Novela Gráfica II- Vol 2
Terra de Sonhos
Argumento e Desenhos – Jiro Taniguchi
Quinta, 23 de Junho
Por + 9,90 €
Depois da estreia nesta colecção de Alan Moore e David Lloyd, inaugurando esta segunda série com um clássico incontornável, como é V de Vingança, na próxima quinta-feira chega a vez do japonês Jiro Taniguchi regressar à colecção Novela Gráfica. Depois do sucesso de O Diário do meu Pai, premiado no último Festival AmadoraBD com o Galardão destinado aos Clássicos da Nona Arte é com naturalidade que Taniguchi regressa nesta série II com Terra de Sonhos, livro que recolhe um punhado de histórias curtas publicadas originalmente entre 1991 e 1992, na revista japonesa Big Comic.
Tal como sucedia com O Diário do Meu Pai, também os cinco contos reunidos neste Terra de Sonhos têm quase todos laivos autobiográficos. Dimensão bem evidente nos dois primeiros contos, centrados nos momentos finais de Tam, o cão do autor e na gata persa que o irá substituir na casa e no coração dos seus donos.
O próprio Taniguchi no posfácio do livro não esconde e até aclara essa dimensão autobiográfica, contando como tudo se passou: “o nosso cão morreu há dois anos. Já tinha quinze anos. Ao assistir ao envelhecimento e depois à morte desse velho cão, uma pequena célula no fundo de mim, daquelas que controlam a minha necessidade de contar histórias, começou a mostrar alguma actividade. Comecei a sentir uma vontade, que se transformou numa necessidade, de contar e de desenhar a história da vida e da morte desse cão. Mas na verdade, parecia-me que seria bastante difícil conseguir publicar uma história destas, uma história banal da vida quotidiana, no circuito do manga comercial.
Foi então que fui contactado por um velho conhecido, um editor com quem tinha trabalhado numa revista para a juventude e que estava agora na Big Comics e que me perguntou se não queria fazer uma história curta para eles.
Lembro-me perfeitamente desse dia, 29 de Novembro de 1990. O nosso cão tinha morrido há pouco menos de um mês, chovia, fazia frio. Encontramo-nos num café em Jimbochô. Enquanto tomávamos um café, falei-lhe da história do meu cão. Ele concordou imediatamente em publicá-la (…) e disse-me: “acho que esse é exactamente o tipo de história que faz falta no manga actual”. Para mim, foi uma reacção muito encorajante.
Foi assim que nasceu Ter um Cão e que o meu desejo se realizou. No início, pensei fazer uma história maior, que teria coberto toda a vida do nosso cão, desde a sua chegada a nossa casa, ainda cachorro, até à sua morte; mas ficaria demasiado grande para o formato da revista. Então, decidi limitar a história a um único ano, o ano da sua morte.
Creio que a história ganhou em força e ritmo, e a imagem também ganhou uma certa tensão. Estou muito satisfeito com o resultado. Ainda assim, acho que fazem falta mais algumas imagens de serenidade e de calma. Seja como for, permitiu-me tomar consciência da dificuldade em transformar uma experiência pessoal que me marcou realmente, numa história.”
O excelente acolhimento desta história, que ganhou o Prémio Especial do Júri da Editora Shôgakukan, mostrou a Taniguchi que havia público para um tipo de histórias mais contemplativas, mais centradas nas vivências do quotidiano, como são a maioria das histórias deste livro e outros títulos importantes do autor, como O Homem que Caminha.
A excepção a este registo mais centrado no quotidiano é A Terra Prometida, inspirada na experiência real do alpinista Kawamura Keisuke e que permitiu a Taniguchi regressar a um género muito presente ao longo da sua carreira, as histórias de montanha, de que Le Sommet des Dieux é o expoente máximo.
Seja relatando com sensibilidade e poesia a relação de uma família com os seus animais de estimação, ou a luta entre o homem e a natureza hostil, Taniguchi confirma neste Terra de Sonhos porque, mais do que um grande autor japonês, é um dos nomes maiores da BD mundial.
Texto publicado originalmente no jornal Público de 17/06/2016
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