quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O Aniversário de Astérix e Obelix



Lançado simultaneamente nesta última quinta-feira, 22 de Outubro, em 18 países, com uma tiragem global de 3,5 milhões de exemplares, o álbum comemorativo do quinquagésimo aniversário de Astérix, já está também disponível nas livrarias portuguesas, com a chancela das Edições Asa, actual detentora dos direitos da série para Portugal, que fez um lançamento “à Harry Potter”, abrindo de propósito a FNAC do Centro Comercial Colombo às 0.0h de dia 22, para que os eventuais leitores que não conseguissem esperar, poderem comprar o livro em primeira mão.
Uma jogada de marketing que dá sempre notícia nos jornais e na televisão, mas que neste caso, tenho dúvidas que funcione em termos de vendas… Até porque, tendo em conta a fraquíssima qualidade de “O Céu cai-lhe em Cima da Cabeça”, o anterior título da série, havia (justificados) receios em relação a esta nova aventura de Astérix assinada por Uderzo, receios esses que este livro vem ajudar a dissipar, embora depois do momento deprimente que constituiu “O Céu cai-lhe em Cima da Cabeça”, fosse muito difícil fazer pior...
Objecto híbrido que é mais uma celebração de uma carreira impar de meio século de um dos mais populares personagens da BD franco-belga, do que uma história em sentido tradicional, este “O Aniversário de Astérix e Obélix” revela-se com uma forma bastante digna de comemorar a ocasião, mesmo que o livro todo não esteja à altura da ideia inicial de Uderzo de apresentar os heróis gauleses como efectivamente seriam, se a passagem tempo na Banda Desenhada, funcionasse como na vida real.
De qualquer modo, só pelo Guia Infectadus de Viagens, cujo texto ainda foi escrito por Goscinny, vale a pena ler o livro, que tem também momentos bastante conseguidos na sequência da Visita ao Museu do Astérix, em que, são feitas homenagens a vários clássicos da pintura, de Leonardo Da Vinci, a David e Munch, passando por Andy Warhol, sendo a homenagem a Arcimboldo a mais imaginativa e a que melhor funciona.



Comemoração de um percurso de extraordinário sucesso comercial (e também crítico, quando os argumentos eram assinados por Goscinny) este álbum assinala também um fim de um ciclo, sendo, muito provavelmente o último álbum assinado por Uderzo, que tem problemas físicos que o deverão impedir de continuar a desenhar. Mas, ao contrário do que aconteceu com o Tintin, que não sobreviveu à morte de Hergé, Astérix vai sobreviver aos seus criadores, pois Uderzo que, durante anos disse sempre que Astérix morreria com ele, acabou por recentemente mudar de ideias e vender parte dos direitos das personagens à Editora Hachette, que passou a deter 60% desses direitos, assumindo assim o controle da série.
Se já foi anunciado que o desenho de Astérix será assegurado por 3 dos assistentes de Uderzo, Régis Grébent e os irmãos Frédéric e Thierry Mébarki, a presença de Arleston (o argumentista da série “Lanfeust”) na conferência de imprensa de apresentação do novo livro, vem dar consistência aos rumores que o apontavam como o futuro argumentista da série.
A experiência de “Lucky Luke”, que melhorou claramente desde que Achdé e Gera tomaram conta dos destinos da série, abre boas perspectivas para a nova fase da vida de Astérix pós-Uderzo. Mas até lá, o momento é de comemorar os 50 anos da série, com este “Livro de Ouro”.
(“O Aniversário de Astérix e Obélix – O Livro de Ouro”, de Uderzo e Goscinny, Edições Asa, 56 pags, 12,00 €.)

(texto originalmente publicado no Diário As Beiras de 24/10/2009)

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