quinta-feira, 24 de maio de 2018

Colecção Bonelli 7 - Martin Mystère: O Destino da Atlântida


MARTIN MYSTÈRE INVESTIGA O MISTÉRIO DA ATLÂNTIDA

Colecção Bonelli - Vol 7  
Martin Mystere – O Destino da Atlântida
Argumento – Alfredo Castelli
Desenhos – Cardinale, Orlandi e Toppi
Quinta-feira, 24 de Maio
Por + 10,90€
Depois de Tex, Dampyr, Dylan Dog e Julia, chega a vez de Martin Mystère se estrear nesta colecção dedicada à editora Bonelli. Criado em 1982 por Alfredo Castelli, Martin Mystère, o “detective do impossível”, é um verdadeiro “Homem do Renascimento”. Antropólogo, arqueólogo, especialista em História da Arte, Línguas e Cibernética, investigador, apresentador do programa de televisão Os Mistérios de Mystère, escritor, aventureiro e iniciado nos cultos esotéricos, Mystère utiliza a sua vastíssima cultura para desvendar os mais variados enigmas, apoiado pelo seu fiel Java, um corpulento Homem de Neanderthal.
Nascido em Milão em 1947, Castelli, o criador de Martin Mystère, é um prolífico escritor, investigador, argumentista e especialista em Banda Desenhada, que a essa actividade, junta também a escrita de guiões para séries televisivas da RAI e para desenhos animados. Para a revista  Il Corriere dei Ragazzi, criou inúmeras histórias e personagens, como Gli Aristocratici (onde colabora pela primeira vez com Tiziano Sclavi, o criador de Dylan Dog) e Allan Quatermain, em 1975, personagem que irá servir de modelo para a criação de Martin Mystère, em que já é bem evidente o gosto do escritor por histórias muito bem documentadas que misturam o género fantástico e as teorias da conspiração, com a aventura e a História. Allan Quatermain, vai servir de base a uma nova personagem, aprovada por Sergio Bonelli, já com o nome Martin Mystère, nome esse que é uma homenagem a Tiziano Sclavi que nos anos 70 escreveu uma série de contos com um detective francês chamado Jacques Mystère. Jacques, que ficou precisamente como o nome do meio de Martin Mystère, cujo nome completo é Martin Jacques Mystère.
Este volume traz duas histórias bem distintas de Martin Mystère. A primeira dessas histórias, O Destino da Atlântida cuja acção se inicia nos Açores, está bem integrada na continuidade da série, remetendo para episódios anteriores, especialmente para o primeiro volume da série, publicado em 1982, em que Mistère descobre nos mares dos Açores, vestígios arqueológicos que provam a existência da Atlântida. Desta vez Martin Mystère tem de se aliar ao seu eterno inimigo, Orloff para trazer de volta à nossa era o satélite militar que provocou a destruição da Atlântida e de Mu, 10 mil anos antes. Uma história complexa, em que os principais elementos da série estão presentes, ilustrada num estilo realista, em que é notório o uso de fotografias, por Roberto Cardinale e Alfredo Orlandi.
O volume termina com Assunto de Família, uma história curta de 22 páginas,  publicada originalmente no Almanaque Martin Mystére nº 16, de 1999, e posteriormente adaptada a um CD-Rom. Essa história, ilustrada por Sergio Toppi, em que a descoberta de uma gravação vídeo traz revelações sobre a presença de extraterrestres no nosso planeta, é mais um exemplo da colaboração de Toppi com a editora de Sérgio Bonelli, em que o desenhador adapta a narrativa e a planificação às características habituais das publicações da editora, sem abdicar do seu estilo mais pessoal e inconfundível, bem evidente nas máscaras africanas que ornamentam o escritório de Mystère.
Publicado originalmente no jornal Público de 19/05/2018

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Colecção Bonelli 6 - Tex: A Pista dos Fora-da-Lei

TEX E OS ÍNDIOS

Colecção Bonelli - Vol 6
Tex – A pista dos Fora-da-Lei
Argumento – Mauro Boselli e Claudio Nizzi
Desenhos – Carlos Gomez e Andrea Venturi
Quinta-feira, 17 de Maio
Por + 10,90€
Depois de um volume inaugural a cores, marcado pela diversidade de abordagens estéticas e narrativas, Tex regressa a esta colecção para um segundo volume, com duas histórias a preto e branco, de maior fôlego e cheias de acção, bem representativas da dimensão mais épica da personagem, escritas pelos principais argumentistas da série na actualidade, Mauro Boselli (que é também o editor) e Claudio Nizzi.

