Sete anos depois da estreia nos cinemas de 300, o filme de Zack Snyder que adaptava a BD de Frank Miller sobre a batalha das Termópilas que opôs 300 guerreiros espartanos ao poderoso exército persa do Imperador Xerxes, chega às salas de cinema o filme 300: O início de um Império, desta vez com Zack Snyder, ocupado com a rodagem de O Homem de Aço, apenas como produtor, cedendo a realização a Noam Murro.
Embora decorra no mesmo universo de 300, este filme que estreou em Portugal no passado dia 6 de Março, não é exactamente uma sequela, nem uma prequela, embora partes do filme decorram tanto antes, como depois dos acontecimentos descritos em 300. Neste novo filme, a perspectiva é mais global e, em vez de se centrar num único combate, apresenta uma visão de conjunto das Guerras Médicas, os confrontos entre gregos e persas, de que a batalha das Termópilas foi um momento importante, mas não único.
Assim, a história de 300: O Início de um Império” começa em 490 A.C., com a batalha de Maratona e termina em 480 A.C. com a batalha de Salamina, em que a armada grega, comandada pelo general ateniense Temístocles derrota a frota persa de Xerxes. Temístocles é mesmo o protagonista deste filme, tal como Xerxes, cuja ascensão a Imperador/Deus dos Persas é explicada aqui. Mas quem rouba completamente o filme é Artemísia, uma mulher guerreira de origem grega interpretada por Eva Green, que comanda as tropas de Xerxes. Embora a Artemisia do filme seja uma vitima dos gregos, que a escravisaram e que um chefe Persa, transformou numa formidável guerreira, que vai ter um papel decisivo da transformação de Xerxes de príncipe herdeiro num Deus vivo, a Artemísia do filme é (vagamente) inspirada numa figura histórica. Uma nobre de ascendência grega, Artemísia I de Cária, que após a morte do marido assumiu o comando do Reino de Halicarnasso, que era aliado dos Persas e, nessa qualidade, participou na armada persa, comandando cinco navios do seu reino, tendo a sua corajosa actuação na batalha de Salamina sido elogiada pelo historiador Heródoto.
Não primando pelo rigor histórico, tal como o primeiro filme, este novo “300” é visualmente espectacular, com cenas de acção muito bem coreografadas e melhor filmadas, mas que depois do primeiro filme e da série “Spartacus” ter usado essa mesma estética quase à exaustão, já não surpreende minimamente o espectador. Do mesmo modo, Sullivan Stapleton, como Temístocles, não tem o carisma do Leónidas de Gerard Butler e a narração em voz off de Lena Headey (a famosa Cersei Lannister da série “Game of Thrones”, que regressa no papel de mulher do Rei espartano Leónidas, num papel bastante mais desenvolvido) que dá o enquadramento histórico da acção, é irritantemente explicativa e redundante para um público que não seja o público americano médio.
Mesmo assim, quem gostou do primeiro “300”, não deverá ficar desiludido com esta nova viagem estilizada à Antiguidade Clássica segundo Frank Miller. Muito especialmente graças ao desempenho carismático de Eva Green, a belíssima actriz francesa que irá regressar ao universo de Frank Miller ainda este Verão, no papel de Ava, a mulher fatal protagonista do segundo filme da série “Sin City”.
Quanto aos fãs de Frank Miller (se ainda os houver, depois de “Holy Terror” e do filme do “Spirit”..), resta esperar que o desenhador termine a mini-série “Xerxes”, que serviu de ponto de partida a este “300: o Início de um Império”, para se poder discutir se é melhor o filme, se o livro…
(“300: O Início de um Império”, de Noam Murro, com Rodrigo Santoro e Eva Green, Warner Bross/ Legendary Pictures, 2014. Em exibição em Coimbra nos cinemas Zon Lusomundo Dolce Vita e Fórum Coimbra)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 14 de Março de 2014
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