década de 90 do século XX.
Nascido em 1926 (no seio de uma família de emigrantes judeus polacos, que imigrou para os Estados Unidos pouco depois do seu nascimento) e falecido em 2012, Kubert começou a trabalhar como arte-finalista para a MLJ Publications aos 12 anos de idade, tendo publicado a sua primeira BD, Voltron, em 1942. Senhor de uma carreira muito preenchida, em que abordou os mais diversos géneros, com destaque para as histórias de guerra, em Sgt Rock, Enemy Ace e Tales of the Green Berets, Kubert, além da sua actividade como autor de BD, foi também professor na Joe Kubert School of Cartoon and Graphics, uma escola de BD fundada por si e por onde passaram grandes talentos, como Stephen Bissette, Amanda Conner, Tom Mandrake e Adam e Andy Kubert, os dois filhos de Joe Kubert, que optaram por seguir as pisadas do pai com grande sucesso.
Na altura em que rebentou a guerra na ex-Jugoslávia, Kubert estava a trabalhar num álbum gigante da série Tex para a editora italiana Bonelli, trabalho que tinha sido intermediado pelo seu editor Ervin Rustemagic, que negociava os direitos das séries da Bonelli fora de Itália, mas optou por interromper esse Tex para escrever e desenhar Fax de Srajevo, sobre o drama bem real de Ervin Rustemagic.
Fundador e proprietário da editora Strip Art Features (SAF), Rustemagic lançou-se no mercado editorial de banda desenhada em 1972, com apenas 19 anos, quando começou a publicar uma revista de BD, distribuída por toda a Jugoslávia. Durante os anos 80, Rustemagic consolidou a sua posição como agente de direitos, representando no mercado editorial internacional grandes nomes, como Hugo Pratt, Carlos Trillo, Hermann, o desenhador de Bernard Prince e, claro, Joe Kubert.
Instalado nos arredores de Sarajevo, Rustemagic, assistiu impotente ao agudizar de um conflito latente desde a morte do General Tito, na década de 80, cujo punho de ferro mantinha artificialmente unida a então República Federal Socialista da Jugoslávia, que acabaria por se dividir numa série de pequenas repúblicas, correspondentes às diferentes comunidades étnicas e religiosas, de croatas, sérvios e muçulmanos. Com a proclamação de independência da Bósnia-Herzegovina, os sérvios da Bósnia, com o apoio de Belgrado, iniciam em Abril de 1992 o bombardeamento e cerco de Sarajevo, a capital da Bósnia-Herzegovina. Um cerco que se prolongará, durante mais de três anos, até Setembro de 1995.
Rustemagic e a sua família vêm a casa ser destruída pelos bombardeamentos sérvios, que não pouparam também os escritórios da sua editora, destruindo um espólio único de mais de 14.000 pranchas originais de BD. Refugiado na cave de um edifício, numa cidade sobre bombardeamentos constantes, em que a existência de electricidade e água canalizada eram luxos raros, e os tiros dos snipers eram uma ameaça constante, Rustemagic tinha como único contacto com o mundo exterior, uma linha telefónica (que nem, sempre funcionava) e um aparelho de fax, através do qual relatava aos seus amigos, como Joe Kubert, a sua luta para sobreviver. São precisamente esses faxes que serviram de base a Kubert para transformar em imagens o inferno vivido pelo seu editor e pela sua família, num livro fortíssimo.
Pode dizer-se, sem exagero, que foi a BD que salvou a vida de Rustemagic, pois para além de usar revistas de BD e placas de metal para forrar o carro, diminuindo assim o impacto das balas dos snipers que o alvejavam sempre que tinha que se deslocar ao consulado francês, o editor apenas conseguiu sair de Sarajevo graças ao esforço conjunto de uma série de autores que representava, como Joe Kubert, Hermann e Hugo Pratt.
Publicado originalmente em 1996, Fax de Sarajevo foi considerada a melhor Novela Gráfica do ano pelo New York Times, ganhou os Prémios Eisner e Harvey no ano seguinte e o Prémio de Melhor Livro Estrangeiro no Festival de Angoulême de 1998. Vinte anos depois, aqui está finalmente a edição portuguesa!
Publicado originalmente no jornal Público de 29/07/2016

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