A primeira, A Pista dos Fora-da-lei, escrita por Mauro Boselli, com desenhos espectaculares do argentino Carlos Gomez, leva Tex, Kit Carson e Jack Tigre a seguir a pista de um bando de assaltantes de bancos, capitaneado por Ozzie Johnson, pelos Montes Gila, até Clifton, uma pequena povoação mineira. Aí, o confronto entre Tex e os seus pards e a quadrilha de Johnson (que tinha aproveitado para assaltar o Banco de Clifton) passa para segundo plano, face à ameaça de um bando de Apaches rebeldes, que decide atacar a povoação. Uma situação inesperada, que vem revelar uma nobreza de carácter por parte de Johnson e dos seus homens, que arriscam a vida para salvar as mulheres de Clifton, pouco habitual nas histórias mais antigas de Tex, marcadas por uma visão mais maniqueísta da realidade, onde os “maus da fita” não costumam ter redenção possível.
Mas, apesar das qualidades do argumento de Boselli, que remete Tex para um papel mais de observador, de modo a ter espaço para dar maior densidade psicológica às personagens secundárias, o ponto alto desta história é mesmo o trabalho superlativo de Carlos Gomez no desenho. Verdadeira estrela em Itália, graças à série Dago, onde substituiu, com grandes vantagens, Alberto Salinas (o filho do mítico desenhador de Cisco Kid, José Luís Salinas), Carlos Gomez - que já tinha brilhado em Na Trilha do Oregon, um Tex Gigante (os famosos Texones) que foi distribuído em Portugal em versão brasileira há 6 ou 7 anos - mostra mais uma vez que é um desenhador de mão cheia, com um traço tão dinâmico como pormenorizado, que dá aos rostos uma grande expressividade. Com um traço de um realismo impressionante e uma notável capacidade de planificar as cenas de acção, Gomez é também um mestre na criação de ambientes. Veja-se a sequência inicial à chuva, marcada por um espectacular trabalho de preto e branco.
Se na primeira história, os índios são a principal ameaça, na segunda história, O Assassino de Índios, eles são as vítimas de um misterioso assassino que aterroriza uma tribo de apaches Jicarilla, ao assassinar e escalpar mais de vinte indígenas. Uma ameaça misteriosa que só Tex e Kit Carson serão capazes de deter. Publicada originalmente no Almanaque Tex de 1996, esta história escrita por Claudio Nizzi, assinala a estreia de Andrea Venturi  - o desenhador de Johnny Freak, a inesquecível história de Dylan Dog que pudemos ler no terceiro volume desta colecção -  na série Tex.
E Venturi, que tão bem se saia a desenhar Dylan Dog, revela-se bastante à vontade na passagem para um género mais codificado como é o Western, confirmando as suas qualidades artísticas, ao serviço de uma história com contornos de inquérito policial, em que Tex descobre, ao mesmo tempo que o leitor, os motivos que levaram o misterioso assassino de índios a executar a sua vingança.
Publicado originalmente no jornal Público de 12/05/2018

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Colecção Bonelli 5 - Le Storie: Sangue e Gelo

O VERMELHO E O BRANCO

Colecção Bonelli - Vol 5
Le Storie – Sangue e Gelo
Argumento – Tito Faraci
Desenhos – Pasquale Frisenda
Quinta-feira, 10 de Maio
Por + 10,90€
Embora muita da sua popularidade derive do carisma das suas personagens famosas, como Tex, Dylan Dog, Júlia, ou Dampyr, para falar apenas das que os leitores portugueses tiveram oportunidade de descobrir nas semanas anteriores, a aposta da Bonelli não se limita às séries com personagens recorrentes. Basta ver Sangue e Gelo, o volume da série Le Storie, que preenche a quinta entrega desta Colecção dedicada à editora milanesa.
Uma nova série, sem personagens fixos, que recupera o conceito da mítica colecção Un Uomo, un’Avventura, uma das experiências editoriais mais prestigiadas da Bonelli, por onde passaram os maiores nomes da BD italiana, como Pratt, Manara, Crepax e Toppi, a quem foi dada total liberdade para escreverem e desenharem histórias sem heróis. É esse mesmo espírito que está presente em Le Storie, título criado em 2012 para acolher histórias complexas, bem contadas e melhor desenhadas, libertas dos constrangimentos habituais nas publicações clássicas da editora, tendo geralmente como pano de fundo um acontecimento histórico concreto. Um título por onde já passaram alguns dos melhores escritores e desenhadores italianos, como Claudio Nizzi, Mauro Boselli, Gianfranco Manfredi, Corrado Mastantuono, Paolo Bacilieri, Roberto Recchioni, Giovanni Freghieri, Bruno Brindisi ou Gampiero Casertano, sem esquecer Aldo di Gennaro, o ilustrador responsável pelas capas da série.
Ambientada em finais de 1812, na Rússia do Czar Alexandre I, Sangue e Gelo tem como ponto de partida a retirada do exército napoleónico, desgastado pela estratégia russa da “terra queimada”, deixando atrás de si centenas de milhar de homens à fome, que lutam pela mera sobrevivência num ambiente de gelo e horror. Contrários à ideia de se renderem a um destino aparentemente inelutável, os homens do capitão Lozère partem em busca de um pouco de pão e de um abrigo quente, na esperança de uma improvável salvação, acabando por ir ao encontro de um destino imprevisto, que mostra que há horrores ancestrais ainda piores do que os da guerra...
Escrita por Tito Faraci, que os leitores portugueses conhecem de Daredevil & Capitão América: Segunda Morte, álbum desenhado por Claudio Villa, um dos mais prestigiados Ilustradores da Bonelli e integrado na linha Marvel Transatlantico, Sangue e Gelo conta com arte de Pasquale Frisenda, o desenhador de Patagónia e O Segredo do Juiz Bean, duas aventuras de Tex publicadas recentemente em Portugal pela Polvo. Se essas duas histórias já deixavam perceber todo o talento gráfico e narrativo de Frisenda, aqui o trabalho do desenhador milanês é absolutamente superlativo e um perfeito exemplo de como o traço e a cor podem ser usados em termos tanto psicológicos como narrativos.
Assim, o branco da neve que cobre os campos gelados da Rússia é rasgado pelo vermelho do sangue e do fogo, cuja presença se vai tornando cada vez mais importante à medida que a história resvala para um horror sobrenatural. Uma descida ao coração das trevas magistralmente ilustrada por Frisenda que, de acordo com as necessidades da história, alterna entre o preto e branco de alto contraste, uma aguada de guache cinzento que mancha o branco da página e da neve e o vermelho que vai invadindo as páginas, numa perfeita articulação entre texto, imagem e cor.
Publicado originalmente no jornal de Publico de 05/05/2018

