quarta-feira, 13 de junho de 2018

Colecção Novela Gráfica IV 2 - Aqui Mesmo, de Tardi e Forest

TARDI REGRESSA COM UM CLÁSSICO DO ROMAN BD

Novela Gráfica IV - Vol 2
Aqui Mesmo
Argumento – Jean-Claude Forest 
Desenhos – Jacques Tardi
Quarta-feira, 13 de Junho
Por + 10,90 € 
Depois de Taniguchi no primeiro volume, esta nova colecção de Novelas Gráficas prossegue com outro regresso, o de Tardi, com Aqui Mesmo, a sua primeira e mais mítica colaboração com a revista (A Suivre), ao lado de Jean-Claude Forest, o criador de Barbarella, que entregou uma história pensada originalmente para ser um guião de um filme, ao traço único do seu amigo Tardi. 

Título incontornável no desenvolvimento do conceito da Novela Gráfica (ou roman BD, na expressão usada na revista), a (A Suivre) era uma publicação que, ao não impor limites de páginas aos trabalhos dos seus autores, lhes dava a possibilidade de criar “os grandes romances da Banda Desenhada”, como é o caso deste Aqui Mesmo, publicado originalmente em capítulos entre 1977 e 1979, nos nºs 0 a 12 da (A Suivre), tendo sido capa do primeiro número da revista (e, vinte anos depois, também do último). Aqui Mesmo é um bom exemplo de que não é o modo como é originalmente publicada, que define o estatuto de uma obra. O trabalho de escritores como Charles Dickens, Alexandre Dumas, ou o “nosso” Camilo Castelo Branco, cuja obra saiu primeiro em capítulos nos jornais, antes de ser recolhida em livro, seguiu a mesma estrutura folhetinesca de Aqui Mesmo. Um método de publicação que, como refere Forest na introdução, lhes permitiu: “evitar muitos dos constrangimentos impostos à BD, por razões editoriais ou económicas. Para o diabo com as histórias recortadas em episódios regulares, com finais falsos, com o número de páginas limitado, com os heróis e anti-heróis. E para o diabo sobretudo com a pior das escravaturas (por ser a mais insidiosa), a que conduz um autor a agarrar-se a um género bem definido, bem repertoriado: F.C., humor, aventura, erotismo, etc...”
Aqui Mesmo narra a história surreal e delirante de Arthur Mesmo, um antigo proprietário que se viu despojado de Mornemont, grande uma propriedade transformada num condomínio, de que só controla os muros, onde vive, funcionando como porteiro das diferentes famílias que lhe ocuparam a propriedade, que funciona como um pequeno país, um país fechado, abastecido por um barqueiro/merceeiro pouco conversador. Um mundo estranho, que vai ser perturbado pela sexualidade sem tabus da bela Julie.
Como refere Tardi, a colaboração entre os dois criadores, foi simples e fácil: “com Forest (que também era desenhador) nunca houve problemas em relação à planificação: ele sabia muito bem quando eram precisas duas ou três imagens. Não precisávamos de discutir. As indicações de planificação já estavam todas no argumento que ele me entregava. Quanto ao texto dele, não mudei uma vírgula. Apesar disso, de início tínhamos visões diferentes. Eu tinha as minhas fantasias em relação a esse país imaginário; tinha pensado numa coisa bastante mais delirante, mais próxima daquilo que fiz em La Véritable Histoire du Soldat Inconnu, em termos dos cenários e da arquitectura. Ele tinha uma visão mais dos subúrbios… Acabei por aceitar e fiz reperages nos subúrbios.” 
Mesmo seguindo as indicações de Forest, o resultado é do mais puro Tardi, com o traço único do desenhador de Foi Assim a Guerra das Trincheiras a fazer sua a incrível e triste história de Arthur Mesmo, no seu País Fechado.
Publicado originalmente no jornal Público de 09/06/2018

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