Mesmo que o filme já não esteja em exibição nas salas de cinema nacionais, é sempre tempo de falar do último filme de Quentin Tarantino, até porque o DVD não deve tardar muito e o realizador fez 50 anos esta semana. Depois dos filmes de artes marciais em Kill Bill e do filme de guerra em Sacanas sem Lei, Tarantino homenageia outro dos seus géneros favoritos, o Western spaguetti, em Django Unchained. Se as referências ao Western Spaguetti já eram habituais na sua obra (veja-se a sequência inicial de Sacanas sem Lei, ou a 2ª parte de Kill Bill, para não falar na utilização frequente da música de Ennio Moricone), desta vez Tarantino parte de um título mítico do Western Spaguetti, o Django de Sergio Corbucci, de 1966, para fazer um remake bastante pessoal, que pouco mais retém do filme original que o tema da vingança, a música do genérico, o nome do protagonista e a presença de Franco Nero, o Django original, que tem uma pequena participação no filme de Tarantino, perguntando a Jamie Fox se este sabe como se soletra o nome Django.
Embora muito menos conhecido que o outro Sérgio (Leone), Corbucci foi um excelente realizador de cinema, com uma vasta carreira como realizador que inclui, para além de Django, outro Western Spaguetti seminal, O Grande Silêncio, que serviu de inspiração directa à série de BD Durango, de Yves Swolf, e que Tarantino também homenageia nas cenas na neve do seu Django Unchained. O sucesso do filme Django foi tal que o nome do herói foi usado em centenas de outras produções, nem sequer todas Westerns, para capitalizar essa popularidade e na Alemanha,no final dos anos 60, todos os filmes interpretados por Franco Nero, o actor que faz de Django, tinham uma referência a Django no título. O próprio Tarantino participa como actor num delirante Django japonês (Sukiyaki Western Django) realizado pelo infatigável Takashi Miike em 2007.
Ao contrário dos Western Spaguetti tradicionais, filmados na sua maioria em Almeria, no sul de Espanha, o filme de Tarantino tem a Louisiana como cenário principal de uma história que tem a escravatura como tema dominante, pois o Django de Tarantino é um escravo negro libertado por um caçador de prémios, magnificamente interpretado por Cristoph Waltz, num papel que lhe valeu mais um Óscar de Melhor Actor Secundário, depois do Óscar em Sacanas sem Lei. Mas Waltz não é único actor a brilhar a grande altura, pois também Samuel L. Jackson está fantástico no papel do "negro mais odioso da história do cinema" e Leonardo Di Caprio é perfeito como Calvin Candie, o dono da fazenda que comprou Broomhilda, a mulher de Django.
Mas desta vez o público vai poder descobrir o argumento de Tarantino na íntegra, incluindo alguns diálogos cortados, que estão no CD da banda sonora original, graças à mini-série da Vertigo desenhada por R.M. Guera que adapta o premiado guião de Tarantino à BD, de que já sairam nos EUA os 2 primeiros números, dos 5 previstos. Uma ideia do produtor Reginald Hudlin, responsável pela adaptação do argumento, que permitiu a Tarantino estrear-se na BD, ao lado do sérvio R. M. Guera, o desenhador de Scalped, um western contemporâneo escrito por Jason Aaron, de que Tarantino, que descobriu a série da Vertigo por sugestão de Samuel L. Jackson, é fã incondicional. . Curiosamente, embora esta seja a primeira vez que um argumento de Tarantino é adaptado ao cinema, Guéra já tinha ilustrado um argumento de Tarantino numa história curta baseada numa cena do filme Sacanas sem Lei, publicada na revista Playboy.
Para terminar deixo-vos com três traillers. O do filme de Tarantino, o do Django original de Corbucci e o do filme de Takashi Miike.