domingo, 20 de janeiro de 2013
Editoriais para a Colecção Heróis Marvel II - Parte 4: Wolverine: Arma X
E aqui está finalmente o último editorial que escrevi para a série II da Colecção Heróis Marvel. Trabalho que me deu grande prazer e o orgulho de ter o meu nome na ficha de três grandes livros (e um interessante) cuja edição fazia falta em Portugal.
BARRY WINDSOR-SMITH E AS GARRAS SELVAGENS DE WOLVERINE
DE TODOS OS AUTORES QUE TRABALHARAM COM A PERSONAGEM WOLVERINE, BARRY WINDSOR-SMITH FOI AQUELE QUE CONSEGUIU UM IMPACTO MAIOR COM UMA LIGAÇÃO MAIS CURTA AO MAIS POPULAR DOS MUTANTES DA MARVEL. ARMA X, A HISTÓRIA QUE DÁ TÍTULO A ESTE VOLUME, É DAS QUE TEVE MAIS INFLUÊNCIA, TANTO NO PASSADO COMO NO FUTURO DA PERSONAGEM.
Nascido em Inglaterra em 1949, Windsor-Smith estreou-se na Marvel no Verão de 1968, desenhando a capa e a história da revista X-Men # 53, publicada em Fevereiro de 1969. Embora tenham sido maioritariamente desenhadas em bancos de jardim, pois o artista - que acabaria por ser deportado para Inglaterra pouco depois por não ter autorização de residência -, tinha sido despejado do hotel onde vivia, dado não ter dinheiro para pagar a conta, o resultado final, em que eram notórias as influências de Jack Kirby, impressionou suficientemente o editor Roy Thomas, que lhe tinha arranjado esse trabalho. Ele escolheu Windsor-Smith, que na época assinava apenas Barry Smith, como desenhador da adaptação em Banda Desenhada das aventuras de Conan, o guerreiro bárbaro criado por Robert E. Howard na literatura. Embora mais elegante e felino do que o guerreiro selvagem e ameaçador que as ilustrações de Frank Frazetta para as reedições dos romances de Howard tinham definido junto do público, o Conan de Barry Smith foi muito bem recebido pelos leitores e, entre 1990 e 1993, Thomas e Smith tiveram oportunidade de adaptar a maioria dos contos de Howard em versões verdadeiramente memoráveis, onde é visível a rápida evolução do estilo de Smith, que se foi gradualmente libertando da influência do “King” Kirby, cujo trabalho o tinha levado a tornar-se autor de comics.
Tendo ganho outro estatuto graças ao seu trabalho com Conan, Smith, cada vez mais desiludido pela forma como a Marvel o tratava, acabou por se afastar aos poucos do mundo da Banda Desenhada, voltando-se mais para a ilustração e para a pintura, ao mesmo tempo que ilustradores como Arthur Rackham, Aubrey Beardsley e os pintores da Irmandade Pré-Rafaelita, como Edward Burne-Jones, John Everett Millais, ou Dante Gabriel Rossetti, substituíram Kirby como a principal influência. Se o seu trabalho em Conan já revela esta evolução estética, a incorporação do apelido da mãe, passando a assinar Barry Windsor-Smith (um apelido composto, como os da maioria dos membros da Irmandade Pré-Rafaelita) revela que essa influência, mais do que estética, era também filosófica. Mas Windsor-Smith não estava sozinho nesta tentativa de conciliar a Banda Desenhada com as Belas Artes. Tratava-se de um interesse partilhado por outros criadores, como Jeff Jones, Mike W. Kaluta e Bernie Wrightson, com quem Windsor-Smith formou o Studio, nome dado ao apartamento/atelier que os quatro artistas partilharam em Manhattan entre 1975 e 1979, e que serviu de título ao livro-catálogo que em 1979 recolheu os principais trabalhos produzidos pelos quatro autores durante esses anos e que incluía verdadeiras obras de arte, como as serigrafias de Windsor-Smith com Conan e as ilustrações de Bernie Wrightson para o Frankenstein de Mary W. Shelley.
