sexta-feira, 9 de março de 2018

Torpedo 1972

NÃO HÁ REFORMA PARA TORPEDO 

Torpedo 1972 – Vol. 6
Argumento – Enrique Sánchez Abulí
Desenhos – Eduardo Risso
Quinta, 08 de Março, Por + 11,90 €
Depois de, durante as últimas cinco semanas termos podido acompanhar na íntegra a série original de Torpedo 1936, a colecção dedicada a Luca Torelli encerra na próxima quinta-feira, dia 8 de Março, com Torpedo 1972. Uma nova etapa para o nosso gangster favorito, agora um sexagenário, desenhado já não por Jordi Bernet – cuja parceria com Abulí terminou por motivos já aqui explicados na semana passada - mas pelo nosso bem conhecido Eduardo Risso.
A razão para este inesperado regresso, explica-a Abulí de maneira bastante simples: “os anos passaram e como eu também envelheci um pouco, pareceu-me interessante imaginar como seria o Torpedo em velho. (…) A ideia surgiu-me há uns oito anos. Incluindo o título (A propósito do Mar Morto), que é como se refere um dos mafiosos a Torpedo, assegurando que “este está mais morto que o Mar Morto”. Trabalhei essa ideia até dar com este Torpedo envelhecido e com Parkinson. Por isso há que ter muito cuidado com o Mar Morto”.
E os anos passaram mesmo. Tanto na vida, como na série. Já não estamos em 1936, mas sim em 1972. Luca Torelli sofre de Parkinson, mas mantém o seu mau temperamento de outros tempos, e continua acompanhado pelo seu inseparável Rascal. Dois gangsters decrépitos, que carregam uma lenda negra e habitam agora num mundo muito diferente, o da década de 70. Quando um jornalista do Washington Post decide fazer uma reportagem sobre essa lenda viva do crime nova-iorquino e desenterrar o passado de Torpedo, acaba por descobrir à sua própria custa que há histórias que é melhor permanecerem enterradas e que desenterrar esta vai provocar muitos enterros...
Demos de novo a palavra a Abulí, para nos falar deste novo/velho Torpedo. “É um Torpedo que ganhou muitas coisas (rugas, quilos, experiência) e perdeu outras (reflexos, musculatura, força, agilidade) mas que conserva o seu famoso mau feitio. Sabem aquele dito da “erva ruim nunca morre”, pois isso pode aplicar-se ao Torpedo. Não aceita a idade que tem, acredita que continua em forma para se dedicar ao crime, mas na verdade já não tem, nem a força nem a presença. Já não é o mesmo. Mas segue em frente”.
Quem também não é o mesmo, é o desenhador. Risso cumpriu com brilho a ingrata tarefa de suceder a Bernet. E o argumentista não podia estar mais satisfeito com o resultado: “Adoro o desenho de Eduardo Risso, o que não tira mérito a Bernet. Acho que Risso é um dos melhores desenhadores do mundo, tal como Bernet. Gosto da maneira de Risso trabalhar, esquecendo-se das famosas seis vinhetas por página de Bernet, e fazendo as vinhetas entrar umas nas outras. É uma forma muito francesa de planificar as páginas. Mas o que mais me chama a atenção é a sua maravilhosa cor, que ele próprio dá e que contrasta com a ideia que temos todos do Torpedo a preto e branco. Confesso que sempre imaginei o Torpedo a preto e branco. Mas temos de ter em conta que os anos passaram e que já estamos em 1972. E os filmes, como O Padrinho, já são a cores. Por isso, este Torpedo tinha que ser a cores. E a cor de Risso é espectacular”.
Este espectacular regresso encerra com chave de ouro a edição integral em português da série Torpedo, mas não encerra a segunda vida de Luca Torelli, mais conhecido por Torpedo, pois Abulí e Risso já estão a trabalhar num segundo álbum do velho Torpedo, que contam terminar ainda em 2018.
Publicado originalmente no jornal Público de 03/03/2018

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