quinta-feira, 10 de abril de 2014

Textos editoriais Marvel NOW! 1 - Homem-Aranha Superior



Na altura em que já chegou às bancas o nº 3 da revista dos X-Men, com o meu segundo texto para as revistas da linha Marvel Now!, que a Panini Espanha está a publicar directamente em Portugal, parece-me boa altura para recuperar o primeiro texto que escrevi para as publicações que assinalam o regresso das revistas mensais da Marvel, em bom português, aos quiosques nacionais.
Estes textos partiram de um convite do José de Freitas, editor assistente da Panini e responsável pela coordenação das edições portuguesas da Panini, à semelhança do que tem feito com as colecções da Marvel e da DC que a Levoir tem lançado com os jornais, quemais uma vez, me deu o prazer de trabalharmos juntos.
Embora o espaço aqui seja muito mais reduzido do que era nos editoriais da DC, a liberdade é bastante maior. Mesmo assim, confesso que, quando recebi o convite para escrever sobre o Homem-Aranha Superior, pensei duas vezes, pois a premissa base da série parecia-me perfeitamente idiota. Mas ainda bem que decidi ler as histórias, pois foram uma muito agradável surpresa e esta é, provavelmente, a melhor saga do Homem-Aranha que já li, desde a fase inicial do J. M. Strackzinsky que a Devir lançou em Portugal há uns bons 10 anos.


NA PELE DO INIMIGO

Um dos mais populares argumentistas da actualidade, Dan Slott é também um dos mais controversos, muito por força deste Homem-Aranha Superior, cuja premissa base causou tal agitação junto dos fãs do “cabeça de teia”, que Slott chegou até a receber ameaças de morte de leitores mais indignados. Com efeito, a ideia de fazer com que a mente do Dr. Octopus moribundo ocupasse o corpo de Peter Parker, com o vilão a assumir os poderes e as responsabilidades do Homem-Aranha, é tão controversa como arriscada. Mas a verdade é que estamos perante uma das melhores histórias do Homem-Aranha das últimas décadas, mesmo que este Homem-Aranha não seja o que nos habituámos a conhecer. Este é um Homem-aranha diferente e, em muitos aspectos, um Homem-Aranha superior, pois aos poderes que permitiram Parker a tornar-se um super-herói, alia uma capacidade estratégica e científica que o anterior Homem-Aranha não possuía.
Todos vimos, no nº 1 desta revista, a facilidade com que derrotou o novo Sexteto Sinistro, descobrindo os seus pontos fracos e atacando-os com a precisão de um cirurgião. Ou como soube jogar com os media dando ao Homem-aranha, que sempre foi um herói incompreendido, a popularidade que muitas vezes lhe faltou, conseguindo até conquistar o seu crítico mais feroz, J. Jonah Jameson, que trocou o quarto poder pelo segundo, tornando-se Mayor de Nova Iorque. E, pela forma como constrói a sua teia pela cidade, usando os drones-aranha para recolher informação, este Homem-Aranha Superior está mais próximo do insecto que lhe deu o nome os poderes, do que Peter Parker alguma vez esteve. 
Slott passou os primeiros anos da sua carreira escrevendo histórias dirigidas a um público mais infantil, como as adaptações à BD das séries de animação Ren And Stimpy, Scooby Doo, Looney Tunes e Powerpuff Girls, mas rapidamente provou ser capaz de tratar com igual eficácia temas bem mais adultos e sombrios, na mini-série Arkham Asylum: Living Hell, ilustrada por Ryan Sook. Esta mini-série, de 2003, foi o seu último trabalho para a DC, antes de regressar à Marvel (que editava a revista do Ren e Stimpy) para escrever a nova revista da Mulher-Hulk, antes de se tornar o principal argumentista da revista Amazing Spider-Man. Actualmente, um dos principais argumentistas da Marvel, Slott não esquece a “Distinta Concorrência” e, como vimos no nº anterior, goza com o Batsinal, numa divertida cena em que faz ver a Jameson que um sinal luminoso gigante que permita aos inimigos do Homem-Aranha saber exactamente onde ele se encontra, é capaz de não ser uma grande ideia, mesmo que o dito sinal acabe por se revelar de grande utilidade para derrotar o abutre… 
Nas histórias que vão poder ler a seguir, Dan Slott prossegue com a humanização de Otto Octavius, fazendo com que o leitor se vá identificando gradualmente com o antigo vilão, desenvolvendo de forma hábil a relação dele com Anna Maria Marconi, uma anã com quem tem grandes afinidades intelectuais. Mas mesmo que, à sua maneira, Octavius aproveite esta oportunidade de se tornar literalmente um homem novo, a agressividade e o desprezo pela vida humana que caraterizavam o Dr. Octopus estão ainda presentes na forma impiedosa com que o Homem-aranha Superior trata o Massacre, o Polichinelo e a Croma, os vilões que vai defrontar neste número. 
Se nas histórias anteriores a arte tinha sido assegurada por Ryan Stegman, neste número Dan Slott mostra que continua a saber escolher muito bem os desenhadores com quem colabora. O italiano Giuseppe Camuncoli, que alia uma bem-sucedida carreira nos comics americanos, iniciada na Vertigo, com uma série bem eclética de trabalhos na sua Itália natal, que além de romances gráficos com Matteo Casali, inclui histórias de Dylan Dog e a continuação dos Escorpiões do Deserto, de Hugo Pratt, encarrega-se de ilustrar num estilo realista o confronto com o Massacre, enquanto que o traço mais caricatural, que primeiro se estranha e depois se entranha, do mexicano Humberto Ramos se revela perfeito para a história em que o Polichinelo e a Croma põem à prova a (pouca) paciência do novo Homem-Aranha.
Publicado originalmente na revista Homem-Aranha Superior nº 2, de Março de 2014. 

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