sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Novela Gráfica II 10 -Daytripper



No caso de Daytripper, além do texto no corpo do jornal, assegurei ainda a coluna no Ípsilon com declarações de Moon e Bá, neste caso tiradas de diversas entrevistas feitas aquando da publicação original de Daytripper nos EUA. Como podem ver pela imagem do texto do Público, devido a um erro de paginação, o meu texto saiu com o titulo diferente do que eu lhe tinha dado. Nos 4 anos em que escrevo para o Público, foi a primeira vez que isto me aconteceu. Esperemos que seja a última...

FÁBIO MOON E GABRIEL BÁ CHEGAM A PORTUGAL COM DAYTRIPPER

Novela Gráfica II – Vol. 10
Daytripper
18 de Agosto
Argumento e Desenho – Fábio Moon e Gabriel Bá
Por + 9,90€

Depois de Danilo Beiruth na primeira série, a colecção Novela Gráfica dá a descobrir uma dupla de autores brasileiros, os gémeos Fábio Moon e Gabriel Bá, através de Daytripper, o seu trabalho mais premiado.

Nascidos em São Paulo, em 1976, Moon e Bá começaram a sua carreira num fanzine auto-editado chamado 10 Pãezinhos, mas rapidamente conseguem atravessar as fronteiras do Brasil, primeiro através de Roland, uma série medieval escrita por Shane Amaya e ilustrada pela dupla, a que se seguiu um convite de Frank Miller para participarem na colectânea Autobiographix da Dark Horse, editora que publicou também 10 Pãezinhos nos EUA. 
Conforme refere Gabriel Bá, o processo de internacionalização foi acontecendo de modo natural: “ um trabalho chama o outro (no caso, um quadrinho independente que fizemos, o ROCK'n'ROLL, chamou a atenção do editor da Image, que nos colocou em contato com o Matt Fraction, e desse contato fizemos o CASANOVA, que chamou a atenção do Scott Allie, editor da Dark Horse, que nos colocou em contacto com o Gerard Way, e daí veio o Umbrella Academy, que foi o primeiro trabalho de Quadrinhos que pagava nossas contas).” 
A Portugal, o trabalho dos gémeos, que estiveram no Festival de Beja, em 2010, tem chegado via Brasil, através da importação pela Devir da edição brasileira da série 10 Pãezinhos, sendo esta a primeira edição em português de Portugal de um trabalho de Fábio Moon e Gabriel Bá. 
Ao contrário de outras duplas de autores, em que há uma divisão clara entre desenhador e argumentista, Moon e Bá tanto escrevem, como desenham. No caso de Daytripper, cujo título é inspirado numa canção dos Beatles, a história foi escrita a meias e o desenho entregue a Fábio Moon, enquanto Gabriel Bá se encarregou das capas, sendo o americano Dave Stewart, colaborador habitual de Mike Mignola, o criador de Hellboy, o responsável pela cor. Senhores de um traço de grande elegância e com um universo pessoal extremamente poético, Moon e Bá têm em Daytripper, uma série publicada originalmente nos E.U.A. pela Vertigo, em 10 capítulos que este volume recolhe, o seu melhor e o mais premiado trabalho.
 Definida muito simplesmente pelos seus autores como “uma história sobre a vida”, cada capítulo de Daytripper incide sobre um momento específico, um dia, da vida de Brás de Oliva Domingos - o filho de um escritor famoso que ser ele próprio também escritor, mas que ganha a vida a escrever obituários para um jornal, personagem (muito) vagamente inspirada no músico e escritor Chico Buarque - e sobre a forma como as escolhas que faz podem modificar a sua vida, e a sua morte. E a morte é um elemento muito importante nesta história, não só porque, como diz uma das personagens: “a morte é parte da vida”, e o próprio Brás, um escritor que “queria escrever sobre a vida”, ganha a vida a escrever obituários para um jornal, ou seja a escrever “sobre a morte”, mas principalmente, porque cada um dos capítulos termina com a morte de Brás de Oliva, num toque de realismo mágico, bem sul-americano, que mostra os diferentes caminhos (e finais) que a sua vida podia ter tido.  
Intimista, mágico e surpreendente, Daytripper é um livro fabuloso, que mostra a dupla ao seu melhor nível, tanto em termos gráficos como narrativos, numa história que, apesar de produzida directamente para o mercado americano, é profundamente brasileira nos cenários – de São Paulo à Baia, passando pelo Rio de Janeiro e pelo interior do Brasil - e nas personagens, mas que lida com questões universais, como a vida, a morte e as escolhas que se fazem. 
Publicado originalmente no jornal Público de 12/08/2016

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