COM MOEBIUS, À DESCOBERTA DA GARAGEM HERMÉTICA
Novela Gráfica II – Vol. 6
A Garagem Hermética
Argumento e Desenhos – Moebius
Quinta, 21 de Abril
Por + 9,90€
Depois de, num dos volumes de maior sucesso da primeira série da colecção Novela Gráfica, termos tido a oportunidade de apreciar o génio de Moebius em colaboração com Alejandro Jodorowsky, esta segunda série recupera A Garagem Hermética de Jerry Cornelius, um clássico de Moebius enquanto autor completo e da revista Metal Hurlant que é finalmente editado em Portugal a preto e branco e no formato original.
Figura incontornável da BD mundial, tanto como Moebius, ou como Gir, Jean Giraud foi um dos mais fabulosos desenhadores do século XX, um talento multifacetado, capaz de criar universos com simples imagens. Com uma carreira dividida entre a aventura clássica, de que o Western Tenente Blueberry, que criou com Jean-Michel Charlier é um dos expoentes máximos, e as fabulosas experiências visuais em que a coerência narrativa acabava por ser menos importante do que a liberdade gráfica e criativa, Moebius procurou sempre utilizar o desenho para criar universos e é precisamente isso que acontece com A Garagem Hermética, série que traduz como poucas a filosofia inerente à revista Metal Hurlant.
Logo em 1975, no editorial do primeiro número da revista que fundou com Jean-Pierre Dionnet, Philippe Druillet e Bernard Farkas, Moebius declara que: “Não há qualquer razão para que uma história seja como uma casa, com uma porta para entrar, janelas para ver a paisagem e uma chaminé para o fumo. Pode muito bem imaginar-se uma história com a forma de um elefante, de um campo de trigo, ou de um fogo de artifício”.
Esse manifesto da revolução da BD, tem inteira tradução em A Garagem Hermética, uma história de duas páginas, feita sem qualquer intenção de continuação, mas que se transformaria numa série quando Dionnet a publica na Metal Hurlant nº 6 e pede a Moebius outro capítulo para o número seguinte. Com os capítulos a serem inventados à medida que Moebius os desenhava, sem qualquer preocupação de coerência com os episódios anteriores, ou com os episódios seguintes, a história foi crescendo de forma orgânica, tendo com fio condutor a presença do Major Grubert, ou Major Fatal. Como o próprio autor refere: “Desenhava e sistematicamente escrevia continua. Era um acto surrealista. Dei-me conta que, para lá das aparências, o meu espirito funcionava com uma coerência muito particular. Aprendi a ter confiança naquela parte de mim à qual não tenho um verdadeiro e fácil acesso, mas que organiza as coisas de um modo mágico".
O resultado é uma obra surpreendentemente coerente, que sintetiza na perfeição o génio de Moebius, mostrando os diversos caminhos que o seu traço irá explorar. Um clássico incontornável, finalmente disponível em Portugal numa edição que lhe faz inteira justiça.
Publicado originalmente no jornal Público de 15/07/2016 e na revista Ipsílon de 22/07/2016
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