sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

BLAKE E MORTIMER: O FIM DA MALDIÇÃO


Precisamente um ano depois do 1º volume, eis que chega às livrarias a 2ª e última parte de “A Maldição dos Trinta Denários”, a mais recente aventura "apócrifa" de Blake e Mortimer, o duo de aventureiros britânicos criados por Edgar P. Jacobs.
A morte de René Steerne, quando tinha desenhado apenas as primeiras 29 páginas do primeiro volume “A Maldição dos Trinta Denários”, provocou um grande atraso na saída do álbum e levou a que se falasse numa espécie de maldição. Além disso, a sua mulher, a também desenhadora Chantal de Spiegeleer, que teve a ingrata (e emocionalmente muito dura) tarefa de terminar de desenhar a história, com resultados que se pressentem esforçados, mas que não são brilhantes, especialmente nas cenas de acção, também levou imenso tempo a acabar de desenhar a história, o que impediu a habitual rotatividade entre os álbuns escritos por Yves Sente e Jean Van-Hamme, com o álbum "O Santuário de Gondwana", da dupla Juillard/Sente, a ser publicado antes de "A Maldição dos trinta Denários", ao contrário do que estava inicialmente previsto.
Daí que se aguardasse com grande expectativa e igual temor, a saída deste segundo volume, anunciado para chegar às livrarias exactamente um ano depois do 1º volume, pois havia o receio que o desenhador escolhido para terminar a história, Antoine Aubin, um ilustrador vindo do cinema de animação e sem grande experiência prévia de BD (tinha apenas publicado uma história de 6 páginas num álbum colectivo) tivesse dificuldades em terminar o trabalho em tão curto espaço de tempo.
A verdade é que o conseguiu e com resultados gráficos bastante convincentes e, quanto a mim, bem superiores aos de René Sterne e da mulher no primeiro volume. Mas, para que tal fosse possível, foi absolutamente decisivo o contributo de Etienne Schréder (o nosso conhecido autor de "O Segredo de Coimbra") que, depois de ter ajudado Chantal De Spiegeleer no desenho dos cenários do 1º volume, passou a tinta os cenários das primeiras vinte e nove e páginas do 2º volume e, face à dificuldade de Aubin em cumprir os prazos, passou a tinta todo o resto do álbum, encarregando-se Aubin apenas do desenho a lápis. Um esforço, desta vez oficialmente reconhecido, pois o seu nome surge com toda a justiça na capa do livro, por baixo do de Antoine Aubin.
Quanto à história, cuja segunda parte se desenrola em grande parte em alto mar, por vontade do desenhador, revela, tal como os outros álbuns de Blake e Mortimer assinados por Van Hamme, uma grande eficácia narrativa, mas pouca chama. A cena final, com um toque fantástico, vem confirmar "O Mistério da Grande Pirâmide" como a principal fonte de inspiração de Van Hamme para esta aventura de Blake e Mortimer, que fica uns bons furos abaixo do seu modelo inspirador.
(“Blake e Mortimer: A Maldição dos Trinta Denários” Tomo 2, de J. Van Hamme, Antoine Aubin e Etienne Schréder, Edições Asa, 56 pags, 14,50 €.)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 18/12/2010

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