Durante este período, Windsor-Smith afastou-se temporariamente dos comics, tendo criado a sua própria editora, a Gorblimey Press, para editar posters e serigrafias com ilustrações suas e de outros artistas. Mas o amor à Banda Desenhada acabou por falar mais forte e o regresso à Marvel far-se-ia em 1983, nas páginas da revista Epic Illustrated , seguindo-se durante o resto da década uma mini-série protagonizada pelo Machine Man e colaborações esporádicas nas revistas Marvel Fanfare, Daredevil e Uncanny X-Men . Foi no # 205 dessa última publicação, em 1986, que Windsor-Smith ilustrou e coloriu Lobo Ferido, a história de Chris Claremont protagonizada pelo Wolverine que completa este volume e que, não tendo directamente a ver com a história de Arma X, aborda temas como os implantes de Adamantium, o metal mais resistente do mundo, que revestem o esqueleto de Wolverine e que irão ser desenvolvidos em Arma X , a história incontornável com que Windsor-Smith vai deixar a sua marca na mitologia da personagem.
Ao contrário do que é habitual nos comics da Marvel, em que há uma rígida divisão de tarefas criativas, Arma X é uma história inteiramente criada por Windsor-Smith, que assegurou o argumento, o desenho a lápis, a passagem a tinta, as cores (pensadas tendo em conta os problemas de reprodução postos pelo tipo de papel usado nas revistas da época) e até parte da legendagem. O resultado é um trabalho que, embora tenha crescido de forma orgânica (o primeiro episódio que o artista inglês desenhou foi o que actualmente corresponde ao capítulo 5) é perfeitamente coerente e mostra um autor no perfeito domínio das suas capacidades. Se em termos narrativos e de planificação, o trabalho de Windsor-Smith está próximo do de Frank Miller na série Demolidor e no Regresso do Cavaleiro das Trevas, em termos estéticos consegue aliar a graça e elegância da pintura Pré-Rafaelita, com a visceralidade das mais sanguinárias aventuras de Conan, em páginas visualmente arrebatadoras e de uma beleza selvagem.
Publicada em treze capítulos, nos # 72 a 84 da revista Marvel Comics Presents, Arma X revela pela primeira vez aos leitores o processo de implantação do Adamantium no corpo de Wolverine e a sua transformação numa verdadeira arma viva, às mãos de um grupo de cientistas a trabalhar para o exército. Esses cientistas incluem um misterioso Professor, que retira um prazer sádico das experiências a que Wolverine é submetido e que, pela sua aparência pode ser visto como uma versão maléfica do Professor Xavier dos X Men e o Dr. Cornelius, numa provável homenagem à famosa personagem de Michael Moorcock que Moebius também homenageou na série A Garagem Hermética. Mas, deliberadamente, Windsor-Smith nunca explica quem está por trás das experiências que procuram transformar Logan na Arma X e a história levanta mais questões do que aquelas a que responde, tendo sido inúmeros os autores que nas décadas seguintes vão explorar os caminhos abertos por esta história, incluindo o próprio Barry Windsor-Smith.
Por exemplo, Grant Morrison, na série Novos X Men , publicada em Portugal pela Devir, irá estabelecer que a experiência que transformou Wolverine na Arma X, foi a décima num programa de criação de super-soldados, conhecido como o projecto Arma Mais e que foi iniciado nos anos 40 com a experiência que transformou Steve Rogers no Capitão América e que, assim, o X de Arma X, corresponde ao numeral romano que simboliza o número dez.
Mas o objectivo deste volume não é desvendar os mistérios da origem de Wolverine, que tanto contribuem para o fascínio da personagem, mas dar a descobrir aos leitores portugueses, pela primeira vez e em boas condições, o trabalho de Barry Windsor-Smith com o Wolverine, que das histórias, às capas e ilustrações este livro recolhe na íntegra.
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2 comentários:
"herois marvel - parte III" -> sff?
;)
hehehehe
Um dos que abordou o periodo pos Arma x foi Larry Hama,numa fase cujo 1 volume a Marvel vai reeditar em cores ainda este ano.
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