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Colecção Bonelli 4 - Julia: O Eterno Repouso

JULIA ESTREIA-SE EM PORTUGAL COM ARTE DE SERGIO TOPPI

Colecção Bonelli - Vol 4
Julia – O Eterno Repouso
Argumento – Giancarlo Berardi
Desenhos – Sergio Toppi
Quinta-feira, 3 de Maio
Por + 10,90€
A protagonista do quarto volume da colecção dedicada à editora Bonelli é Julia Kendall, uma criminóloga e professora universitária, que colabora com a polícia de Garden City – a cidade fictícia onde vive – utilizando os seus vastos conhecimentos para investigar os mais diversos casos de homicídio.
Criada em 1998 por Giancarlo Beradi – o criador do magnífico Western Ken Parker - com a colaboração de Luca Vannini na parte gráfica, a série tem um elemento que é comum a outros títulos da Bonelli: a utilização da imagem de actores de cinema famoso como ponto de partida para a criação gráfica dos heróis. Se no caso de Dylan Dog, o próprio Tiziano Sclavi indicou ao desenhador Claudio Villa o actor Rupert Everett como modelo para Dylan Dog, já Berardi vai bastante mais longe, com praticamente todas as personagens recorrentes da série a serem baseadas fisicamente em actores de Hollywood, começando logo pela própria Julia, cuja imagem é inspirada na actriz Audrey Hepburn, e por Emily, a sua empregada doméstica que tem as feições de outra actriz famosa, Whoopi Goldberg. 
Mas além da estreia de Julia, este livro assinala também o regresso de Sergio Toppi ao mercado nacional, depois do sublime Sharaz’De, publicado na primeira colecção dedicada à Novela Gráfica.
Sergio Bonelli e Toppi eram bons amigos e o desenhador colaborou por diversas vezes com o editor milanês. Uma colaboração que se iniciou em 1974, quando Bonelli contratou Toppi para este acabar de desenhar um Western que a morte de Rino Albertarelli deixara incompleta. Seguir-se-ia a participação na mítica colecção Un Uomo, un’Avventura, onde Bonelli conseguiu a proeza de juntar os mais prestigiados nomes dos fumetti italianos, de Hugo Pratt a Milo Manara, passando por Crepax, Buzzelli, Battaglia, e claro, Toppi, que entre 1976 e 1978 ilustrou os volumes, L’Uomo del Nilo, L’Uomo del Messico e L’Uomo del Paludi.
E se os interesses de Toppi estavam algo afastados das grandes séries da Bonelli, a sua amizade com o editor milanês fez com que colaborasse ocasionalmente com a editora da Via Buonarrotti, desenhando histórias para a Ken Parker Magazine, para dois números de Nick Rayder, em 1997 e 2001, uma história curta de Martin Mistère, que poderemos ler no volume 7 desta colecção, e esta história de Giancarlo Berardi para o nº 11 da revista Julia.
Uma história publicada originalmente em Agosto de 1999 e que chega finalmente aos leitores portugueses, numa cuidada edição, cujo formato e qualidade de impressão fazem justiça ao trabalho gráfico de Toppi, por oposição à edição brasileira da Mythos, em formato reduzido e papel de jornal, que passou de forma discreta pelos quiosques portugueses em 2006.
Dave McKean escreveu um dia que Toppi era “capaz de desenhar qualquer coisa e dar-lhe uma solidez e um sentido de movimento que a tornam ideal para contar histórias no formato da Banda Desenhada” e esta história de Julia vem dar-lhe razão. Ilustrando uma história sobre um misterioso assassinato num lar da terceira idade, Toppi segue fielmente o argumento de Berardi e a planificação habitual das séries da Bonelli, sem abdicar do seu estilo próprio, algo que é bem evidente na fabulosa sequência do pesadelo de Julia, que ocupa as páginas 48 a 53 do livro.
Publicado originalmente no jornal Público de 28/04/2018