Faleceu no passado dia 26 de Setembro, em Milão, o nome mais importante da BD italiana da actualidade. Falo não de um autor, como Manara, Toppi, Liberatore, ou Giardino, mas sim de um editor, Sérgio Bonelli, que soube construir um verdadeiro império editorial, que não se limita apenas à série “Tex”, criada pelo seu pai Gian Luigi Bonelli e por Galep, o seu título mais popular.
O segredo dos “fumetti” (nome dado em Itália à BD) da Bonelli, consiste em fornecer aos leitores edições baratas, em pequeno formato, com muitas páginas, lançadas a um ritmo mensal. Essa receita, que consegue aliar uma produção quase industrial, com capacidade de lançar mais de mil páginas por mês, a uma qualidade muito razoável, nasceu como reacção ao boom da TV privada nos anos 70, que veio provocar uma crise no mercado da BD. Face a uma televisão que oferecia programas gratuitos para todos os gostos, Bonelli optou por propor aos seus leitores verdadeiras novelas gráficas de quase cem páginas, capazes de prender a atenção do leitor durante uma hora, ou mais, que vivem muito da notável capacidade produtiva de uma série de argumentistas de talento, aliado a um leque mais alargado de desenhadores.
A reacção dos leitores italianos a esta nova forma de BD foi entusiástica, com algumas revistas de Bonelli a atingirem tiragens próximas do meio milhão de exemplares, para além das constantes reedições de títulos antigos, o que leva à impressionante média de 25 milhões de exemplares vendidos por ano, algo que só é possível graças a um público heterogéneo, que não se restringe aos adolescentes habituais e que engloba também quadros médios e universitários, e até intelectuais como Umberto Eco.
Embora seja um fenómeno marcadamente italiano, as séries de Bonelli também têm procurado o sucesso internacional, estando igualmente presentes nos mercados, americano (através da Dark Horse), espanhol, francês e brasileiro. E é precisamente via Brasil que nos chegaram uma série de títulos bem representativos da qualidade e diversidade dos fumetti de Bonelli, actualmente reduzidos aos Westerns “Tex”, “Mágico Vento” e “Zagor”, e ao policial “J. Kendall”, cancelados que foram títulos como “Dylan Dog”, “Martin Mystere” e “Dampyr”.
Mas o contributo de Bonelli para a BD italiana, não se fica só pelas revistas mensais que editou, que mostram que BD de qualidade não tem que ser necessariamente luxuosa e cara. Além do seu trabalho de argumentista em “Mister No”, com o pseudónimo de Guido Nolitta, dos famosos “Texones”, as edições anuais que são uma referência habitual neste espaço, assinados por nomes como Buzelli, Magnus; Bernet, ou Joe Kubert, Sérgio Bonelli promoveu projectos como a série “Un Huomo, una Aventtura”, por onde passaram os maiores nomes da BD italiana, como Pratt, Manara, Crepax; Battaglia, Toppi e Buzzelli, além de ter dado a desenhadores como Victor De La Fuente, Esteban Maroto, José Ortiz, Alfonso Font, ou Manfred Sommer, a possibilidade de prosseguirem uma carreira na BD de acção e aventura.
Com a morte de Bonelli, desaparece um dos últimos cultores da Banda Desenhada de aventuras de grande público. Agora resta esperar para ver se a editora que criou consegue sobreviver ao desaparecimento do seu fundador.
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 1/10/2011
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