terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Blacksad: O Inferno, O Silêncio
Uma das mais aguardadas novidades desta rentrée, o álbum "O Inferno, o Silêncio", assinala o regresso de Blacksad, o gato detective, criado por Guarnido e Díaz Canales, que a Asa tem editado em Portugal.
Policial negro na melhor tradição cinematográfica do “film noir”, com a particularidade de ser protagonizado por animais, “Blacksad” era um projecto já antigo do argumentista Diaz Canales, que ganhou outro fôlego quando este conheceu Juanjo Garnido, seu companheiro num estúdio de animação em Madrid, um excelente animador que se revelou um extraordinário desenhador de BD, cujo talento está ao serviço de uma das mais cinematográficas Bandas Desenhadas da actualidade.
Se o ponto de partida da série é bastante clássico na forma como segue os cânones do género policial “hard boiled” a principal inovação de “Blacksad” reside no uso de animais para contar uma história que podia perfeitamente ser filmada com actores reais. E um dos aspectos mais curioso da série é precisamente o rigor do casting animal, com os autores a arranjarem os animais adequados para cada personagem, jogando com o conhecimento que o leitor tem das características de cada espécie animal, para melhor caracterizar os intervenientes das histórias negras de que Blacksad é protagonista e narrador (como é natural no film noir, onde a voz off está sempre presente).
Ambientada na América dos anos 50, a série tem mostrado uma preocupação crescente em explorar os diferentes aspectos da época, algo que não estava ainda presente em “Algures Entre as Sombras”, o primeiro álbum, cuja intriga, centrada na vingança, podia perfeitamente passar-se noutra época qualquer. Neste 4º volume da série troca o cenário de Nova Iorque, onde decorreu a acção dos volumes anteriores, pela cidade de Nova Orleãs, numa história trágica de um músico que não se consegue libertar da droga, que tem o jazz como banda sonora e elemento fulcral da narrativa.
Apesar da narrativa ser mais complexa do que em volumes anteriores, o que se mantém imutável é a extraordinária eficácia (virtuosismo talvez seja um termo mais adequado a este caso…) narrativa e gráfica de Juanjo Guarnido.
Artista completo como há poucos, Guarnido é tão forte na planificação como no desenho, no tratamento dos rostos como na aplicação da cor e na definição da luz, e o resultado final é verdadeiramente espectacular, como o prova a magnífica sequência do Carnaval de rua.
Ou seja, mais uma vez, Juanjo Guarnido faz claramente a diferença. É o génio do seu traço inimitável que faz com que “Blacksad”, mais do que uma boa série, seja uma grande série.
(“Blacksad 4: O Inferno, o Silêncio”, de Díaz Canales e Guarnido, Edições Asa, 56 pags, 15,50 €)
Versão Integral do texto publicado no "Diário As Beiras" de 20/11/2010
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Dark Horse publica Dog Mendonça
Enquanto não estão ocupados a salvar o mundo, Dog Mendonça e Pizzaboy preparam-se para conquistar o mercado americano, graças à Dark Horse, a editora de Hellboy, Sin City e Star Wars, que vai abrir as páginas da 2ª série da revista “Dark Horse Presents” ao detective do oculto português.
Para celebrar o 25º aniversário da editora, será lançada uma nova antologia intitulada Dark Horse Presents. Este foi o título da série que inaugurou a Dark Horse em 1986 e foi aqui que Sin City viu a sua primeira edição. Vinte e cinco anos depois, a editora promete uma nova versão da linha, com 25 números. Entre outros autores, terá participações de Frank Miller (que aqui iniciará a prequela de 300 intitulada "Xerxes"), Mike Mignola (Hellboy) e Dave Gibbons (Watchmen).
É para esta revista que Filipe Melo e Juan Cavia contribuirão com uma história de 24 páginas dividida em três capítulos de 8 páginas, que tem como objectivo apresentar Dog Mendonça e os restantes personagens ao público americano, preparando o terreno para a posterior publicação de “As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy” nos EUA.
Uma excelente oportunidade que se deveu à intervenção decisiva de John Landis. O realizador americano, que assinou o prefácio do álbum, gostou tanto do livro que fez chegar “Dog Mendonça” às mãos do seu amigo Mike Richardson, o editor da Dark Horse, que se mostrou interessado na série e viu na revista “Dark Horse Presents” o local ideal para uma primeira divulgação de Dog Mendonça junto dos leitores americanos.
Se a isso juntarmos a publicação do (muito divertido, a avaliar pelas páginas que pude ler) 2º álbum da série, intitulado “Apocalipse”, no próximo mês de Março, 2011 vai ser um ano em grande para Dog Mendonça e para os seus criadores! Até lá, fiquem com uma imagem e com a página que mostra o nascimento de João Vicente “Dog” Mendonça, em Tondela, terra de zombies e também de lobisomens…
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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Victor Mesquita e Ricardo Cabral na Livraria Dr Kartoon
Como já vem sendo hábito, no último sábado antes do Natal, a Dr. Kartoon promove mais um encontro de autores com os seus leitores. Desta vez os convidados para a sessão de autógrafos, são Victor Mesquita (Eternus 9) e Ricardo Cabral (Israel Sketchbook), que estarão na Livraria pela primeira vez.
Os autores estarão presentes no sábado, 18 de Dezembro, a partir das 16h para apresentação das novidades "Eternus 9: A Cidade dos Espelhos", que assinala o regresso do mítico "Eternus 9" 35 anos depois do primeiro álbum, e "Newborn: 10 Dias no Kosovo", o novo diário de viagem de Ricardo Cabral, depois de "Israel Sketchbook" e para uma sessão de autógrafos.
Além do convívio com os autores, poderão sair com magníficos desenhos, como este, que o Ricardo me fez no último Festival da Amadora. No caso de Victor Mesquita, além de um autógrafo, poderão também sair com uma prancha original, pois o autor trará também pranchas originais do seu último álbum para vender aos eventuais interessados.
Cá vos esperamos no sábado, 18 de Dezembro, a partir das 16h, na vossa Livraria de BD favorita!
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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Tintin Regressa em Formato Reduzido
Preparando a chegada do filme de Steven Spielberg e Peter Jackson inspirado nas aventuras de Tintin, de que começam surgir as primeiras (e não muito entusiasmantes) imagens, as Edições Asa têm vindo a reeditar a mítica série de Hergé, numa nova edição, com nova tradução e um novo formato, mais reduzido, próximo do formato comic book americano, embora respeitando as proporções dos álbuns franco-belgas, mais largos do que as revistas americanas, que nas palavras da responsável de BD da Asa, se pretende mais "apelativo para um público mais novo".
Um regresso que obviamente se saúda, pois não fazia sentido a série não estar disponível em Portugal, tendo em conta a ligação entre Tintin e os leitores portugueses. Uma ligação de mais de 70 anos, pois, embora só no final dos anos 80 tenha sido possível ler álbuns de Tintin escritos no português de Portugal, pois a editora brasileira Record detinha todos os direitos de publicação para a língua portuguesa, Portugal foi o primeiro país não-francófono a publicar as aventuras de Tintin. E isso aconteceu a partir de Abril de 1936 no Papagaio, revista dirigida por Adolfo Simões Muller, onde Tintin apareceu a cores, numa altura em que na própria Bélgica as suas histórias ainda eram publicadas a preto e branco, tornando-se rapidamente num dos símbolos da revista, com participações especiais em outras séries, como o fabuloso Boneco Rebelde, de Sérgio Luís. Como era hábito na época, o herói da poupa loura foi naturalizado português e assim Tintin, de jovem repórter belga do jornal Petit Vingtiéme passou a repórter português da revista Papagaio, enquanto o cachorro Milou foi rebaptizado Ron-Ron e o Capitão Hadock ganhou o nome bastante mais português de Capitão Rosa. Do mesmo modo, o álbum Tintin no Congo foi transformado em Tintin em Angola, numa deliciosa versão em que é feita a apologia da colonização portuguesa em Angola.
Além disso, a versão portuguesa da revista “Tintin” publicou as restantes aventuras do repórter criado por Hergé, incluindo a primeira de todas, o datado “Tintin no País dos Sovietes”.que ficaria incompleto com o fim da revista, em 1982.
O novo formato, feito a pensar num público mais novo, mais habituado ao formato “comic book”, nem funciona mal, sobretudo porque a “linha clara” de Hergé, aguenta perfeitamente a redução sem perder legibilidade. Pena foi, como salientaram, em sítios diferentes, João P. Boléo e Leonardo De Sá, que se tenha perdido a oportunidade de incluir nesta edição, a prancha “perdida” de “Tintin no País dos Sovietes”, que embora publicada no jornal “Le Petit Vingtième”, não foi incluída nas edições em álbum, apesar de ter sido publicada no 1º volume da série “Archives Hergé”.
Depois dos seis primeiros volumes, editados em Outubro, seguindo a ordem cronológica da série, este mês já foram editados mais seis títulos, prevendo-se que toda a colecção de 24 álbuns esteja disponível no mercado até Outubro de 2011, mês em que se espera a estreia da adaptação de Tintin ao cinema.
(“As Aventuras de Tintin” de Hergé, Edições Asa, 64 pags, 8,90 € cada volume)
Versão integral do texto publicado no "Diário As Beiras" de 13/11/2010
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